Uma nova medida adotada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos voltou a sacudir o debate sobre diversidade, inclusão e direitos humanos dentro de instituições militares.
Em meio a decisões judiciais controversas, discursos inflamados e o acirramento da polarização política no país, a ordem executiva assinada pelo ex-presidente Donald Trump, que já vinha sendo contestada há anos, finalmente entrou em vigor.
O resultado? Uma das maiores ações de desligamento coletivo já vistas contra uma minoria dentro do Exército norte-americano.
Um anúncio que surpreendeu até os quartéis
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos começou a remover, de forma imediata, cerca de mil militares que se identificam como transgêneros.
De acordo com informações do portal ”UOL” e com o memorando oficial divulgado pelo Pentágono em 8 de maio de 2025, esses profissionais aceitaram, em sua maioria, deixar voluntariamente suas posições nas Forças Armadas.
Além disso, o órgão deu um prazo adicional de 30 dias para que outros militares trans manifestem sua saída de forma espontânea, com o período se encerrando em 6 de junho de 2025.
Aqueles que não se apresentarem até essa data serão formalmente expulsos, o que poderá resultar na perda de benefícios previdenciários e militares.
Essa decisão foi tomada com base em uma ordem executiva emitida pelo ex-presidente Donald Trump em janeiro de 2025, a qual proíbe o serviço militar de pessoas transgênero em qualquer setor das Forças Armadas.
Supremo Tribunal dos EUA deu aval à medida
Apesar da controvérsia jurídica, a Suprema Corte norte-americana autorizou a aplicação da medida, mesmo diante de ações judiciais em curso que questionam sua constitucionalidade.
No entendimento da Corte, o Executivo tem prerrogativa para impor exigências ao serviço militar com base em critérios de segurança, saúde e coesão organizacional.
A ordem de Trump afirma que “expressar uma falsa ‘identidade de gênero’ diferente do sexo biológico de um indivíduo não pode satisfazer os rigorosos padrões necessários para o serviço militar”.
Segundo o atual secretário da Defesa, Pete Hegseth, as separações voluntárias deverão ser concluídas até 26 de março de 2025.
Após esse período, será iniciada a remoção involuntária dos demais militares trans, o que gerou críticas dentro e fora do aparato militar.
Transgêneros são considerados “incompatíveis” com exigências militares
Em documentos internos, o Pentágono afirmou que a disforia de gênero é considerada uma condição incompatível com os altos padrões físicos e psicológicos exigidos pelas Forças Armadas dos EUA.
Segundo o memorando, as restrições médicas, cirúrgicas e psicológicas relacionadas a essa condição tornariam o desempenho militar comprometido, especialmente em situações de combate, deslocamento ou atividades de elite.
O termo “disforia de gênero” descreve a sensação de inadequação entre o gênero atribuído no nascimento e a identidade de gênero vivida pela pessoa.
Em contextos militares, essa condição exige acompanhamento psicológico contínuo, acesso a tratamentos hormonais e, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos — o que, na visão do Pentágono, compromete a prontidão e a mobilidade das tropas.
Exclusão se aplica até mesmo a soldados com bom desempenho
O memorando ainda prevê que até militares com histórico de excelência, se identificados como trans, serão desligados, salvo exceções analisadas individualmente.
No total, segundo dados do próprio Pentágono, há pelo menos 4.240 militares em serviço — ativos, na reserva ou na Guarda Nacional — que foram diagnosticados com disforia de gênero.
Esse número, porém, pode ser muito maior, já que muitos soldados evitam revelar sua identidade de gênero com receio de retaliações ou estigmatização.
Política de Trump reverte avanços democratas
Durante os mandatos dos presidentes democratas Barack Obama e Joe Biden, houve esforços significativos para permitir que pessoas transgênero servissem abertamente no Exército.
Essas políticas de inclusão foram vistas como marcos nos direitos LGBTQ+ dentro da estrutura militar.
No entanto, a chegada de Trump à Casa Branca promoveu uma guinada conservadora e hostil à diversidade, com diversas ações voltadas a reverter políticas de igualdade.
Entre as medidas estão o veto ao uso de banheiros por identidade de gênero, cortes em campanhas educativas sobre diversidade e bloqueios a bolsas de estudo voltadas a minorias.
Organizações como a Human Rights Campaign, a ACLU e o GLAAD já se pronunciaram contra a nova política militar, afirmando que ela fere a dignidade e o direito constitucional à igualdade de tratamento para todos os cidadãos americanos.