Após desgaste institucional ocorrido nos últimos anos, o Exército Brasileiro inicia um movimento institucional de reposicionamento público. Com a aprovação oficial do novo Plano Cultural para o biênio 2025–2026, assinado pelo General de Exército Richard Nunes, a Força Terrestre revela uma estratégia clara: reforçar sua identidade interna e recuperar o prestígio social através da cultura, da memória e do patrimônio histórico.
O documento, aprovado por meio da Portaria nº 1.522 do Estado-Maior do Exército, é bem mais do que um simples guia técnico. É uma tentativa de fortalecer vínculos internos, reconstruir uma narrativa institucional e reaproximar a sociedade brasileira da imagem do Exército. Para isso a força terrestre aposta em ações simbólicas, educação patrimonial, turismo cultural e divulgação de bens materiais e imateriais que compõem a história da instituição.

O sentimento de pertencimento ao Exército
Segundo o texto do Plano Cultural, o Exército reconhece que sua identidade institucional está alicerçada em tradições, rituais e narrativas que precisam ser preservadas, valorizadas e difundidas. O documento estabelece que a cultura militar deve ser entendida como elemento formador do “sentimento de pertencimento” entre os militares e como forma de consolidar a imagem pública da Força como “elemento fundamental da soberania nacional”.
O plano aposta na criação de um “Sistema Cultural do Exército” (SisCEx), que integrará escolas de formação, museus, casas históricas e centros regionais de cultura militar em um esforço coordenado. Essas estruturas serão responsáveis pela manutenção e divulgação de acervos, promoção de eventos e recepção de visitantes, com ênfase especial no público civil.
Menos política, mais memória e implementação do turismo militar
O contexto do lançamento do plano não passa despercebido. Desde 2018, o envolvimento de setores das Forças Armadas em disputas políticas gerou uma série de desgastes institucionais. Embora o documento cultural não mencione diretamente tais episódios, seu teor revela uma quase desesperada tentativa de reconstrução da imagem, optando por afastamento do passado recente e reforço de datas, personagens, conquistas e símbolos do passado glorioso, ligado à missão original da Força Terrestre.
Entre as metas para o biênio 2025–2026 estão a ampliação do turismo cultural militar, o aumento do número de visitantes em espaços culturais do Exército, a reestruturação dos centros culturais regionais e a realização de eventos científicos e históricos. Está previsto também um estreitamento das relações com instituições estrangeiras, como o Exército Português e o Centro de História Militar dos Estados Unidos.
“TURISMO CULTURAL MILITAR: segmento do turismo cultural de caráter histórico e militar. Pretende proporcionar a visitação de nossos espaços culturais, fortes, fortalezas, mausoléus, museus militares, de modo a preservar e divulgar o patrimônio histórico e cultural do Exército, além de contribuir para a manutenção física dos espaços e ser uma forma de aproximar a sociedade da Força Terrestre.”
O plano menciona também uma intenção de capacitar militares para atuarem como gestores culturais e pesquisadores. Estão previstos cursos e estágios interdisciplinares para formar assessores culturais, além do estímulo à produção de artigos científicos, livros e teses sobre a história militar brasileira.
Trecho importante menciona a necessidade de “construir um sentido”, alinhando narrativas e agentes que promovem a cultura militar, reorganizando a a concepção que a sociedade venha ter do Exército Brasileiro, elemento fundamental de defesa da soberania nacional desde sua origem.
Recursos, parcerias e incentivos fiscais
“busquem a obtenção de recursos externos à Força Terrestre para serem utilizados em nossos
aparelhos culturais e elaborem projetos culturais, por intermédio de leis de incentivo à cultura ou outras
parcerias público-privadas ...”, diz trecho do documento
Diante das limitações orçamentárias, o general Richard pretende buscar recursos fora do orçamento do Exército. O plano estimula a captação por meio de leis de incentivo à cultura e parcerias público – privadas. Projetos culturais — como restauração de peças, exposições, edições de livros ou festivais artísticos — deverão seguir modelos normativos e poderão contar com o apoio da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx).