Texto recebido de leitor sobre as escalas de serviço na Marinha do Brasil. No contato o autor fez referência a fala do Almirante Garnier, comandante da Marinha, que determinou aos comandos que as escalas não sejam menores do que 3 x 1.
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Clique aqui para seguirCarta / e-mail de colaborador militar na reserva remunerada sobre a escala 2 x 1 e a determinação do Comandante da Marinha – Cartas / E-mails de leitores
Sou militar da reserva da Marinha, tenho 53 anos, dos quais 32 foram dedicados a ela. Minha carreira teve início no ano de 1988, através do Serviço Militar Inicial (SMI), onde após seleção no então Quartel de Marinheiros, hoje Centro de Instrução Almirante Alexandrino, fui designado para servir na Escola Naval.
Para os Oficiais/Aspirantes, conhecida como “Ilha de Villegagnon”, para nós praças, principalmente Marinheiros e recrutas, “Inferno Naval”, tamanho foram os abusos a que fomos submetidos.
No artigo “Decisão do Comandante da Marinha sobre escala de serviço é histórica e um marco no quesito humanização”, foi mencionado a escala 2X1, kkk, e realmente ela contribuiu e muito para destruição de muitos lares, mas lembro-me bem das muitas vezes em que dei serviço 1X1, sim, um dia sim, outro não, e o pior, sem ter o direito de ir pra casa, pois tínhamos que dar o serviço e no dia seguinte cumprir o expediente até às 16h30.
Mas, em se falando de Escola Naval, sempre tinha alguma coisa a mais, pois não bastasse a exploração a que éramos submetidos na escala de serviço, ainda concorríamos a descarregar caminhões de mantimentos, representações, marcação de alvos para Aspirantes aos sábados (nesse caso, os Marinheiros que saiam do serviço na sexta, eram escalados para ir para Campo Grande, pois tínhamos que levar além do armamento (fuzis) utilizados para o adestramento, também as caixas com lanches e água que eram destinados aos Oficiais/Aspirantes, sem contar as inúmeras vezes que tínhamos que responder disciplinarmente, pois como andávamos sempre no limite do estresse, invariavelmente tínhamos nossos nomes lançados no livro de contravenções disciplinares, e uma vez ali, dependendo de quem estava era responsável pela audiência, isso significava até “prisão rigorosa”, sim, atrás das grades, como criminosos.
Havia situações em que nos davam a opção de cumprir a prisão, ou então, transformavam-na em serviço, o problema era que se o militar tivesse que ficar preso por dez dias, mas opta-se pelo serviço teria que dar o dobro, ou seja, vinte dias de serviço ininterruptos.
Lembro-me dos inúmeros colegas que por não aguentarem a voga, ou o sistema, pediram baixa. Fico feliz que alguém tenha usado de sensatez para ao menos mudar isso.
Se eu fosse receber horas extras pelas vezes que dei serviço 1X1, 2X1, nossa! Teria recebido uma generosa soma em dinheiro. Fala-se muito de direitos humanos, como gostaria de ter tido um órgão desses atuando naquela época.
Mas enfim o tempo passou, após cinco anos sendo submetido a todo tipo de humilhação, enfim desembarquei para nunca mais retornar.
Do tempo servido restou a certeza do sacrifício, do sangue e das lágrimas derramadas, por uma instituição que sequer reconheceu o esforço a ela prestado.
Fica aqui o meu desabafo!
E-mail recebido pela Revista Sociedade Militar. De Alexandre xxxx, militar na reserva remunerada.