O Exército Brasileiro divulgou internamente um documento de análise estratégica que aponta, entre outros fatores, em direção a crescente preocupação com a segurança informacional e a integridade dos oficiais e praças diante da universalização do acesso à informação.
Intitulado “Conceito Operacional do Exército Brasileiro: Operações de Convergência 2040“, assinado por um General de Exército, o documento destaca a dualidade da era digital, que, ao mesmo tempo em que oferece muitas oportunidades para aprimoramento da comunicação estratégica da força terrestre e conscientização da sociedade sobre defesa nacional, também escancara portas para ameaças significativas, incluindo a manipulação de militares do próprio Exército Brasileiro através de informações falsas e maliciosas.
Manipulação de militares
Segundo o documento, a facilidade de acesso a quase qualquer tipo de informação na web e o uso indiscriminado de redes sociais, tanto em contextos normais quanto durante operações militares, são vistos como potenciais vetores para operações psicológicas adversas. Essas operações visam manipular o pessoal militar, provocando desânimo, emoções prejudiciais, ou incitando ações contrárias aos interesses da defesa nacional, através da disseminação de conteúdo falso ou mal-intencionado.
O documento também menciona o conceito de “guerra em zona cinzenta” (grey zone), caracterizado pelo estabelecimento de conflitos abaixo do limiar da guerra convencional, onde a supramencionada manipulação da informação desempenha um papel crucial.
O “Conceito Operacional: Operações de Convergência 2040”, nesse momento, sob o comando do General de Exército Tomás Miguel Miné, em que o Exército enfrenta uma crise de popularidade, enfatiza a importância de incrementar a relevância da comunicação estratégica, bem como de aperfeiçoar o recrutamento de recursos humanos para as Forças Armadas, visando fortalecer a defesa nacional contra essas ameaças emergentes.
Sociedade com visão desvanecida sobre defesa nacional
Ao mesmo tempo, a força busca conscientizar tanto o segmento político quanto a sociedade sobre a relevância da participação de todos na defesa do país. Os militares enxergam a sociedade como carente de entendimento do que realmente são as ameaças contra o país.
“A carência de percepção da população brasileira acerca de atores, circunstâncias e cenários que possam se configurar em ameaças ao Estado, após um longo período livre de conflitos externos, é um fator crítico a ser considerado. Essa percepção torna-se ainda mais desvanecida, em função da natureza difusa de tais ameaças potenciais”