Um estudo publicado na Revista da Escola Superior de Guerra traça um panorama da política externa realizada pelos mandatários brasileiros a partir de Fernando Henrique Cardoso. O texto destaca a gestão de Jair Bolsonaro como a mais complicada.
Ao longo das últimas décadas, aponta o texto, os presidentes brasileiros moldaram a política externa de acordo com suas visões e prioridades, influenciando não apenas as relações bilaterais, mas também a posição global do Brasil. Uma das questões inicialmente colocadas é exatamente a quebra do monopólio histórico do Itamaraty na formulação de políticas externas. Embora o órgão seja tradicionalmente visto como o guardião dessa prerrogativa, o texto destaca a crescente influência de diferentes atores, principalmente os presidentes, na construção da agenda internacional do Brasil.
Os autores do artigo relatam que a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado chegou a expressar descontentamento com o suposto monopólio dos presidentes da república na questão das relações exteriores, sugerindo uma dinâmica em transformação.
Uma análise das ações dos presidentes a partir de FHC, segundo o artigo na ESG
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Clique aqui para seguirFernando Henrique Cardoso (FHC) – O período FHC é caracterizado por uma visão globalizada e estratégica para a política externa brasileira. FHC, um acadêmico respeitado, compreendeu a importância das relações internacionais para a estabilidade econômica. O estudo destaca sua habilidade em posicionar o Brasil como líder discreto na América do Sul, proporcionando uma plataforma para Lula desenvolver sua política externa Sul-Sul.
Luís Inácio Lula da Silva (Lula) – Lula, por sua vez, e mencionado como alguém que aprofundou o redirecionamento promovido por FHC, enfatizando relações com o mundo não ocidental. O texto menciona críticas sobre uma suposta “ideologização” da política externa de Lula. De fato Lula foi acusado de estreitar relações com países considerados “comunistas” ou de dar preferência àqueles governados por líderes posicionados à esquerda do espectro político.
“Uma série de decisões pareceram reforçar o argumento defendido pelos críticos de política externa de Lula. Por exemplo, sob Lula, o Brasil parecia recuar na defesa contundente do fortalecimento democrático na América do Sul, às vezes parecendo apoiar seu enfraquecimento ao manter-se calado enquanto o espaço para discursos políticos era reduzido em países como Bolívia, Equador e Venezuela.”
O artigo deixa claro que os autores enxergam Lula como possuidor de uma visão pragmática de fortalecer as relações comerciais em mercados emergentes e diz que foi um dos grandes responsáveis por transformar a política externa em um instrumento estratégico para impulsionar o crescimento econômico.
“Lula previu – e o que realmente parece ter importado – que o crescimento brasileiro dependeria de oportunidades de comércio e investimento nos mercados emergentes, dado que os mercados ocidentais provavelmente permaneceriam em grande parte fechados para os maiores setores exportadores brasileiros.”
Dilma Rousseff – Ressaltando as limitações de Dilma Rousseff, que teria enfrentado desafios internos e cortes orçamentários durante seu mandato, o texto publicado pela ESG menciona uma abordagem tecnocrática e focada na política doméstica que resultou em inércia e falta de inovação na política externa. O texto destaca as dificuldades de Dilma em construir uma coalizão eficaz.
“…, a abordagem de Dilma à política externa se limitou a cumprir os requisitos constitucionais e permitir que o Itamaraty continuasse como estava. Pouca atenção foi dada à inovação ou sugestão de novas direções políticas”
Jair Messias Bolsonaro – Bolsonaro é o mais criticado, apontando como artífice de uma política externa caracterizada por fracassos. “acumulou ao longo de quatro anos uma série de fracassos em sua política externa”, diz o artigo.
O estudo destaca a quebra de paradigmas e a ênfase em aspectos econômicos, mas ressalta a falta de distinção clara entre política interna e externa. A demissão de Ernesto Araújo, segundo os autores trouxe alguma organização, mas a subserviência aos EUA e a falta de uma visão estratégica são apontados como problemas críticos.
“Até março de 2021, quando o ex-ministro Ernesto Araújo foi demitido da pasta, a política externa brasileira se resumia a um sistemático desmantelamento do que FHC e Lula conquistaram para o país nas últimas duas décadas: um perfil de mediador confiável, negociador habilidoso e uma voz em potencial para o mundo não Ocidental. Desde então, com Carlos França à frente do Itamaraty, menos bizarrice e algum tom de organização…”
Segundo Fabrício H. Chagas-Bastos (Doutor em relações internacionais) e Sean Burges (Doutor em Ciência Política e Relações Internacionais), autores do texto publicado pela ESG, o governo Bolsonaro se ateve de forma ininterrupta a tentar convencer a sociedade que “antigos paradigmas de políticas públicas estavam ultrapassados e precisavam ser quebrados para implementar políticas “pragmáticas” e “livre de aspecto ideológico”.
O texto publicado na Revista da Escola Superior de Guerra em sua edição de dezembro de 2022 fornece uma visão interessante e abrangente das diferentes abordagens na política externa brasileira e fica claro que para os autores o último presidente, Jair Bolsonaro, teria sido o grande fracasso no quesito política externa.