Imagine receber um caça militar moderno como presente, e descobrir que ele não tem asas, nem motor.
Foi isso que aconteceu com a Ucrânia em 2025, quando os Estados Unidos decidiram retomar sua ajuda militar com um gesto, no mínimo, curioso.
Segundo a materia do portal ”xataka Brasil”, em vez de caças prontos para voar, os norte-americanos enviaram fuselagens sucateadas de F-16, armazenadas há anos no famoso “cemitério de aeronaves” do Arizona.
Mas o que parece piada tem um papel crucial no campo de batalha.
Washington reconstrói pontes com Kiev
Após meses de relações tensas, o governo dos Estados Unidos voltou a investir pesado na Ucrânia, agora sob a nova gestão de Donald Trump.
A reaproximação veio com um pacote estratégico: um acordo bilateral para acesso e exploração de terras raras e minerais estratégicos ucranianos, como titânio, zircônio, manganês e grafite.
Segundo autoridades norte-americanas e ucranianas, o tratado não apenas fortalece os laços econômicos, mas também pavimenta o caminho para novos fluxos de investimento e, principalmente, transferência de tecnologia.
O Fundo de Investimento para a Reconstrução EUA–Ucrânia será o instrumento central do acordo.
Com participação igual de ambos os países, o fundo promete gerenciar novas licenças de exploração sem afetar empresas já estabelecidas.
Acordo sem dívidas, mas com poder
Um dos pontos mais simbólicos da parceria foi a decisão dos EUA de não impor dívidas à Ucrânia como contrapartida pela ajuda.
Essa medida responde diretamente às críticas anteriores de Trump, que chegou a alegar que os Estados Unidos haviam doado mais de 350 bilhões de dólares a fundo perdido, valor contestado por órgãos oficiais.
A ministra da Economia da Ucrânia, Yulia Svyrydenko, destacou que o acordo garante que fundos públicos existentes não serão usados e que a gestão se concentrará apenas em novas licenças.
Defesa em segundo plano? Nem tanto
Embora o pacto não mencione abertamente envio de armamentos, a retomada da ajuda militar ficou implícita em declarações da Casa Branca e do presidente Trump.
O próprio Zelensky afirmou que a aliança permitirá obter tecnologias cruciais para a defesa do país, especialmente sistemas de proteção aérea, num momento em que a Ucrânia ainda enfrenta ataques intensos da Rússia.
De acordo com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, o acordo representa um sinal inequívoco para Moscou de que os Estados Unidos permanecem ao lado da Ucrânia a longo prazo.
Um presente curioso: F-16 sem motor, radar ou asas
Logo após o anúncio oficial do acordo, a Força Aérea dos EUA confirmou o envio de aeronaves F-16 desativadas para a Ucrânia.
Esses caças não voam, não têm sistemas operacionais e estão em estado de conservação variável.
Mesmo assim, foram carregados em aviões cargueiros An-124 e levados para a Polônia, destino logístico de equipamentos bélicos destinados ao front ucraniano.
Afinal, para que servem?
Essas carcaças de caças, conhecidas como “fuselagens cadáver”, são fontes valiosas de peças de reposição, como atuadores hidráulicos, sistemas eletrônicos, carenagens e trem de pouso, elementos críticos para manter operacionais os F-16 realmente ativos.
F-16 reais, mas com limitações
A Ucrânia deve receber até 85 unidades do F-16 em condições de voo, oriundas de países como Países Baixos, Dinamarca, Noruega e Bélgica.
No entanto, muitos desses aviões serão usados apenas para treinamento de pilotos na Romênia, e outros dependem de atualizações para operar plenamente.
Além disso, já houve perdas no campo de batalha, com pelo menos dois caças abatidos em missões defensivas, reforçando a urgência por manutenção constante e reposição de peças.
Cemitério de aviões vira centro de suprimentos
A base aérea de Davis-Monthan, no Arizona, é o maior depósito de aeronaves militares do mundo.
Lá estão armazenadas centenas de F-16 dos modelos A, B, C e D, muitos dos quais em estado irrecuperável.
Mesmo assim, algumas fuselagens ainda contêm componentes aproveitáveis, que agora alimentam a cadeia de logística da Força Aérea Ucraniana.
Alguns F-16 aposentados foram transformados em aviões agressor para treinamento militar dos EUA, ou adaptados como alvos voadores controlados remotamente (QF-16).
O desafio logístico da nova frota ucraniana
Integrar os F-16 ocidentais a uma força aérea habituada a caças de origem soviética é um dos maiores desafios técnicos enfrentados pela Ucrânia em 2025.
A mudança envolve não apenas formação de pilotos e aquisição de doutrina, mas a criação de uma estrutura de manutenção totalmente nova.
Isso inclui oficinas, sistemas de diagnóstico, procedimentos de segurança e toda uma cadeia de fornecimento de peças, que os F-16 do Arizona agora ajudam a compor.
Mesmo sem decolar, esses caças americanos têm valor estratégico incalculável.
Armas sofisticadas, mas dependentes de peças
Os F-16 que chegam à Ucrânia são equipados com mísseis AIM-9X, AIM-120 AMRAAM e bombas guiadas GBU-39/B, configuradas em racks BRU-61.
Eles também recebem tanques extras de combustível e sistemas de guerra eletrônica como o AN/ALQ-131, que aumentam a autonomia e a proteção contra ameaças.
Porém, sem peças de reposição, até os armamentos mais avançados tornam-se inúteis.
Nesse cenário, as fuselagens enviadas dos EUA se tornam peças-chave para garantir que os caças em atividade continuem prontos para o combate.