Artigo escrito pelo Capitão de Fragata Alcides Barrenechea López, que é instrutor na Universidade do Exército dos Estados Unidos, publicado na Diálogo Américas, se encaixa na linha da revista militar ao mencionar China e Rússia como duas ameaças contra a estabilidade regional na América latina. O oficial aborda as mudanças significativas no cenário geopolítico da América Latina, com foco especial no treinamento militar e no comércio de armas. Ele menciona que historicamente os militares da região são alinhados com as potências da OTAN, mas ressalta que há risco de mudança com o crescente envolvimento da China e da Rússia na região.
A Diálogo Américas é uma publicação considerada estratégica pelo governo dos Estados Unidos. Financiada pelo Departamento de Defesa, a publicação divulga textos em português, espanhol e inglês e é bastante lida por oficiais generais de Exércitos do Brasil, Colômbia e Perú.
Lopez explica que durante a Guerra Fria, a América Latina teve um papel estratégico no cenário geopolítico global, com alianças e acordos militares principalmente com os Estados Unidos e outras potências da OTAN. As alianças acabaram gerando programas de treinamento militar e comércio de armas, fortalecendo as capacidades de defesa da região. Entretanto, China e Rússia tem surgido como novos atores, aumentando sua presença e envolvimento na América Latina.
Segundo o militar, a China expandiu sua presença através de investimentos e desenvolvimento de relações bilaterais, enquanto a Rússia reavivou relações soviético-socialistas, buscando novas alianças. O oficial deixa claro que a presença desses países tem gerado inquietação nos norte-americanos. Ressalta que ambos têm fornecido tecnologia militar avançada, como drones e sistemas de mísseis antiaéreos, além de programas de treinamento militar.
López ressalta que o crescente envolvimento da China e da Rússia apresenta desafios e implicações geopolíticas e de segurança para a América Latina. Para ele existe o risco de enfraquecimento das relações de diplomacia militar com os EUA e OTAN e até de uma possível corrida armamentista regional. Ele enfatiza a necessidade de os países latino-americanos avaliarem suas capacidades de treinamento e armamento para enfrentar esses desafios, mantendo a estabilidade e a segurança regionais. Revista Sociedade Militar
Texto original na Diálogo Américas
A nova batalha silenciosa: treinamento militar e armas da China e da Rússia na América Latina / CAPITÃO DE FRAGATA ALCIDES BARRENECHEA LÓPEZ, MARINHA DO MÉXICO
Nas últimas décadas, o cenário geopolítico da América Latina passou por mudanças significativas, principalmente na área de treinamento militar e comércio de armas. Embora a região tenha historicamente mantido relações estreitas com as potências da OTAN, o crescente envolvimento da China e da Rússia sinaliza uma mudança no cenário de segurança e defesa. Instituições como o Instituto de Cooperação em Segurança do Hemisfério Ocidental (WHINSEC) têm desempenhado um papel importante na colaboração e no fortalecimento das relações entre as forças armadas de nações amigas e os países da OTAN, contribuindo para um ambiente hemisférico mais unificado. Começando com uma exploração da evolução histórica do treinamento militar na América Latina, este artigo tem como objetivo examinar o papel emergente da China e da Rússia no comércio de armas e no treinamento militar na região, a fim de analisar as implicações e os desafios que isso representa para a geopolítica e a segurança na América Latina.
Durante a Guerra Fria, a América Latina desempenhou um papel estratégico no tabuleiro de xadrez geopolítico global. A maioria das nações latino-americanas estabeleceu alianças e acordos militares com os Estados Unidos e outras potências da OTAN. Essas alianças, refletidas em programas de treinamento militar e comércio de armas, fortaleceram as capacidades de defesa da região. A Iniciativa Internacional de Assistência à Segurança e os acordos bilaterais com países europeus são os arranjos mais notáveis para a assistência militar dos EUA na região. Entretanto, com o fim da Guerra Fria, novos atores surgiram no cenário regional. A China e a Rússia, em particular, aumentaram sua presença e envolvimento na região, dando início a uma nova era de relações militares e comércio de armas na América Latina.
Ao longo do século XX, o treinamento militar e o comércio de armas na América Latina evoluíram significativamente sob a influência das potências ocidentais. Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos estabeleceram uma série de programas de assistência militar e acordos de cooperação com os países latino-americanos. Esses programas incluíam o treinamento de oficiais e soldados, bem como o fornecimento de equipamentos e armamentos. Na década de 1980, a cooperação militar se expandiu para incluir várias nações europeias. A compra de aviões de combate e veículos blindados entre as nações europeias e a América Latina são exemplos claros dessa expansão. Os avanços na tecnologia militar têm sido um fator essencial na evolução das forças armadas da região.
