A Marinha do Brasil sempre foi protagonista em grandes momentos da história de nossa nação, não apenas por sua atuação no quesito defesa nacional, mas também por conta de seus posicionamentos em grandes questões políticas, como na Revolta da Armada, ações durante o Movimento dos Marinheiros e Revolta da Chibata. No momento atual a situação não é diferente. Entretanto, o prisma com que esse protagonismo é interpretado varia de acordo com a posição do observador no espectro político atual.
Nas redes sociais, grande espelho do pensamento político da sociedade, militares da Marinha do Brasil na reserva tem reclamado dos xingamentos de “melancia” e “traidores” que são vistos nos perfis oficiais da força na internet. Ouvidos pela revista, alguns militares dizem que as críticas são injustas e que o posicionamento oficial da força é apenas cumprir sua destinação constitucional.
Durante o período em que milhares de brasileiros acreditavam que poderiam convencer as Forças Armadas a implementar a chamada intervenção militar e permaneceram acampados em frente a organizações militares, em frente ao Comando Militar do Leste no Rio de Janeiro, a “barraca da Marinha” do Brasil acabou se tornando uma espécie de marco histórico da participação de alguns militares da reserva durante o polarizado momento político vivido no final de 2022.
O local, segundo indicavam fotografias e vídeos da época, era um dos mais frequentados e servia como centro de distribuição de alimentação e água para os manifestantes que passavam as noites na frente do Comando Militar do Leste.
O almirante Almir Garnier, último comandante durante o governo Bolsonaro, é até hoje mencionado como uma espécie de símbolo de resistência contra o comunismo, como um dos maiores defensores do ex-presidente.
Como um dos últimos atos do seu comando, o oficial general, admirado e elogiado por militantes de direita, chegou a entregar condecorações para jornalistas conhecidos por seu posicionamento conservador, como Rodrigo Constantino e JR Guzzo. O almirante não participou da passagem de comando para o seu sucessor, o que também foi interpretado como um grande ato de heroísmo.
Sobre as condecorações entregues no final de 2022, após processo de solicitação que tramitou na CGU, a Revista Sociedade Militar obteve a resposta da força naval sobre os supostos bons serviços prestados pelos jornalistas.
No que diz respeito a jornalistas condecorados em 2022, como Rodrigo Constantino Alexandre dos Santos, a Marinha não detalha quais foram as boas ações realizadas a favor da Marinha, de maneira genérica diz que são profissionais bem intencionados e confiáveis que expõem o posicionamento institucional da força.
“O Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM) tem selecionado jornalistas que divulga a MB de maneira positiva para serem condecorados com a Medalha Mérito Tamandaré. Eles apresentam comportamento ético e escrevem reportagens equilibradas, que expõem, de maneira oportuna, o posicionamento institucional da Força. São profissionais bem intencionados e confiáveis que tem contribuído na divulgação e no fomento das atividades da Força, bem como no fortalecimento das tradições da Marinha do Brasil, honrando seus feitos ou realçando seus vultos históricos.”
Artigo recente publicado pelo Financial Times mencionou que o posicionamento de Garnier era visto pelos EUA como o menos dócil no que diz respeito a aceitar o resultado das eleições:
“… o ministro da Marinha de Bolsonaro, almirante Almir Garnier Santos, era o mais “difícil” dos chefes militares. “Ele foi realmente tentado por uma ação mais radical”, diz o funcionário. “Então tivemos que fazer todo um trabalho de dissuasão, o departamento de estado e o comando militar dos EUA disseram que iriam romper os acordos [militares] com o Brasil, desde o treinamento até outros tipos de operações conjuntas.”
Hoje, a interpretação de muitos dos que nos perfis sociais da força fazem comentários críticos, é de que o atual Comandante da Marinha, sucessor de Garnier, seria “comunista”, um aliado de Lula. Ele tem sido criticado pela entrega de condecorações para políticos alinhados com o atual governo.