Como consequência de um texto publicado no próprio blog do Exército Brasileiro, o general Richard Nunes acabou virando manchete em vários sites do país. O oficial, que comandou a Comunicação Social do Exército, em um texto por ele batizado de “O Mundo PSIC e a Ética Militar”, construiu uma crítica pesada contra seus companheiros militares que, em suas palavras, “têm contribuído para disseminar a desinformação, a relativização de valores e, consequentemente, a desunião que enfraquece o espírito de corpo”. Ele questiona sobre “a que interesses servem tais pessoas”.
Richard Nunes fez também pesadas críticas contra a disseminação precipitada de “análises simplórias de ‘especialistas’ de ocasião”, e diz ainda que um “militar que se preza não se permite essa falta de cuidado e de lealdade para com a instituição a que serve”. Obviamente, o oficial se refere aos muitos textos e vídeos que circularam na internet. Muitos youtubers, alguns no Brasil e outros morando no exterior, alegavam que possuíam informações precisas e de fontes confiáveis. Vários davam como certa uma ação militar que afastaria Lula do Palácio do Planalto e muitos deles seguidamente diziam que bastava que os militantes de direita permanecessem mais 72 horas acampados na frente dos quartéis para que as Forças Armadas implementassem a solicitada ‘intervenção militar’.
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Clique aqui para entrar“A superficialidade é outro aspecto dissonante do comportamento ético. A atividade militar é, por natureza, grave e complexa. Em tempos de paz ou de conflito armado, lida-se com o poder dissuasório da Nação. Soluções simples para problemas complexos não são a regra. Tratar o emprego do Exército com base em análises simplórias de “especialistas” de ocasião, é o caminho mais seguro para se chegar a concepções inoportunas, parciais e ineficazes, o que é inadmissível por quem quer que tenha um mínimo de seriedade no processo de tomada de decisão. Quando um militar extrapola a esfera de suas atribuições, e passa a opinar publicamente sobre o que não é de sua competência, contribui para o descrédito na cadeia de comando e no cumprimento da missão.”
Richard, conforme mencionado em texto publicado aqui na Revista Sociedade Militar criticou o “comportamento de muitos civis e militares”, mas terminou suas críticas por aí. O oficial não tocou em questões importantes envolvendo as instituições, como a demora do Exército em deixar bem claro para a sociedade civil que não havia possibilidade de aderir a qualquer ação para cancelar as eleições ou para manter Bolsonaro no poder, o que permitiu que a chama da intervenção militar se mantivesse acesa. Não falou também sobre as ações e declarações do comando do Exército e Ministério da Defesa sobre as urnas eletrônicas, feitas no final de 2022, quando em textos considerados dúbios, as autoridades acabaram dando abertura para interpretações diversas, algumas delas apontando para o apoio das instituições aos atos ocorridos em todo o país na frente de quartéis.
Por meio de um decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 10 de abril de 2023, o general Richard Nunes foi exonerado e não comanda mais o Exército brasileiro na região Nordeste do país.
O general passa a exercer um cargo no departamento de educação e cultura do Exército brasileiro. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso XIII, da Constituição, resolve: NOMEAR, por necessidade do serviço, no âmbito do Comando do Exército, General de Exército Richard Fernandez Nunes, para exercer o cargo de Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército, ficando exonerado, ex-officio, do cargo de Comandante Militar do Nordeste.