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Pesquisadores Chineses revelam técnica para rastrear navios de guerra dos EUA usando imagens de satélite de baixa resolução disponíveis gratuitamente

por Jefferson S Publicado em 17/07/2024
Pesquisadores Chineses revelam técnica para rastrear navios de guerra dos EUA usando imagens de satélite de baixa resolução disponíveis gratuitamente

Pesquisadores navais chineses anunciaram uma nova técnica que permite identificar e rastrear navios de guerra dos Estados Unidos utilizando imagens de satélite de baixa resolução, que são gratuitas e acessíveis ao público. Essa descoberta pode mudar significativamente a dinâmica da vigilância naval global.

A equipe, liderada por Hong Jun da Academia Naval de Dalian, utilizou fotos de satélite com resolução que pode variar de dezenas a centenas de metros, o que normalmente faria com que grandes navios ocupassem apenas um pixel ou menos, tornando-os invisíveis a olho nu. No entanto, os cientistas conseguiram identificar um porta-aviões da classe Nimitz, um cruzador da classe Ticonderoga e um destróier da classe Arleigh Burke a partir dessas imagens.

A metodologia dos pesquisadores se concentra na análise das ondas deixadas pelos navios, um técnica simples que pode ser empregada por qualquer país ou organização. Diferentes tipos de navios criam padrões de ondas distintos na superfície do mar, semelhantes a impressões digitais. A identificação precisa de modelos específicos de navios de guerra dos EUA requer o uso de parâmetros físicos sensíveis.

Em um artigo revisado por pares, publicado na revista acadêmica chinesa “Computer Simulation” em abril, Hong e seus colaboradores da Academia de Submarinos da Marinha divulgaram esses parâmetros físicos. Usando esses parâmetros e o algoritmo descrito no artigo, “é possível basicamente identificar o modelo do navio de guerra alvo sob certas condições”, escreveram os pesquisadores.

Os Estados Unidos possuem a maior frota naval do mundo, mas muitos de seus navios são construídos com tecnologias e conceitos da era da Guerra Fria. Tecnologias emergentes nos últimos anos permitiram que muitos países adquirissem a capacidade de atacar a frota dos EUA. Por exemplo, os Houthis no Iêmen usaram drones e mísseis balísticos antinavio para lançar ataques repetidos ao porta-aviões USS Dwight D. Eisenhower antes de o grupo de combate deixar o Mar Vermelho no mês passado. Embora esses ataques tenham pressionado os oficiais e soldados militares dos EUA, não há evidências diretas de que os Houthis tenham atingido um navio de guerra dos EUA.

Inteligência precisa e oportuna é uma condição necessária para atingir um navio de guerra em movimento a centenas de quilômetros de distância. Nos últimos anos, a China estabeleceu uma vasta rede de satélites de observação da Terra. Segundo relatórios da mídia estatal, os dados revelados pelo Professor Li Deren, que recebeu o mais alto prêmio de ciência e tecnologia do país este ano, indicam que a resolução desses satélites pode chegar a 0,1 metro (4 polegadas), equivalente à dos satélites espiões americanos Keyhole.

Os poderosos satélites da China não monitoram apenas navios de guerra, mas também rastreiam jatos furtivos F-22 de alta velocidade através das nuvens. No entanto, para países ou organizações sem essas capacidades, existem plataformas que fornecem imagens de satélite quase em tempo real gratuitamente, embora com resolução relativamente baixa.

Por exemplo, o Worldview da Nasa possui uma resolução de 250 metros (820 pés) – a área correspondente a um único pixel excede o convés do porta-aviões da classe Ford dos EUA, o maior da marinha americana. No entanto, o rastro de um navio pode se estender por até dezenas de quilômetros. Para Hong e seus colegas, mesmo as fotos de satélite mais borradas podem conter informações úteis para identificar navios.

Um dos desafios enfrentados pelos cientistas foi como extrair informações úteis do ruído ambiental, com nuvens e ondas frequentemente obscurecendo as principais características do rastro de um navio de guerra. Os pesquisadores chineses detalharam em seu artigo como eliminar essas interferências e permitir que os computadores detectem rapidamente os alvos de interesse.

Contudo, eles alertaram que o método pode falhar quando o alvo estiver se movendo a mais de 20 nós (23 mph, 37 km/h). Além disso, “sob a influência de ventos e ondas fortes, a relação de superposição linear e não linear entre as ondas do mar e os rastros dos navios pode afetar significativamente os resultados”. “Esse método ainda precisa ser testado e refinado com uma grande quantidade de dados reais”, afirmaram.

Essa nova abordagem chinesa pode revolucionar a vigilância naval, tornando possível para diversas nações monitorar movimentos navais com recursos limitados, alterando o equilíbrio de poder nas águas internacionais.

Fonte: South China Morning Post

Jefferson S

Jefferson S

Ex-militar das Forças Armadas com experiência em Gestão do Conhecimento e Inteligência Competitiva (Sebrae-RJ) e certificado como especialista de investimentos pela ANCORD, tendo atuado nos maiores escritórios da XP investimentos. Analiso e produzo conteúdos para a internet desde 2025, meu primeiro blog foi o "bizu de militar", onde passava dicas para os recrutas no Exército. Atuo na Sociedade Militar trazendo análises e conteúdos relacionados a Geopolítica, Tecnologia militar, Industria de Defesa e Inteligência Artificial.