“o conteúdo das mensagens transmitidas pelos chefes militares em relação a Caxias e ao Dia do Soldado teria o objetivo de funcionar, simbolicamente, como um “antídoto” contra a indisciplina militar” (Entre Caxias e Osório: a Criação do Culto ao Patrono do Exército Brasileiro Celso Castro)
No texto Entre Caxias e Osório: a Criação do Culto ao Patrono do Exército Brasileiro, Celso Celso, antropólogo, filho de um oficial do Exército, fica bem claro que a reverência que hoje se tem direcionada a Duque de Caxias não foi algo que surgiu espontaneamente no Exército Brasileiro devido a supostas qualidades de bom soldado, herói, pacificador ou quaisquer outras virtudes que tivesse, foi por uma extrema necessidade causada pela indisciplina da oficialidade.
Um novo perfil para um Exército indisciplinado
A veneração ao marechal foi criada por conta da urgência em se criar um novo perfil para o Exército, que nos anos 20 sofreu com uma séria de movimentos de indisciplina, entre eles os movimentos tenentistas de 22 e a Coluna Prestes. Era preemente a substituição de ícones antigos como Osório. Caxias foi o nome escolhido, com um perfil retocado, apresentado como apolítico, disciplinado, líder nato, era o nome que o novo Exército precisava para ser recomposto.
Castro diz ainda: “o objetivo a ser alcançado, no plano simbólico, era a afirmação do valor da legalidade e do afastamento da política, a bem da unidade interna do Exército, despedaçada, nos anos 20, por diversas revoltas internas e clivagens políticas… e “ E “interessante observar que a oficialização do ‘culto a Caxias’ se dá em 1923, ano seguinte à revolta de 5 de julho de 1922, que inaugurou o ‘ciclo tenentista’”
O Exército de Caxias, portanto, na verdade foi criado por pura necessidade, sem o impulso proposital seria o Exército de Osório ou de outro militar qualquer.
O Espadim do cadete
Castro nos remete ainda para um dos principais objetos simbólicos utilizados pelos oficiais em formação, o espadim, que seria uma réplica em tamanho menor da espada de Caxias. Esse objeto na verdade nunca existiu antes na história militar, não tem fundamentação no mundo real, foi algo criado, um elemento que não tem em sua existência outra razão que não seja “compor a nova “tradição” da Escola Militar, encontramos o estandarte, o brasão e os uniformes históricos dos cadetes”.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar
Texto de Celso Castro: https://periodicos.fgv.br/reh/article/view/2112