O militarismo tem algumas peculiaridades e, sem dúvida, além do fascínio pelas armas e fardas, uma das coisas que mais chama a atenção é a maneira pela qual os militares se cumprimentam. A famosa continência militar.
Mas, afinal, qual é a origem da continência militar?
O objetivo da continência era saudar o soberano da nação, e isso acontecia sempre antes de grandes batalhas de cavaleiros.
Tudo começou na Idade Média, quando os cavaleiros, antes de participarem de duelos ou irem para os confrontos trajando suas robustas armaduras, cumprimentavam o rei.
Como eles utilizavam o Elmo, uma espécie de capacete medieval, precisavam levantar a viseira para que sua majestade olhasse seus rostos. Um sinal de respeito ao soberano.
Nessa saudação, os guerreiros faziam um reverência ao rei erguendo com a ponta dos dedos da mão direita a viseira do elmo (capacete), que fazia parte da armadura enquanto mantinha a mão esquerda nas rédeas dos cavalos.
Além disso, esse movimento deveria ser feito com a mão direita, já que era a mão que empunhava a espada. De certa maneira, um gesto simbólico de paz, uma vez que a mão desarmada dificilmente seria utilizada para uma ação hostil.
Com o tempo esse ato foi se tornando cada vez mais comum e não apenas praticado diante dos reis, mas também entre os demais integrantes do exército.
O ato de levar a mão à testa passou a representar um cumprimento respeitoso e amigável, além de ser visto como um tipo de senha entre soldados.
Até os dias de hoje, os militares fazem a saudação da continência de maneira diferenciada em vários países.
A continência é impessoal e visa à autoridade e não à pessoa. Ela parte sempre do militar de menor precedência hierárquica e, em igualdade de posto ou graduação, quando ocorrer dúvida sobre qual seja o de menor precedência, deve ser executada simultaneamente.
SUBORDINAÇÃO, NÃO SUBMISSÃO
Apesar de essa reverência ser comum entre as organizações militares de todo o mundo, algumas forças tem ou tiveram maneiras particulares de realizar a continência.
A Alemanha nazista, por exemplo, era famosa pelo vibrante “Heil, Hitler”, proferido enquanto o braço direito era estendido para o alto.
A iniciativa de prestar continência deve partir sempre do militar de patente inferior e deve ser obrigatoriamente respondida pelo superior hierárquico ao qual é dirigida.
Talvez por isso – como em tudo na humanidade – algumas pessoas confundam esse nobre gesto com afirmação de superioridade ou mesmo com submissão pura e simples.
Sobre como a continência é um gesto não apenas de cortesia, mas simbólico do equilíbrio hierárquico, e que transcende o mero salamaleque social, reproduzimos aqui uma historieta que campeia em todos os quartéis do Brasil.
CRÉDITO E DÉBITO
“O soldado desatento passou pelo capitão e não o cumprimentou da maneira correta., isto é, não prestou-lhe a continência prevista.
Imediatamente o oficial, aos berros, chamou a atenção do soldado e exigiu que ele lhe prestasse continência 50 vezes seguidas. Dessa maneira – acreditava o capitão – o subordinado aprenderia a lição e não cometeria novamente esse ato de insubordinação.
Obedientemente assim fez o soldado, seguidamente movimentando seu braço direito enquanto o capitão realizava a contagem.
Um pouco mais afastado, um coronel observava tranquilamente o desfecho da cena. Ao final das 50 continências, o coronel se aproxima e intervém:
– Capitão, vi que o soldado prestou 50 continências para o senhor.
– Sim, senhor, coronel.
– Pois bem, é seu dever retribuí-las.”