No dia em que a Rússia lançou sua invasão à Ucrânia, o chefe do Movimento Imperial Russo, Denis Gariyev, postou uma mensagem em seu canal do Telegram dizendo: “Sem dúvida, somos a favor da liquidação da entidade separatista Ucrânia ”.
De acordo com a inteligência alemã, Gariyev foi ferido em combate em meados de abril de 2022, e seu vice, Denis Nekrasov, foi morto, possivelmente perto da cidade de Izyum, no Oblast de Kharkiv, Ucrânia.
Um relatório confidencial do Serviço Federal de Inteligência da Alemanha, publicado pelo Der Spiegel em 22 de maio de 2022, vários extremistas russos e neonazistas estão lutando na Ucrânia.
Analistas alemães escreveram que o fato de líderes militares e políticos russos terem aceitado grupos neonazistas enfraquece Putin e seu governo que justificavam a invasão para “desnazificar” a Ucrânia, disse o Der Spiegel.
Gariyev, chefe do Movimento Imperial Russo, também criou uma organização relacionada chamada Reserve Squad, que, de acordo com o relatório da inteligência alemã, recebeu cifras multimilionárias do Ministério do Interior, do Serviço Federal de Segurança e do Serviço Federal de Proteção russos, que é a agência governamental encarregada de fornecer proteção de guarda-costas para altos funcionários do Kremlin.
Batalhão de Unificação e Renascimento Eslavo ou Batalhão Svarozhich – O batalhão foi formado por membros do movimento racista místico Rodnovery (fé nativa eslava), que no seu auge tinha 1.200 combatentes, que agora fazem parte da Brigada Vostok.
Unidades de Voluntários da RNU – Inclui voluntários da Unidade Nacional Russa e outras organizações neonazistas.
Um detalhe: a constituição russa proíbe exércitos mercenários na Rússia e proíbe cidadãos russos de serem mercenários. Como esses soldados da fortuna atuam quase sempre fora do país, sempre que acontece algo, como os 200 mercenários bombardeados na Síria por caças americanos, o governo russo se limita a dizer que não eram soldados do exército russo. Assim, Putin tem seu exército particular, pago com dinheiro público para fazer seus negócios escusos com muito lucro mundo afora.
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Estes são alguns dos ´´guerreiros´´ nazistas de Putin no campo de batalhas.
No campo ideológico também não faltam nazistas
Alexandr Dugin, o Rasputin de Putin
Dugin é, sem a menor sombra de dúvida, o mentor de Putin e de todos os supremacistas eslavistas. Praticamente, todos os passos de Putin no campo geopolítico é extraído do pensamento e dialética desse novo guru russo.
Mas, o que quer Dugin? Ele acredita que a verdade é o que acreditamos que é. Assim, o povo étnico russo eslavo precisa seguir seu ´´destino manifesto´´ que é voltar ao seu passado glorioso da grande Mãe Rússia, com sua amplitude da época do czarismo russo e da União Soviética. A isso ele e outros teóricos chamam de ´´eurasianismo´´.
Os crentes nessa nova dialética acreditam que isso lhes foi tomado pelas forças nefastas do judaísmo mundial junto com a conspiração anglo saxônica dos EUA e Inglaterra. Soa familiar? Ou seja, para que a Rússia atinja seu lugar supremo no topo do mundo como líder inconteste, esses inimigos naturais precisam ser neutralizados.
Isso é um resumo básico do que Dugin publicou em ´´Fundamentos da Geopolítica´´ e que Putin e muitos de seus generais e políticos leram, além dos seus milhões de devotos. Ali, ele escreveu entre outras coisas:: “É especialmente importante introduzir desordem geopolítica na atividade interna americana, incentivando todos os tipos de separatismo e conflitos étnicos, sociais e raciais, apoiando ativamente todos os movimentos dissidentes – grupos extremistas, racistas e sectários, desestabilizando, assim, os processos políticos internos nos EUA”.
No eurasianismo as fronteiras russas devem se estender dos confins da Sibéria até o Atlântico e Irlanda e do Oceânico Índico ao Mediterrâneo, com prejuízo de soberania para muitos países. Uma completa loucura. Seria domínio norte-sul: Os EUA ficam com a América Latina, A Europa ocidental com a África, China e Japão com todo o extremo oriente e a Rússia com todo o mundo eslavo e Oriente Médio. Cada um no seu quadrado e está tudo resolvido.