Por outro lado, o início do século XXI na América Latina marcou uma mudança no foco da cooperação hemisférica. Ele promoveu um interesse em questões de proteção civil, crime organizado transnacional e combate ao tráfico de drogas. Essa mudança gerou uma reorientação mais holística e complexa da cooperação militar, que não se limita ao treinamento e aos armamentos convencionais.
Nas últimas duas décadas, o envolvimento da China e da Rússia na América Latina registrou um aumento significativo em termos de treinamento militar e comércio de armas. A China impulsionou sua presença por meio de investimentos econômicos e do desenvolvimento de relações bilaterais. A Rússia, por sua vez, reavivou suas relações soviético-socialistas e buscou novas alianças. Em termos de tecnologia e equipamentos, a China tem fornecido drones a vários países latino-americanos, enquanto a Rússia tem vendido sistemas avançados de mísseis antiaéreos para a região. Além disso, ambos os países ofereceram programas de treinamento militar para oficiais latino-americanos. Por exemplo, os institutos militares chineses começaram a oferecer cursos de treinamento em espanhol, e a Rússia aumentou o número de vagas militares e bolsas de estudo para estudantes latino-americanos.
Da mesma forma, a cultura e a diplomacia militar chinesa e russa estão tendo um impacto na América Latina. A abertura de centros culturais chineses e o aumento das visitas de altos oficiais militares russos à região indicam o fortalecimento das relações não apenas em nível governamental, mas também em nível militar, cultural e social. Essas relações têm o potencial de remodelar as relações intra-latino-americanas à medida que as nações da região ponderam suas associações históricas com as potências ocidentais em relação às oportunidades emergentes com a China e a Rússia.
O crescente envolvimento da China e da Rússia no treinamento militar e no comércio de armas na América Latina apresenta desafios e implicações geopolíticas e de segurança. Essa diversificação de alianças militares tem o potencial de enfraquecer as relações de diplomacia militar com os EUA e os países da OTAN, que historicamente têm sido um componente fundamental da segurança do hemisfério. Além disso, a maior disponibilidade de tecnologia militar avançada corre o risco de alimentar uma corrida armamentista regional. Diante dessa realidade, a América Latina enfrenta o desafio de equilibrar as relações com as potências globais e gerenciar seu treinamento e aquisição militar de forma a contribuir para a estabilidade e a segurança regionais.
O crescente envolvimento da China e da Rússia no treinamento militar e no comércio de armas da América Latina é uma batalha silenciosa que evidencia uma mudança significativa no cenário de segurança regional. As causas multifatoriais que ameaçam a defesa e a segurança na região exigem uma revisão do escopo das alianças atuais e dos acordos de colaboração hemisférica. Diante desse cenário em constante evolução, é imperativo que os países da região avaliem suas capacidades de treinamento e armamento para enfrentar os desafios geopolíticos e de segurança que estão por vir. As potências globais e os países latino-americanos têm instituições militares para a segurança hemisférica (por exemplo, o WHINSEC) que funcionam como pontos focais importantes para a colaboração e a cooperação hemisféricas. Essas instituições precisam ser levadas em consideração na tomada de decisões estratégicas para a estabilidade regional.
Em face da evolução do treinamento militar e do comércio de armas na América Latina, é fundamental que as nações da região tomem medidas conjuntas. A otimização da cooperação e do diálogo hemisférico são elementos fundamentais para enfrentar os desafios geopolíticos e de segurança. A colaboração estreita e o entendimento mútuo são as únicas ações reais para garantir um futuro estável e próspero para a América Latina. É hora de refletirmos juntos e forjarmos um caminho para a segurança e a paz duradouras!
O Capitão de Fragata Alcides Barrenechea López, da Marinha do México atualmente atua como instrutor internacional visitante do Curso de Comando e Estado-Maior do Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança (WHINSEC); ele também se destaca como professor e presidente do comitê de teses no Programa de Mestrado em Artes e Ciências Militares da Faculdade de Comando e Estado-Maior da Universidade do Exército dos Estados Unidos. – Fonte: https://dialogo-americas.com/pt-br/articles/a-nova-batalha-silenciosa-treinamento-militar-e-armas-da-china-e-da-russia-na-america-latina/