Em um dos capítulos mais sombrios da história moderna do Oriente Médio, a prisão de Sednaya emergiu como um símbolo brutal do regime de Bashar al-Assad. Construída durante o regime de Hafez al-Assad, pai de Bashar, a instalação localizada a 30 quilômetros ao norte de Damasco foi projetada para ser uma fortaleza impenetrável e um local de repressão extrema. Após a recente queda do ditador Bashar al-Assad em dezembro de 2024, Sednaya voltou ao centro das atenções, revelando horrores que chocaram até mesmo os combatentes mais experientes da oposição.
A criação de um instrumento de terror
Concebida no final da década de 1970, durante o governo de Hafez al-Assad, Sednaya foi planejada para ser mais do que uma simples prisão. Sua construção iniciou-se em 1981 e durou cinco anos, com operações começando em 1987. A prisão dividia-se em duas alas principais – a branca e a vermelha – combinando arquitetura moderna com um design propositalmente opressor e desorientador. A ala vermelha, um verdadeiro labirinto de corredores e celas, era o epicentro da tortura e do sofrimento humano.
Projetada para abrigar até 20 mil prisioneiros, Sednaya frequentemente ultrapassava essa capacidade, forçando detentos a se amontoarem em celas minúsculas, muitas vezes dormindo alternadamente ou em posições desconfortáveis. Além disso, as instalações incluíam câmaras de tortura, locais de execução e áreas de confinamento total onde os detentos ficavam semanas ou meses sem qualquer exposição à luz solar.

Condições de vida degradantes
A vida em Sednaya era marcada por fome extrema, tortura incessante e um silêncio imposto com violência. Os prisioneiros recebiam rações mínimas de comida, frequentemente misturadas com areia ou sangue, enquanto a água era um recurso escasso e disputado. Muitos detentos, reduzidos a esqueletos vivos pela desnutrição, eram obrigados a conviver com corpos de companheiros falecidos, que permaneciam nas celas por dias.
O silêncio era tanto uma regra quanto uma ferramenta de tortura psicológica. Sons de passos, portas se abrindo ou gritos distantes eram usados para gerar medo constante. As câmaras subterrâneas, algumas convertidas em necrotérios improvisados, adicionavam uma dimensão macabra ao ambiente.
Tortura e execuções em massa
Sednaya tornou-se infame pelos métodos brutais de tortura. Entre as práticas mais comuns estavam o “shabeh” – quando prisioneiros eram suspensos por cordas enquanto eram espancados – e o “tapete voador”, uma prancha de madeira que forçava articulações ao ponto de ruptura. Execuções em massa eram frequentes. Estima-se que entre 2011 e 2015, mais de 13 mil pessoas foram enforcadas em Sednaya, segundo a Anistia Internacional.
A Queda de Bashar al-Assad e a Libertação de Sednaya
Com a queda do regime de Bashar al-Assad em dezembro de 2024, forças opositoras tomaram Sednaya, libertando sobreviventes que mal conseguiam acreditar que estavam livres. Muitos estavam em estado de esqueleto vivo, incapazes de andar ou falar. A descoberta das condições na prisão – incluindo salas repletas de documentos e evidências de execuções – trouxe à tona a magnitude dos crimes cometidos ali.
Hoje, Sednaya está fechada, mas continua sendo um poderoso símbolo da repressão e crueldade do regime Assad. Famílias buscam respostas sobre parentes desaparecidos, enquanto grupos de direitos humanos catalogam testemunhos e evidências para futuros julgamentos por crimes de guerra. A história de Sednaya serve como um lembrete urgente da importância de resistir à tirania e lutar por justiça e dignidade humana.