Para isso, sustentam Dugin e Putin, principalmente, a Ucrânia, berço da civilização russa, tem que ser parte inseparável da Rússia, porque a Rússia sem a Ucrânia não pode controlar a Europa, russos e ucranianos são um povo só e precisam ser uma só nação. Como Hitler anexando a irmã Áustria, sua terra natal e usando como lema o ´´Um só povo, uma só nação e um líder´´.
Ideologia e crença de Dugin
Alexandr Dugin é filósofo e cientista político. Fundador do Movimento Internacional Eurasiano e ideólogo do nacional-bolchevismo e da IV Teoria Política que exercem forte influência em camadas superiores do establishment político russo, incluindo a diplomacia e o Exército.
Em 1987, durante o segundo ano de Mikhail Gorbachev no cargo, Dugin juntou-se à liderança da notória organização nacionalista russa antissemita Pamyat, e serviu como membro do Conselho Central do grupo. Sabemos que é antissemita.
A versão de eurasianismo de Dugin é uma combinação de quatro pontos: comunismo, nazismo, ecologismo e tradicionalismo. Enquanto a oposição do comunismo à liberdade econômica foi adotada, o compromisso marxista com o progresso tecnológico foi abandonado para atrair os ludistas e outros ambientalistas antitecnologia que se opunham ao industrialismo e à modernidade. Dugin é contra o ensino de química e física que considera um instrumento de dominação ocidental. O tradicionalismo foi derivado para suprimir o pensamento livre. A maior parte vem do nazismo de onde adotou a ideologia quase toda.
A filosofia eurasiana de Dugin está ligada ao Neopaganismo, uma categoria que, neste contexto, significa o movimento da Fé Nativa Eslava (Neopaganismo eslavo ou Rodnovery), especialmente nas formas de Anastasianismo e Ynglismo. O eurasianismo de Dugin é frequentemente citado como pertencente ao mesmo espectro desses movimentos, e também tendo influências de tradições herméticas, gnósticas e orientais. Ele próprio apela a confiar na “teologia oriental e nas correntes místicas”.
Quase todas as correntes acima citadas têm em comum, principalmente, a supremacia ariana da etnia eslava, antissemitismo, nazismo, rejeição à miscigenação, pan-eslavismo como ferramenta para alcançar o domínio imperial pelo eurasianismo russo e a volta ao paganismo nórdico e eslavo ariano pré-cristão.
Vale ressaltar que as crenças nativas eslavas ou germanicas em si nunca foram racistas, pois eram religiões e modo vida local. Há muitos praticantes dessas correntes que não concordam com o viés supremacistas dessas ideologias. Os supremacistas se identificam com elas porque é algo que se originou em sua terra de origem.
O paneslavismo tem a mesma filosofia do pangermanismo na Alemanha nazista e seu sincretismo étnico o mesmo da igreja étnica germânica, ambos reivindicando uma ancestralidade nórdica ariana e pureza racial.
Enquanto Dugin fundou o Partido Eurasiano, Putin criou a União Euroasiática e a consequente formação da Comunidade Econômica Euroasiática, tendo como estados membros a Rússia, Armênia, Bielorússia, Cazaquistão e Quirguistão.
O movimento neo pagão e supremacista étnico eslavo Rodnovery e correlatos tem pelo menos dois milhões de adeptos na Rússia. Cresceu muito desde a ascensão de Putin ao poder e depois foi sendo reprimido conforme avançava com força para ameaçar o putinismo em franca ascensão. As duas forças coexistem e se identificam, mas Putin controla e tolhe qualquer um que queira ameaçar sua posição de líder máximo.
De acordo com Marlene Laruelle, a adesão de Dugin ao grupo dos “Velhos Crentes” permite que ele se posicione entre o Paganismo e o cristianismo ortodoxo sem adotar formalmente nenhum deles. Sua escolha não é paradoxal, uma vez que, segundo ele — na esteira de René Guénon — a ortodoxia russa e especialmente os “Velhos Crentes” preservou um caráter esotérico e iniciático que se perdeu totalmente no cristianismo ocidental. Como tal, a tradição da igreja ortodoxa russa pode ser fundida com o neopaganismo e pode hospedar “a força nacionalista do neopaganismo, que o ancora no solo russo e o separa das outras duas confissões cristãs”.
