Nos últimos anos, a América Latina tem sido palco de uma série de desenvolvimentos geopolíticos que têm chamado a atenção de observadores militares e civis em todo o mundo. Uma das questões mais discutidas é a crescente influência da Rússia na região, particularmente em países como a Nicarágua e Venezuela.
Militares americanos estão cada vez mais preocupados com a união entre Rússia e Nicarágua, com o objetivo de influenciar a opinião na região. A inquietação, é compreensível e percebe-se claras tentativas de influenciar o pensamento de militares locais a pelo menos meditar sobre o tema. Entretanto, as forças armadas de nações independentes possuem compreensão mais profunda das consequências das relações que estabelecem e definitivamente não dão pistas de que enxergam os russos ou os chineses como ameaças à soberania de seus países. Muito pelo contrário, segundo se percebe, reivindicam a autoridade de seus países para decidir sobre as relações estabelecidas.
A preocupação parece emanar principalmente dos EUA, que temem a projeção de poder militar russo ou chinês na área e os riscos associados, como a neutralização de armas norte-americanas e interferência nas comunicações.
A “Revista Diálogo Américas”, uma publicação gerenciada pelo SOUTHCOM, comando militar do Sul, sediado nos Estados Unidos, que tem focado sua pauta no combate à influência da China e da Rússia na América Latina em um dos artigos mais recentes diz em seu título que “Nicarágua afirma aliança com Rússia para ampliar desinformação”.
No artigo mencionado, na revista Diálogos Américas, JULIETA PELCASTRE aprofunda-se em discorrer sobre a parceria entre o meio de comunicação estatal russo Russia Today (RT) e o regime de Daniel Ortega-Rosario Murillo na Nicarágua.
“A parceria entre RT e o regime da Nicarágua avançou com um programa de capacitação de cinco dias em Manágua, a capital nicaraguense, para a mídia afiliada ao Conselho de Comunicação e Cidadania da Nicarágua, sendo a terceira abordagem de RT no país, informou a plataforma alemã DW, em 11 de julho.O Conselho reúne aproximadamente 20 plataformas, canais de televisão e estações de rádio em território nicaraguense, muitos deles de propriedade dos Ortega-Murillo, indica a plataforma argentina Infobae.”
Pelcastre destaca que RT seria financiada por Moscou e que promove desinformação e propaganda alinhadas aos objetivos do Kremlin. Ele também ressalta a preocupação crescente com a estratégia da Rússia de expandir sua mídia na América Latina, uma vez que isso pode ameaçar a liberdade de imprensa e os direitos humanos na região.
A autora conta que essa cadeia de interesses foi estabelecida em dezembro de 2022, quando o regime nicaraguense, por meio do Conselho acima mencionado, assinou um memorando de entendimento com RT en Español, para “colaborar na busca constante da verdade”, conforme mencionado pela mídia oficial nicaraguense El 19 Digital.
“ A combinação russa adquirida pela ditadura nicaraguense inclui estações de satélite, programas de capacitação para jornalistas afiliados e acordos destinados a exercer o controle sobre o uso de tecnologias de comunicação, ressaltou Infobae.
RT e Sputnik, financiadas por Moscou, promovem desinformação e propaganda para os objetivos do Kremlin. Além disso, colaboram com outros elementos do ecossistema para ampliar o conteúdo falso e disseminar a desinformação cibernética, afirma na internet o Departamento de Estado dos EUA.”
Pelcastre termina reivindicando o direito da sociedade no que diz respeito ao acesso a informações verdadeiras e confiáveis.
“ De 2018 a junho de 2023, um total de 208 jornalistas, comunicadores e profissionais de mídia na Nicarágua foram forçados ao exílio devido a assédio, ameaças de prisão e agressões, principalmente perpetradas por policiais, informou a plataforma norte-americana CNN. Mais de 50 meios de comunicação foram confiscados pelo regime de Ortega-Murillo, de acordo com o diário nicaraguense Prensa Libre.
Quanto a possíveis medidas para neutralizar o impacto negativo dessas colaborações entre RT e a ditadura nicaraguense, vários especialistas estão analisando a legislação vigente na América Latina para proteger a opinião pública da manipulação de informações e da deterioração da qualidade das informações, disse Rouvinsky.
Nesse contexto, “o acesso a informações verdadeiras é um direito humano fundamental. Nesse sentido, o fortalecimento desse direito surge como um caminho viável para o progresso. Um aspecto crucial dessa medida é aumentar a conscientização coletiva sobre a verdadeira natureza e a transcendência da mídia, incluindo parcerias como a que existe entre RT e Nicarágua”, concluiu Rouvinsky.”
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar