Pouco depois do batismo do submarino Toneleiro, nessa quarta-feira, 27 de março de 2024, feito da forma tradicional, com a primeira dama quebrando uma garrafa de champanhe, o discurso do presidente Lula surpreendeu pelo tom apaziguador direcionado aos militares. A apenas 3 dias do 31 de março Lula não disse sequer uma palavra que remeta ao significado que a data tem para ambos os lados do espectro político no país.
O conteúdo exposto pelo Presidente da República se encaixou exatamente dentro do que os oficiais generais das três Forças Armadas desejavam ouvir: reaparelhamento, valorização dos militares e necessidade de se preparar para a guerra com vistas a manter a paz. Lula brincou bastante com o almirante Olsen, comandante da Marinha, a ponto de o chamar de “meu querido Olsen” e dizer que por causa dele não beberam o champanha do batismo do submarino. O presidente, assistido de perto por centenas de militares da ativa e reserva presentes, incluindo os últimos comandantes da Marinha do Brasil, homenageou também o almirante de esquadra na reserva Alfredo Karam, que foi Ministro da Marinha ainda durante o regime militar, no governo de João Batista Figueiredo. Karan completa 99 anos de idade essa semana.
Transcrição de trechos do discurso do presidente Lula em 27 de março de 2024
“ nosso querido Olsen, comandante da Marinha, em nome dele cumprimentar todas as pessoas da Marinha que estão aqui e cumprimentar o ex-ministro Karan… eu queria, sobretudo para a imprensa francesa, elucidar um pouco da importância dessa ideia do Brasil de adotar uma estratégia de defesa. O Brasil é um país com 16.800 km de fronteira seca e uma fronteira marítima de 8.500 km, fazendo fronteira com todo o continente africano. Aqui, tratamos o Oceano Atlântico como se fosse um Rio Atlântico porque fazemos fronteira com todo o continente africano.
E nós temos que nos preocupar com a nossa defesa, não porque queremos guerra, mas porque a defesa é para quem quer paz. Num continente que já definiu, em todas as reuniões da CELAC, que vamos continuar na América Latina e América do Sul sendo uma zona de paz, um país que quer se proteger e continuar a soberania do seu povo tem que se preocupar com seu espaço aéreo, sua riqueza mineral, a riqueza do solo e do subsolo, e a riqueza do mar, mas sobretudo temos que nos preocupar com a tranquilidade de 203 milhões de brasileiros que moram neste país e nos preocupar com a tranquilidade que nós proporcionamos ao planeta Terra.
Hoje, sabemos que existe um problema muito sério de animosidade contra o processo democrático desse país e do planeta Terra, e sabemos que a parceria que a França está construindo conosco é uma parceria que permitirá que dois países importantes, cada um em seu continente, se preparem para conviver com essa diversidade sem se preocupar com qualquer tipo de guerra, porque somos defensores da paz em todo e qualquer momento da nossa história.
Quero dizer, Presidente Macron, que saia do Brasil sabendo que o povo brasileiro gosta do povo francês, e eu tenho certeza que o povo francês gosta do povo brasileiro. Temos que aproveitar essa amizade, esse entendimento, para fortalecer os dois países, para que possamos trocar nossos conhecimentos científicos e tecnológicos, para que possamos produzir uma inteligência artificial do bem, e não uma inteligência artificial do mal; uma inteligência artificial para ajudar a cuidar da saúde, para ajudar a cuidar do povo pobre, para melhorar a descarbonização do planeta Terra, e não uma inteligência artificial para contar fake news todo santo dia aos ouvidos e aos olhos de bilhões de seres humanos.
Quando nos encontrarmos amanhã em Brasília, nós vamos firmar, possivelmente, a maior quantidade de acordos que Brasil e França já firmaram. Queria, querido amigo Presidente Macron, que quando terminar a nossa conversa amanhã, volte para a França e diga aos franceses que o Brasil está querendo os conhecimentos da tecnologia nuclear não para fazer guerra. Nós queremos ter o conhecimento para garantir a todos os países que querem paz, que saibam que o Brasil estará ao lado de todos, porque a guerra não constrói, a guerra destrói. O que constrói é desenvolvimento, é conhecimento científico, é conhecimento tecnológico, e é nessa área que nós queremos fortalecer a nossa parceria com o povo francês. Muito obrigado pela sua presença aqui.
Parabéns à Marinha Brasileira, pelo trabalho dos ex-comandantes, e tenho certeza que esse carinho que nós temos com a Marinha, nós temos com a Força Aérea Brasileira, com a Aeronáutica, e nós temos com o Exército Brasileiro, porque um país do tamanho do Brasil precisa ter forças armadas altamente qualificadas, altamente preparadas a ponto de dar resposta de garantir a paz quando o nosso país precisar.”