Afinal, a chamada “operação militar especial” na Rússia é apoiada por nazistas e conservadores, bem como por comunistas nostálgicos da URSS. É um coquetel ideológico. Na Rússia, as pessoas não se inscrevem em massa no Rússia Unida, partido de Putin, e a ideologia trabalha para despolitizar e desengajar a sociedade da participação ativa.
O doutor em Ciências Políticas Stepan Sulakshin, analisando o conceito de “Putinismo”, o considera como um regime político (a prática política tanto do líder com sua equipe quanto do grupo governante), que ele chama de “Estado privatizado”, a liderança política é dona das empresas do estado. Políticos e empresários são os mesmos atores.
De acordo com o Hoover Institution Fellow Arnold Beichman (2007), Desde que chegou ao poder em 1999, “Putin inspirou bajulação do tipo que a Rússia não via desde Stalin“.
Se no campo ideológico, místico e étnico, Putin tem seus mentores, na Igreja Ortodoxa Russa também tem.
A Igreja Russa
O Patriarca atual e chefe da Igreja Ortodoxa Russa, Ciril I, é totalmente subordinado a Putin. Até a igreja tem traços de pertencimento ao estado putinista, como acontecia na antiga União Soviética. Ciril nunca critica Putin ou o estado em absolutamente nada, muito pelo contrário.
Ciril também pertenceu a KGB, antigo serviço secreto soviético.
Chegou a chamar Putin de ´´milagre de Deus´´ e de dizer que a guerra da Ucrânia é uma luta do bem contra o mal e ambos acreditam que estão combatendo um ocidente pecador e o nazismo na Ucrânia. Até mesmo chegou mandar fazer um mosaico de Putin, igual aos dos santos da igreja, para a pôr numa nova igreja, mas o próprio Putin achou demais e mandou remover.
Ciril I, está na lista de sancionados da União Europeia por apoiar totalmente a invasão da Ucrânia e os massacres a populações civis na Síria pelo exercito e milícias nazistas russas.
É acusado de ostentar riquezas, tais como um relógio suiço no valor de 30 mil euros no pulso. Depois tirou e negou que tivesse o relógio, mas em entrevista a um programa de televisão, admitiu que tinha sim o relógio. Também há uma história sobre a propriedade de uma vila na Suiça.
Abençoou um congresso de movimento paneslavista, os mesmos que pregam pureza racial. Há algum tempo chegou a tentar promover uma união desses grupos com a Igreja Russa.
Disse que a Ucrânia é uma extensão da Rússia e não tem que ser uma nação soberana.
Se envolveu em polêmicas com o Papa Francisco que o Chamou de ´´coroinha´´ de Putin, coloquialmente conhecido como puxa saco. Disse lamentar que Francisco pense isso. Chegaram a cancelar um encontro que teriam em Jerusalém em 2022 por motivos óbvios.
Rússia Unida
O Partido político de Putin é dito de centro direita e uma verdadeira salada, admitindo de tudo e sendo a síntese do putinismo, forma de governar própria de Putin. É alardeado como uma “Nova Ordem Internacional”. Muitos grupos e ativistas do paneslavismo e neonazismo também atuam em correntes do partido governante do Rússia Unida. Desde que se submetam, não há impedimento nenhum.
Putin sempre disse que a pior tragédia da história da Rússia foi o fim da União Soviética, regime totalitário que assassinou mais de 20 milhões de cidadãos russos e não russos.
Ele também aparelhou o estado russo com militares e ex-agentes, muitos antigos colegas seus, dos serviços secretos russos e da antiga KGB, conhecidos como silovikis. É algo que ele também importou do regime totalitário comunista russo. Muitos estão nos principais cargos do governo. Siloviki pode ser traduzido como ´´homens de força´´.
Um exemplo disso é o falecido deputado Vladimir Zhirinovsky do Partido Liberal Democrático.
Adepto de toda filosofia paneslavista, racista declarado com todas as letras, misógino e que muitas vezes se envolveu em brigas virulentas com jornalistas, chefes de países como EUA e políticos de todos os matizes. Chegou a se referir a ex-secretária de estado americana negra Condoleeza Rice como uma negra que tinha que fazer uma visitinha num quartel russo e transar com todos os soldados e se deliciar com isso.
De certa feita, em resposta a uma jornalista que indagava sobre uma pessoa que teria sido envenenada por agentes russos na Inglaterra, ele respondeu que iria mandar seus seguranças agarrá-la e estupra-la naquele exato momento. A jornalista teve uma crise de nervosismo. Ele foi condenado a indenizá-la.
