Em declaração divulgada nesta terça-feira (10) pela agência russa TASS, o presidente Vladimir Putin afirmou que a Rússia poderá abandonar o uso de armas nucleares com a introdução de seu novo sistema de mísseis, o Oreshnik. O líder russo destacou que o avanço tecnológico torna essas armas de ponta tão eficazes que reduzirão a dependência de armamentos atômicos, permitindo à Rússia agir com “cautela e contenção”.
Os mísseis Oreshnik, que já foram utilizados em combate na Ucrânia, são descritos como balísticos de médio alcance, capazes de atingir velocidades de até 10 vezes a do som (Mach 10). Segundo Putin, os sistemas de defesa aérea existentes, como os utilizados pela Ucrânia, são incapazes de interceptar esses projéteis. Especialistas consultados por O Globo apontam que o Oreshnik pode ser equipado com ogivas nucleares, embora não tenha sido usado dessa forma até o momento.
Ainda de acordo com o presidente russo, o Oreshnik representa um marco na modernização das forças armadas do país. Ele declarou que a Rússia está revisando sua doutrina militar, não para intensificá-la, mas para adaptá-la ao potencial desse armamento, que ele descreveu como “imbatível”. “Estamos melhorando nossa doutrina nuclear, não a reforçando. Basicamente, agora, precisamos melhorar o míssil Oreshnik, não a doutrina nuclear”, observou Putin.

Para Putin, a produção em escala dos Oreshnik permitirá que a Rússia foque em demonstrar força com menos riscos de escalada nuclear.
A introdução dos Oreshnik ocorre em um contexto de tensões crescentes entre a Rússia e o Ocidente, especialmente após ataques ucranianos em território russo com armas ocidentais, como os mísseis americanos ATACMS. Segundo analistas, o uso dos Oreshnik em combate é uma mensagem clara para os adversários da Rússia.
Mas o que é o Oreshnik?
Revelado ao mundo em meio ao conflito na Ucrânia, os mísseis Oreshnik têm um alcance estimado entre 1.000 e 3.000 quilômetros, podendo carregar múltiplas ogivas independentes (MIRVs), o que aumenta sua capacidade destrutiva. A tecnologia empregada no míssil é vista como uma evolução do projeto RS-26 Rubej, descontinuado em 2018, mas que possuía características semelhantes, como alcance de até 5.800 km e capacidade de transportar até quatro ogivas nucleares.
Para especialistas ouvidos por O Globo, o Oreshnik pode ser tanto uma inovação estratégica quanto uma ferramenta de dissuasão, mas que requer cautela: O que eles querem nos dizer hoje é “vejam, o ataque da noite passada tinha uma ogiva não nuclear, mas vocês sabem, se o que quer que vocês estejam fazendo continuar, o próximo ataque pode ser com uma ogiva nuclear”, afirmou Fabian Hoffmann, pesquisador da Universidade de Oslo.
Embora a Rússia tenha reiterado que prefere soluções pacíficas para os conflitos, a retórica de Putin deixa claro que o país não hesitará em usar força militar. “Sempre haverá uma resposta”, concluiu o presidente, reforçando que o arsenal do país está preparado para quaisquer eventualidades.
O novo armamento é visto por especialistas como um divisor de águas na estratégia militar russa, aumentando a pressão sobre as potências ocidentais para revisarem suas próprias capacidades defensivas.