Desde as vésperas do cinqüentenário da contra-revolução de 31 de março de 1964 que as redes sociais se tornaram o principal ponto de discussão e formação de tendências políticas do país.
Depois que a CNV iniciou o andamento no projeto esquerdista de reescrever a história recente do país, tentando de todas as maneiras tornar heróis em vilões e vice versa, percebeu-se uma mudança interessante no ethos militar. Há algum tempo a maioria dos militares, salvo alguns poucos protagonistas de grandes momentos da historia, passava toda sua vida na obscuridade. Serviam o seu país na ativa e depois de transferidos para a reserva guardavam para si todo o conhecimento adquirido nas escolas militares e em anos de experiência colhida nos rincões do país por onde passam seu período ativo. Nesse início de século XXI observa-se uma inversão interessante, muitos militares, oficiais, sargentos etc., depois de transferidos para a reserva, têm mostrado intensa maior produção intelectual do que tinham na ativa. E mais do que sair da obscuridade, eles têm se tornado protagonistas e até “gurus” de uma nova oposição que hoje se levanta no país. Ha na grande rede vários sites e grupos em redes sociais onde militares dão suas contribuições na discussão do quotidiano.
Usando a internet como principal canal de comunicação eles têm se tornando líderes de contingentes bem grandes, maiores até do que aqueles que comandaram durante seu período na ativa.
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SeguirOs militares que foram para a reserva nos últimos anos, assistiram, como jovens adultos, a criação e desenvolvimento da grande rede e tem aliado seu natural pendor estratégico às ferramentas de largo alcance que a rede mundial oferece.
O general Paulo Chagas, atual presidente do Ternuma (Grupo Terrorismo Nunca Mais), é um caso clássico do que chamaremos aqui de general da rede. Enquanto na ativa, como não poderia ser diferente, o militar realizava seu trabalho normalmente e era pouco conhecido dos civis. Porém, já na reserva um dos primeiros textos do general, “distribuído” em 2011 por Ricardo Setti, foi lido por milhares de pessoas e mostra o conhecimento e poder de argumentação do militar. O artigo versava sobre a aplicação de tropas federais no combate ao narcotráfico no Rio de Janeiro. O General disse bem claramente que as forças armadas não poderiam ser usadas como paliativo, como “solução” provisória. Para ele era necessário subjugar completamente o inimigo, como se faz em uma guerra. Para que não houvesse chance alguma de rearticulação dessas forças de oposição.
Veja: Se fazer a guerra é uma decisão e uma ação essencialmente política e considerando apenas a natureza hipócrita, interesseira e covarde dos políticos brasileiros, esta guerra está perdida! A ação da polícia e do Exército no Rio de Janeiro não é “pacificadora”, porquanto não consegue impor-se aos bandidos, e sim “negociadora”, porque terá sempre que ceder algo antes de obter, em parte, o que precisa conquistar! (…) há que se identificar com clareza e precisão os objetivos a serem conquistados e os meios a serem empregados para fazê-lo, aí incluídos os equipamentos e as estratégias convenientes para vencer e estabelecer a paz em bases definitivas e claramente dominadas pelo vencedor… Para negociar a paz, ou “pacificar” em bases sólidas, definitivas, é preciso, antes de mais nada, subjugar, derrotar e, se necessário, destruir o inimigo e destituir do poder todos os seus aliados, aí incluídos os dirigentes políticos, covardes, enganadores e oportunistas que, mais cedo ou mais tarde, criarão condições para desmoralizar ou corromper as forças vitoriosas! (…)
O General estava certo. Três anos depois percebe-se que a “pacificação” não deu certo. Muito pelo contrário, o efeito foi devastador. A criminalidade se descentralizou, se ampliou, se estabelecendo em locais do Rio antes vistos como tranqüilos, como Niterói e Cabo Frio.
De lá pra cá Paulo Chagas se tornou bastante conhecido na internet, principalmente por quem se interessa por política, direita, comunismo e Comissão da Verdade. O militar tem em sua rede social mais de 4 mil seguidores assíduos. Um dos seus textos mais polêmicos foi batizado de Na causa da democracia, quem está dispensado?. Só na Revista Sociedade Militar o material foi compartilhado por 18 mil leitores. Pela média da rede, cerca de 200 seguidores por pessoa, o texto chegou a pelo menos 3 milhões e 600 mil pessoas. O material pode ser considerado uma espécie de “best seller” da rede brasileira. E foi criticado por alguns, mais sensíveis, acusado de ser um material conspiracionista. Disseram que foi um incitamento a um novo GOLPE MILITAR.
Veja um extrato do texto: A opinião pública está dispersa, contudo não é difícil identificar o que rejeita. Também não é fácil definir com quem está e o que quer. Falta-lhe um "norte confiável". As pessoas de bem, informadas, estão com medo do futuro, acuadas até para reagir e para manifestarem-se pacificamente. Não basta, portanto, pedir uma atitude dos militares, é preciso que os civis esclarecidos e convencidos do perigo ostentem massivamente suas posições e opiniões e que contribuam para magnetizar a agulha que definirá o novo rumo a ser tomado.
O que se observa é que a maneira concisa e clara de escrever, aliada a um conteúdo que preenche perfeitamente o vácuo teórico que há na sociedade que aos poucos se re-organiza com o objetivo de endireitar os rumos do país, acaba por conquistar seguidores e realmente formar opinião e tendências que muitos adotam, e tomam como base para ações.
Outro que tem se destacado como um grande “general da rede” é o general Marco Felício, que elaborou o documento chamado Alerta à Nação. Eles que venham, por aqui não passarão, que apesar de boicotado pela grande mídia, incomoda bastante o governo e com toda certeza causa desconforto aos comandantes militares, na medida em que acusa a Presidente da República de revanchista. Veja: … manifesto supracitado que reconhece na aprovação da “Comissão da Verdade” ato inconseqüente de revanchismo explícito e de afronta à lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo.
O documento de Marco Felício foi endossado por centenas de oficiais generais, e outros tantos militares da reserva das forças armadas, polícias e bombeiros. O manifesto também foi assinado por civis. Seria de se esperar que o documento fosse encarado como algo extremamente importante, na medida em que os oficiais generais da reserva, que tem liberdade para se expressar, normalmente funcionam como porta-vozes da opinião da tropa na ativa. Contudo, inexplicavelmente, o mesmo foi ignorado, como se partisse de um grupo qualquer da sociedade, sem expressão poçítica alguma, e não de um time de generais que ocupou os mais altos cargos na hierárquia das Forças Armadas.
Marco Felício se tornou um militar conhecido nacionalmente e arriscou se candidatar a deputado federal nas eleições de 2014, pelo estado de Minas Gerais, mas não foi eleito.
Entre outros militares formadores de opinião que sabem utilizar a rede com maestria, destacamos o General Valmir Fonseca, Coronel Gobbo e o General Heleno.
É indubitável que todos contribuem sensivelmente para formar uma massa crítica que propicia uma discussão mais produtiva das questões atuais.
Veja aqui o texto CONSEQUENCIAS DE UMA INTERVENÇÃO MILITAR.
Robson A.D.Silva. Cientista Social. Revista Sociedade Militar.