Afirmou que achava ser irmão de Donald Trump e que iria pedir um teste de DNA, por se identificar muito com ex-presidente americano.
Faleceu com o COVID-19 em 2022.
Em uma declaração após a morte de Zhirinovsky, o presidente Vladimir Putin disse que ele “sempre defendeu sua posição patriótica e os interesses da Rússia diante de qualquer audiência e no mais feroz dos debates“. Grifo nosso.
O funeral de Zhirinovsky foi oficiado pelo Patriarca Ciril l de Moscou e todos os Rus’ na Catedral de Cristo Salvador em Moscou, na presença de vários políticos de alto escalão, incluindo Putin e o Ministro da Defesa Sergei Shoigu.
Em 6 de abril de 2023, um monumento ao fundador e primeiro líder do Partido Liberal Democrata, Vladimir Zhirinovsky, foi inaugurado no Cemitério Novodevichy em Moscou.
É assim que Putin e Ciril I da Igreja tratam um adepto do racismo supremacista eslavo, como um ´´patriota´´.
O mesmo se deu com o blogueiro russo recém assassinado num atentado a bomba num café de propriedade de ninguém menos que Prigozhin, dono do Grupo Wagner. O assim auto proclamado Vladlen Tatarsky, pseudônimo do ex-soldado que atuou na guerra da Ucrânia e era um propagandista feroz e violento contra a soberania ucraniana.
Foi preso por assaltar bancos e tinha um blog pró guerra da Ucrânia que tinha cerca de 500 mil seguidores. Atuou no grupo mercenário Vostok de domínio do ditador extremista Checheno Kadyrov.
Como blogueiro, Tatarsky pediu mais ataques à infraestrutura ucraniana, o que resultaria em mais baixas ucranianas. Ele regularmente se referia à Ucrânia como um “estado terrorista” e defendia sua derrota.
Em um vídeo infame, ele foi gravado dizendo: “Derrotaremos todos, mataremos todos, roubaremos todos que precisarmos. Tudo será do jeito que gostamos.” O vídeo foi gravado no Kremlin, para o qual Tatarsky havia sido convidado para assistir ao anúncio de Putin de ” mobilização parcial ” em 30 de setembro de 2022. Tatarsky também produziu propaganda jihadista , provavelmente também para a causa pró-guerra.
Em 2 de abril de 2023 sua morte foi registrada em vídeo. Outras 24 pessoas ficaram feridas, seis delas gravemente, de acordo com as autoridades russas. Uma moradora de São Petersburgo, Darya Trepova, foi considerada suspeita pelo Comitê Investigativo da Rússia .
Segundo os investigadores, ela trouxe para o café uma caixa com o busto de Tatarsky, na qual estava escondido um artefato explosivo. Em 3 de abril, ela foi presa.
No dia seguinte ao seu assassinato, Putin concedeu postumamente a Tatarsky a Ordem da Coragem do estado russo.
Por fim, a filha do próprio Alexander Dugin, Darya Dugina, sofreu também um atentado a bomba em seu carro no qual foi morta.
O pai de Dugina, Dugin , chamou o assassinato de “ato terrorista executado pelo regime nazista ucraniano” e escreveu que “precisamos apenas da nossa vitória“.
Ironicamente, a filha seguia todo o caminho do pai, trabalhando muito a favor da guerra na Ucrânia e seguindo ideologias racistas etnocentricas. Segundo o pai, então, a filha teria sido vítima do próprio veneno que ele tanto acredita: a supremacia ariana racial e a violação de nações soberanas.
O presidente russo, Vladimir Putin , enviou uma mensagem de condolências à família de Dugina, descrevendo-a como uma “pessoa brilhante e talentosa com um verdadeiro coração russo“.
Putin concedeu postumamente a Dugina a Ordem da Coragem. Mais uma supremacista racista condecorada por Putin.
O ato incluiu respostas de oponentes e críticos de Putin. Dmitry Gudkov escreveu sobre o evento como um “bumerangue” para a retórica guerreira de Dugin. Ou seja, gosta de extremismo radical, provou dele.
O site de notícias investigativas em russo Meduza argumenta que sua morte “ajudou seu pai, Alexandr Dugin, a passar de filósofo marginal ultraconservador a ideólogo-chave do Kremlin“.
Dugin já está na história como aquele que alimentou o maior extremismo racista étnico e geopolítico da história da Rússia.

Texto na Revista Sociedade Militar