Em trabalho realizado durante um curso de mestrado militar realizado na Marine Corps University, entre 2020 e 2021 instituição de ensino militar ligada à marinha dos Estados Unidos, um oficial superior do corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil – Commander A. de A. Baptista, Brazilian Navy – apresenta cinco possíveis cenários causados pelo crescente estreitamento de laços entre militares chineses e militares brasileiros.
Influência chinesa, cenários
Diz trecho do trabalho de conclusão de curso com cerca de 45 páginas (tradução livre): “A crescente influência chinesa no Brasil pode mudar as relações Brasil-EUA. Primeiro, os EUA podem perceber que a China está preenchendo o vácuo econômico da região e decidir mudar sua postura intensificando as relações com o Brasil. Esse cenário seria bom para o lado brasileiro. Enquanto as grandes potências lutam por influência, o Brasil pode se beneficiar do apoio tanto da China quanto dos Estados Unidos.
No segundo cenário, as grandes potências podem obrigar o Brasil a escolher entre um dos dois países. O Brasil teria que levar em consideração muitos fatores, inclusive sua distância geográfica; relações históricas; identidades sociais, culturais e políticas; e relevância econômico-financeira. Isso seria complicado porque existem muitos domínios onde as duas grandes potências competem por influência no Brasil como este trabalho mostrou até aqui. Dependendo de qual lado o Brasil escolher, a cooperação militar Brasil-Estados Unidos pode se intensificar ou ser encerrada.
No terceiro cenário, os EUA e a China podem iniciar um conflito. Nesse caso, a situação seria a mesma da anterior, porém com respostas mais drásticas e repentinas. Um ponto interessante desse cenário é que ele exige que o Brasil considere que as grandes potências podem exigir que outras nações escolham um lado, cabendo ao Brasil orientar sua estratégia nacional. Como os investimentos nas forças armadas custam dinheiro e tempo para desenvolver capacidades e treinar a força de trabalho, é crucial que o Brasil comece a se preparar para escolher um lado.
No quarto cenário, os EUA podem não ver a influência chinesa no Brasil como uma ameaça e manter suas políticas atuais com cooperação limitada em áreas críticas. Nesse cenário, a cooperação militar Brasil-Estados Unidos não mudaria, e o Brasil deveria continuar tentando se engajar na cooperação militar entre as duas grandes potências.
Em um quinto cenário, os EUA podem decidir mostrar seu soft power diminuindo a cooperação militar com o Brasil por causa de seu envolvimento com a China por meios econômicos. Esse seria um cenário complicado onde o Brasil poderia fortalecer a cooperação militar com a China e perdê-la dos EUA. Entretanto, o Brasil cairia na situação de escolher um lado.”
O texto avança e perto da conclusão o oficial apresenta colocações bastante interessantes para o contexto atual
Como ponto positivo diz que a “influência chinesa no Brasil pode aumentar a cooperação militar Brasil-Estados Unidos. Primeiro, cria oportunidades para o Brasil interagir com as potências militares globais mais significativas, uma vez que as Grandes Potências não exigem que outros países escolham um lado. Em segundo lugar, o Brasil poderia melhorar significativamente sua infraestrutura com o BRI. Em terceiro lugar, poderia encorajar os EUA a reconsiderar o aumento da cooperação militar em áreas sensíveis, como espaço e tecnologias cibernéticas, para evitar a capacidade chinesa de preencher o vácuo onde tradicionalmente os EUA limitam a cooperação.”
Como ponto negativo aponta as possíveis “armadilhas de dívida”, questões que podem levar a um relaxamento da fiscalização do nosso mar territorial ou outras situações e por fim o risco a soberania do país.
“existem armadilhas que o Brasil deve evitar. Alguns autores chamam isso de “diplomacia da armadilha da dívida” e “empréstimos predatórios”, como os casos das Maldivas, Quênia, Tadjiquistão, Sri Lanka e Venezuela.165 Por exemplo, em 2013, a China começou a construir uma base na Argentina para monitorar atividades espaciais por cinquenta anos. No entanto, sabe-se que os militares dirigem o programa espacial chinês. Entre 2016 e 2018, navios de pesca chineses acusados de realizar pesca predatória na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) da Argentina.167 Esses fatos podem ser desconexos. No entanto, podem ser um indicador de que o grau de dependência dos investimentos chineses pode colocar em risco a soberania de um país.
“Isenção de responsabilidade: as opiniões e conclusões expressas neste documento são do autor aluno individual e não representam necessariamente as opiniões do comando e do pessoal do corpo de fuzileiros dos EUA ou de qualquer outra agência governamental. … citação, abstração ou reprodução de todo ou de qualquer parte deste documento é permitido, desde que seja feito o reconhecimento adequado.”
Chinese influence on Brazil; Brazil-US military cooperation, impact; Great Power competition; Economy. Baptista, A. D. A. (Commander – Brazilian Navy) link: https://apps.dtic.mil/sti/citations/AD1177924
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar