O número de militares no Exército, Marinha e FAB (Força Aérea Brasileira) vem diminuindo nos últimos 4 anos. Dados levantados pelo portal Revista Sociedade Militar junto ao Ministério da Defesa via Lei de Acesso à Informação mostram que de 2020 a 2024, as Forças tiveram uma redução de 22,3 mil militares. O contingente era de 381,8 mi militares em 2020, mas passou para 351,7 mil militares em 2024, o que representa queda de 6,4%.
O Exército lidera a diminuição de contingente em números absolutos, com 10,4 mil integrantes a menos. A Aeronáutica vem em seguida, com 6 mil e, por fim, a Marinha com diminuição de 5,8 mil militares.
Em números proporcionais, a FAB é a principal afetada. A Força Aérea teve diminuição de efetivo de 7,54%, enquanto na Marinha esse número foi de 6,92% e no Exército de 4,73%.
A diminuição não é uma fatalidade, mas proposital. Ao menos, foi o que deu a entender o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no dia 10 de fevereiro deste ano.
Quando questionado pelo jornalista Cézar Feitosa, da Folha de São Paulo, de por que o Brasil aumentou o contingente militar em 26% desde a criação do Ministério da Defesa em 1999 enquanto países como França e Reino Unido reduziram em 36% e 27%, respectivamente – devido à aposta maior em tecnologias -, o ministro negou que a nação verde e amarela seguia na contramão.
“Marinha já diminuiu, Aeronáutica já diminuiu e Exército também já diminuiu”, rechaçou Múcio, sem citar números.
Com o pedido do portal Revista Sociedade Militar, a Defesa confirmou a fala de Múcio se embasando nos números repassados.
Especialista afirma que tecnologia e economia podem levar à redução de militares nas Forças Armadas

De acordo com o professor e coordenador do curso de pós-graduação em Estudos Estratégicos e Relações Internacionais da UFF (Universidade Federal Fluminense), Eduardo Heleno, a diminuição do efetivo pode acontecer a partir do momento em que os países têm uma capacidade tecnológica melhor.
“A tendência hoje, dependendo da operacionalidade da Força e da missão, é que os equipamentos tenham mais tecnologia e possam ser operados com uma quantidade menor de militares. Então, um navio que hoje tem uma tropa de 100 militares só para operar, por exemplo, no futuro pode ter uma quantidade menor de pessoas atuando. Então, o aumento da tecnologia pode levar à redução de efetivo sim”.
Heleno também aproveitou para citar outros momentos em que houve mudança no efetivo das Forças Armadas Brasileiras.
“Os efetivos aumentaram um pouco na década de 2010, muito devido aos jogos que o Brasil estava sediando. E depois teve uma redução”.
O professor também mencionou exemplos de outros países.
“Isso [a redução de militares nas Forças] não acontece só com o Brasil e são vários os fatores que definem se você tem maior ou menor efetivo. A China, por exemplo, teve uma grande redução de efetivo na década de 80 para 90. Porque os custos não compensavam para os objetivos estratégicos do país. E o investimento que deveria ser feito, foi feito em ciência e tecnologia”.
Para além da questão tecnológica, o especialista apontou o fator econômico como um dos balizadores do tamanho do efetivo de militares. No Brasil, especialmente, isso esbarra na questão previdenciária.
“Nós temos um orçamento e depois, em cada ano, há uma redução na proposição do Congresso (…) Ganhamos um pouquinho e gastamos muito na previdência e com pensões. Então, reduzindo o efetivo, você diminui também um pouco dessa carga, principalmente entre os oficiais de carreira”.
A estimativa do Ministério da Defesa é que de 2015 a 2024 as Forças Armadas perderam 48% de recursos orçamentários.