As agências de espionagem ocidentais têm alertado sobre a crescente ameaça da China há anos. Nesta semana, o chefe da agência de inteligência GCHQ do Reino Unido descreveu o desafio como “definidor de época”, conforme relatado por Gordon Corera, da BBC.
Esse alerta vem após uma série de prisões de pessoas acusadas de espionagem e hacking em nome da China no Ocidente. O embaixador chinês foi convocado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido após três pessoas serem acusadas de colaborar com os serviços de inteligência de Hong Kong, sinalizando uma disputa aberta entre o Ocidente e a China.
O Ocidente, liderado pelos EUA e seus aliados, está determinado a combater essa ameaça crescente. No entanto, altos funcionários temem que as nações ocidentais tenham subestimado o desafio da China, tornando-se vulneráveis à espionagem de Pequim.
Segundo Sir Richard Moore, chefe do MI6, a determinação do presidente chinês Xi Jinping em moldar uma nova ordem internacional é uma preocupação central. Moore afirmou, em uma rara entrevista para uma nova série da BBC sobre a China e o Ocidente, que “em última análise, a China aspira a remover os Estados Unidos do posto de principal poder”.
Apesar dos alertas, a atividade chinesa permaneceu fora do foco das agências de inteligência ocidentais até recentemente. De acordo com Nigel Inkster, ex-diretor adjunto do MI6, o surgimento da China como potência global coincidiu com outras preocupações significativas, como a guerra contra o terror e as intervenções militares no Afeganistão e Iraque.
Mais recentemente, a guerra Israel-Gaza e uma Rússia ressurgente têm dominado a atenção dos formuladores de políticas e segurança ocidentais. Paralelamente, a pressão para garantir acesso ao mercado chinês levou governos e empresas a minimizar os riscos de segurança.
A espionagem chinesa difere significativamente dos métodos ocidentais, focando na aquisição de tecnologia para garantir a estabilidade do regime e crescimento econômico, conforme explicado por Roman Rozhavsky, do FBI. Rozhavsky enfatiza que “a estabilidade do regime é o objetivo número um” para a China.
Espiões chineses compartilham informações com empresas estatais, prática não adotada pelas agências ocidentais. “Minha agência está mais ocupada do que jamais esteve em nossos 74 anos de história”, afirmou Mike Burgess, chefe da Asio.
A abordagem diferente da China torna suas operações mais difíceis de detectar e combater. De acordo com Gordon Corera, a espionagem industrial tem sido uma prática comum desde os anos 2000, com empresas ocidentais relutantes em denunciar por medo de perder acesso ao mercado chinês.
As operações chinesas de espionagem, que empregam cerca de 600 mil pessoas, estão em uma escala sem precedentes, desafiando a capacidade dos serviços de segurança ocidentais de investigar todos os casos. Ken McCallum, chefe do MI5, destacou que mais de 20 mil pessoas no Reino Unido foram abordadas por espiões chineses em redes profissionais como LinkedIn.
A espionagem chinesa não se limita ao roubo de tecnologia, mas também visa influenciar a política ocidental e suprimir dissidentes. Recentemente, houve relatos de “postos de polícia chinesa no exterior” e tentativas de influência política em países como Reino Unido, Bélgica e Alemanha, segundo Gordon Corera.
Na Austrália, a Asio detectou atividades de interferência política desde 2016. A resposta ocidental inclui novas leis para combater essas ameaças, mas críticos argumentam que tais medidas são tardias.
Coletar inteligência sobre a China representa um desafio único para o Ocidente. A vigilância abrangente e o uso de tecnologia própria dificultam a espionagem tradicional. Além disso, a falta de entendimento sobre as intenções de Pequim aumenta o risco de mal-entendidos e erros de cálculo, especialmente em relação a Taiwan e o Mar do Sul da China. Sir Richard Moore, chefe do MI6, enfatiza a importância de canais de comunicação abertos e insights para navegar esses riscos.
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