Em pleno Natal, o petroleiro russo Eagle S foi flagrado em uma missão nada convencional no Mar Báltico: espionagem e sabotagem. Suspeito de danificar um cabo de energia submarino que conecta a Finlândia à Estônia, o navio carregava equipamentos de espionagem de alta tecnologia, revelando uma operação secreta disfarçada como transporte marítimo comum.
Abordado por policiais finlandeses, o Eagle S estava equipado com dispositivos transmissores e receptores especiais. A revelação, feita pela Lloyd’s List e reportada por Militarnyi, sugere o uso de alta tecnologia para monitoramento de atividades marítimas, levantando preocupações sobre sua verdadeira finalidade.
Equipamento atípico e indícios de sabotagem
Fontes relataram que o Eagle S carregava dispositivos de vigilância conectados aos sistemas do navio através de “enormes malas portáteis” e vários laptops com teclados em turco e russo. Localizados na ponte de navegação, o ponto mais elevado do navio, esses equipamentos elevaram o consumo de energia elétrica do petroleiro a níveis incomuns, levando ao desligamento do sistema de energia do navio.
Segundo a Lloyd’s List, havia uma pessoa a bordo que não fazia parte da tripulação. A suspeita de sabotagem aumentou com a descoberta de que o petroleiro lançou “dispositivos do tipo sensor” no mar enquanto cruzava o Canal da Mancha. Esses equipamentos, aparentemente utilizados para coleta de dados, nunca retornaram ao navio. Informantes indicaram que dispositivos semelhantes foram instalados em outro petroleiro, o Swiftsea Rider.
Conexão com o incidente do cabo Estlink 2
O Eagle S é investigado por ter danificado deliberadamente o cabo elétrico submarino Estlink 2, que conecta a Finlândia à Estônia. A Guarda de Fronteira Finlandesa interceptou o navio após o incidente, e as autoridades confirmaram que uma de suas âncoras estava quebrada — indício de que pode ter sido usada para cortar o cabo. Além do Estlink 2, três cabos de comunicação no Golfo da Finlândia também podem ter sido afetados.
O Financial Times destacou que o Eagle S, registrado nas Ilhas Cook e transportando petróleo da Rússia para o Egito, diminuiu claramente a velocidade ao passar sobre o cabo no momento do incidente. O petroleiro faz parte da chamada “frota paralela” russa — um grupo de embarcações antigas e mal conservadas usadas para contornar sanções internacionais sobre exportações de petróleo.
Documentação expõe falhas do navio
Relatórios de inspeção do Eagle S, obtidos pela Lloyd’s List, apontam para diversas deficiências de segurança identificadas em junho, quando o navio estava atracado em águas dinamarquesas. O documento é parte de um conjunto de 60 arquivos confidenciais sobre o petroleiro, verificados como autênticos.
O navio, atualmente sob controle das autoridades finlandesas, é suspeito de integrar uma estratégia deliberada de sabotagem da infraestrutura energética e de comunicação na região do Mar Báltico, onde outros incidentes similares foram registrados nos últimos meses.
Contexto de tensões no Mar Báltico
O incidente envolvendo o Eagle S ocorre em meio a uma série de ataques suspeitos contra infraestrutura submarina na região. No mês passado, o graneleiro chinês Yi Peng 3 foi ligado ao corte de cabos de dados que conectam a Finlândia à Alemanha e Suécia. Segundo o Wall Street Journal, a inteligência russa teria instruído o capitão do Yi Peng 3 a danificar os cabos usando sua âncora.
A NATO enfrenta dificuldades para responder a esses ataques, evitando acusações diretas contra a Rússia para não gerar pânico. Porém, os incidentes sublinham a vulnerabilidade da infraestrutura crítica europeia em meio a tensões geopolíticas crescentes.
Implicações e investigações em curso
Autoridades finlandesas afirmam que o dano ao Estlink 2 não afetou o fornecimento de eletricidade do país. A usina nuclear recentemente inaugurada na Finlândia garantiu estabilidade ao sistema elétrico local. No entanto, o caso do Eagle S é visto como um alerta sobre os riscos representados pela frota paralela russa e outras embarcações envolvidas em atividades suspeitas no Mediterrâneo e no Mar Báltico.