A Academia da Força Aérea (AFA), localizada em Pirassununga (SP), concluiu, no dia 24/04, a 11ª edição da Olimpíada de História Militar e Aeronáutica (OHMA). O evento teve como tema “O Retorno dos Heróis” e celebrou os 80 anos do término da Segunda Guerra Mundial, prestando homenagem aos pilotos do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA) – Esquadrão Jambock –, que atuaram na Itália durante o conflito.
Realizada ao longo de dois dias, a competição reuniu 64 Cadetes e Aspirantes das principais academias de formação de oficiais do país: Academia da Força Aérea (AFA), Escola Naval (EN), Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB).
Conforme a publicação feita pela Agência Força Aérea, a olimpíada foi dividida em quatro fases: uma prova objetiva eliminatória com 60 questões; um quiz escrito com 24 perguntas; apresentações temáticas das equipes finalistas; e um quiz oral com 33 questões sobre História Naval, Terrestre e Aeronáutica — da Antiguidade à Era Contemporânea.
Estudo da História como ferramenta
Na cerimônia de abertura, ocorrida em 23/04, o Comandante da AFA, Brigadeiro do Ar Eric Breviglieri ressaltou a relevância do estudo da História Militar como uma ferramenta essencial para compreender estratégias adotadas no passado e aplicar os ensinamentos adquiridos aos desafios enfrentados no presente.
Segundo o idealizador do projeto, o Instrutor de História Militar da AFA, Coronel Dentista Claudio Passos Calaza, o evento reforça o compromisso com a preservação da memória e o desenvolvimento do pensamento crítico.
“A OHMA não apenas testa o conhecimento dos Cadetes, mas também valoriza o legado dos heróis da FAB. Todas as equipes da AFA foram batizadas com nomes de pilotos lendários do 1º GAVCA, como Nero Moura, Rui Moreira Lima e Alberto Torres, que enfrentaram missões arriscadas na Europa ocupada”, explicou.
Palestra de abertura e exposição de uniformes históricos e veículos da FAB
Um dos momentos mais marcantes foi a palestra de abertura, proferida pelo Engenheiro Luis Gustavo Gabriel, filho de veterano do 1º GAVCA e mantenedor do site Sentando a Pua, que apresentou a trajetória dos aviadores brasileiros na Campanha da Itália.
Entre as novidades desta edição, destacou-se a exposição de uniformes históricos da FAB e de um jipe Ford GPW 1942 — utilizado pelo 1º GAVCA durante a guerra.
Restaurado nas cores da FAB pelo professor Marco Cesar Spinosa, o veículo homenageia as missões de resgate lideradas pelo Piloto Alberto Martins Torres, recordista de combates da Aviação de Caça.
Reconhecimento e elogios de autoridades e especialistas
Autoridades também ressaltaram a relevância do evento. O Mestre em História Marítima e pesquisador da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, Capitão-Tenente Vagner da Rosa Rigola, elogiou a iniciativa.
“A OHMA desenvolve o espírito de equipe, o intercâmbio entre instituições e o aprofundamento do conhecimento histórico — competências fundamentais para os futuros Oficiais”, parabenizou.
A final da competição foi decidida na última questão: sobre o Brigadeiro Eduardo Gomes e a desmobilização das tropas americanas na Base Aérea de Natal (BANT). A equipe Tenente Lima Mendes (AFA) conquistou o ouro. A prata ficou com a equipe Tenente Torres (AFA), e o bronze com a equipe Duque de Caxias (AMAN).
Reflexões sobre a formação militar e necessidade de reformulação curricular
Enquanto os militares defendem a formação acadêmica atual, pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil refletem sobre a necessidade de uma reavaliação curricular para jovens que querem seguir a formação militar.
“Precisamos começar pela reformatação dos currículos militares, condicionados ainda, em grande medida, pela cultura da guerra fria e de suas atualizações: guerra híbrida, etc. A chave de tudo encontra-se na formação dos militares, a começar pelas Agulhas Negras e pelas demais escolas de formação de oficiais.
Eles são ensinados a manter esta tradição de anjos tutelares. Enquanto isso não mudar, a república democrática não se consolida”, diz o historiador Daniel Aarão Reis, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Na mesma linha de raciocínio, o professor Heraldo Makrakis, pós-doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutor em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, acredita que a reformulação da doutrina é essencial para redesenhar o papel que as Forças Armadas devem cumprir no Estado.
Em 2022, ainda sob Bolsonaro, em entrevista à Agência Pública, o ex-ministro dos direitos humanos Paulo Vannuchi, afirmou que “uma das primeiras tarefas do governante que substituir Bolsonaro seria mexer no currículo das escolas militares”. “A herança da ditadura tem de ser combatida com reforma profunda no ensino militar. É necessário entrar nas Agulhas Negras e fazer uma mudança no ensino militar”, sustenta Vannuchi.