INTERVENÇÃO ou IMPEACHMENT? Cuidado, direita pode rachar na Gênese.
Há apenas algumas semanas o filósofo Olavo de Carvalho disparava mensagens "intervencionistas", e pedia para seus seguidores reenviarem para todos os militares que conhecem. Invocando uma ação das Forças Armadas em favor da Soberania Nacional, Olavo chegou a dizer: “Se enviados do Sr. Maduro, aliados do PT no Foro de São Paulo, estão abertamente treinando brasileiros para a guerrilha, que é que falta para as Forças Armadas entenderem que o governo brasileiro está em conluio com uma nação estrangeira CONTRA a soberania nacional?”
A multidão que enxerga Olavo de Carvalho como o grande arquiteto da re-organização da direita cumpriu sua missão com louvor. No dia seguinte, nas fanpages do Exército, Marinha e Aeronáutica, se encontrava centenas de vezes a tal mensagem. Veja a imagem.
Naquela semana a oposição estava em ebulição, Aécio tinha perdido por pouco. O povo foi para as ruas em várias capitais. Pediam Impeachment, pediam devassa nas urnas, fora Dilma, e um grupo pedia Intervenção Militar.
Qualquer um que desejasse interpretar com isenção de ânimo a "voz das ruas", entenderia que a mensagem era: Estamos cansados, desiludidos, não confiamos mais no governo, precisamos de uma mudança radical. Alguém nos ajude.
Em um país com mídia mais profissional e isenta, a manchete seria essa aí, abaixo.
Mas, a grande mídia daqui não é neutra, e Interpreta da maneira que lhe convém. Todos sabem que fortaleza petista está cheia de pontos fracos. Petrobrás, Mensalão, Passadena, Porto em Cuba etc. Por isso a imprensa chapa branca, aplicando a máxima a melhor defesa é o ataque, municiou seus kalashnikov e atirou no ponto que poderia lhe render alguma vantagem, que é a questão da ditadura militar. Afinal, Dilma posa de heroína da democracia. Muita gente já percebeu que a Comissão da Verdade foi usada também para consolidar essa imagem. Todos vimos que sua campanha política foi em grande parte lastreada por uma fotografia estilizada de quando era uma mulher jovem, ativista e doutrinadora marxista.
Grandes articulistas como Reinaldo de Azevedo perceberam a artimanha. Eles denunciaram que o governo se agarrou a esse único ponto para chamar os manifestantes de golpistas. O que nunca foram.
O que aconteceu então? Parece que o tiro acertou, a direita vestiu a carapuça e o apelido de golpista pode até pegar. Observem a esquerda e suas manifestações quebra-quebra, quando são acusados eles simplesmente se calam. E muito menos brigam internamente ou discutem publicamente e postam seus vídeos no youtube. Pra quem não sabe, existe um aparelho inovador que permite reuniões discretas, se chama telefone.
Lobão, que estava no caminhão se som no dia da manifestação na Paulista, se apressou em publicar texto dizendo que abominava qualquer tipo de Golpe Militar, e que quem desejava ditadura era um cretino. Realmente, apesar de já ter declarado que a ação dos militares foi providencial para impedir a implantação de um regime comunista no Brasil, o cantor nunca disse que apóia nenhum tipo de golpe. Quanto a Olavo de Carvalho, que pedia abertamente a ação dos militares, este logo mudou o discurso. Afinal de contas, o filósofo não podia permanecer entre os cretinos citados por Lobão. O restante dos chamados “organizadores” fez a mesma coisa que Olavo.
Há enormes comunidades na rede que engordam as manifestações das ruas. Como o Intervenção Militar, o Pesadelo de Qualquer Político e o próprio Revoltados Online. A bandeira que carregam desde março desse ano é o que chamam de Intervenção Militar Constitucional.
Imagem abaixo, grupo Revoltados online pedindo Intervenção Militar.
Somados, esses grupos agregam mais de 400 mil pessoas, que distribuem as informações para milhões de leitores diariamente. Eles sem dúvida são parte essencial da comunidade que fez crescer a organização da direita na grande rede. Em suas páginas se formou a massa crítica que resultou na oposição que vemos hoje. E é aí que está o grande problema. Eles foram chamados de infiltrados, e de cretinos. Com razão se sentem desprestigiados. Alguns acham que gente que caiu do céu depois da “coisa pronta” está querendo só aparecer, ou fazer carreira política em cima de uma união construida as custas de muito trabalho dentro e fora da grande rede. Se houver confusão entre grupos dentro das manifestações isso pode acabar na conta dos organizadores, que até agora têm mostrado inépcia.
Cristina Pevianni, por exemplo, que já se expôs muito na mídia, e junto com Celso Brasil disparou dezenas de vídeos na grande rede convocando para as manifestações que ocorreram em março desse ano, publicou hoje uma mensagem indignada. “estamos na luta há mais de dez anos e somos infiltrados”, disse Pevianni.
Outro que reclamou foi o principal organizador do Pesadelo dos políticos, que tem trabalhado duro há anos. Esse ano o Pesadelo distribuiu com sua equipe milhares de adesivos Fora Dillma”. Ele também foi rechaçado e deixado “de fora” das conversas e hanghouts. O Pesadelo publicou mensagem hoje que diz, sobre Olavo e Lobão: “Eles se uniram e se auto-declararam líderes do movimento de manifestações”. O pesadelo dos políticos não é nem de longe um grupo inexpressivo, e tem contactos fortes, como o jornalista Paulo Eduardo Martins. As duas fanpages do Pesadelo somam mais de 220 mil seguidores e suas postagens podem alcançar mais de 1 milhão de leituras diárias.
Em uma democracia ninguém pode ser desprezado. A direita tem como característica valorizar a liberdade de expressão e o individualismo. Apologia à uniformidade é coisa de esquerdista. Se a liderança que agora surge for realmente perspicaz, digna de permanecer a frente de tão grande grupo, saberá valorizar cada opinião como parte importante do movimento. A voz que ecoará mais forte será a do conjunto, a soma das individualidades.
Obviamente a maioria das pessoas pedirá impeachment. Pessoalmente também faria isso, como colocado nesse texto. Contudo, tem gente que não pensa como a maioria. Portanto, se é uma manifestação democratica, deixe-se que cada um peça o que quiser, desde que sem mensagens de ódio e incitação a violência. É certo que Forças Armadas nunca vão intervir ilegalmente. Assim como também é certo que não haverá impeachment sem que o trâmite legal seja feito no Legislativo.
É burrice dividir uma oposição ainda em fase de gestação. O importante nesse momento não são os cartazes carregados, e sim o número de pessoas, já que todos se manifestam contra o governo atual.
Robson A.D.Silva. CIentista Social. Revista Sociedade Militar. https://sociedademilitar.com.br