O relatório final do inquérito da Polícia Federal (PF) sobre os assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, mostra que o estopim para o crime pode ter sido uma disputa política em torno de um projeto de regularização fundiária.
Neste domingo (24), os irmãos Domingos, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e Chiquinho Brazão, deputado federal, foram presos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) como suspeitos de serem os mandantes do crime.
A principal hipótese de motivação para o crime seria, segundo a PF, uma indisposição dos irmãos, políticos de longa trajetória no Rio de Janeiro, com políticos do PSOL, em especial com Marielle.
Antes do crime, o partido havia se posicionado, por exemplo, contra a indicação do então deputado estadual Domingos Brazão ao TCE.
O estopim para que a decisão de assassinar Marielle fosse tomada, no entanto, pode ter sido uma disputa política em torno de um projeto de Chiquinho Brazão, em 2017, quando ainda era vereador e, portanto, colega da vítima na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
De acordo com o relatório da PF, Chiquinho teria ficado insatisfeito com a votação contrária de Marielle e do PSOL a um projeto de Brazão que envolvia a regularização de terras, o que, segundo a PF, beneficiaria áreas de milícia.
O relatório da PF ressalta que invasão e “grilagem” de terras são atividades intrínsecas “à atuação das milícias em geral”. O inquérito também aponta que áreas de milícia como Rio das Pedras e outras comunidades da zona oeste da cidade, seriam redutos eleitorais da família Brazão.
O relatório ressalta que a atuação de Chiquinho Brazão na Câmara Municipal seria pautada por “legislações questionáveis acerca de questões fundiárias e favorecimento a ocupações irregulares”.
NEGÓCIOS À PARTE
Segundo informações retiradas da entrevista dada pelo general Richard Nunes ao jornalista Fábio Victor, da Folha de SP, o militar se disse “perplexo” ao saber da prisão do delegado Rivaldo Barbosa.
À época dos fatos, o general Richard Fernandez Nunes era Secretário de Segurança Pública do RJ, e nomeou Rivaldo Barbosa como chefe da Polícia Civil.
Nunes foi escolhido como secretário pelo interventor federal na segurança, general Walter Braga Netto, que mais tarde seria ministro do governo Bolsonaro, candidato a vice na chapa dele em 2022.
Braga Netto é hoje um dos investigados pelas tentativas de golpe para impedir a posse de Lula.
Richard Nunes manifestou surpresa e aparente desconforto, ao saber que seu colega de profissão, Braga Netto, no domingo, por intermédio de seu advogado, emitiu nota salientando que a nomeação de Rivaldo foi responsabilidade de Richard Nunes, e não dele.
“A escolha foi minha, eu nunca disse nada em contrário. Não sei por que ele sentiu necessidade de colocar uma nota acerca disso. Para quem conhece os meandros da administração pública, sabe que isso é uma coisa natural”, disse Richard.
“PÔ, É UM SINAL”
Ainda segundo a entrevista, o general disse que nunca foi especialista em segurança. “Eu fui colocado lá para cumprir uma missão. Agora, eu nunca investiguei caso nenhum na minha vida, nunca fui policial.”
Mais do que a justificativa acima, o que chamou a atenção na entrevista foi a estrambótica declaração do general de 4 estrelas – de um dos maiores Exércitos do mundo – de que se baseou para referendar o nome de Rivaldo no comportamento da família de Marielle e no do deputado Marcelo Freixo (na época no PSOL, hoje no PT). “Quando eu vi a confiança que o Freixo e a família depositavam nele, eu falei, pô, é um sinal.“
Richard Nunes é o atual chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx) e integrante do Alto Comando da corporação. No início do mês que vem, assumirá a chefia do Estado-Maior do Exército, o segundo posto mais importante da Força terrestre.
JB Reis – Sociedade Militar