Em uma decisão inusitada, o presidente venezuelano Nicolás Maduro anunciou que o Natal será comemorado a partir do dia 1º de outubro em 2024.
A medida gerou repercussão imediata, principalmente pela postura da Igreja Católica, que se posicionou contra a utilização da data cristã para fins políticos.
Durante uma transmissão em rede nacional, Maduro declarou: “Este ano, em homenagem e gratidão a vocês, vou decretar o Natal para 1º de outubro”. Maduro fez a declaração no dia 2 de setembro deste ano. Além disso, o líder chavista reforçou que a medida traria “paz, felicidade e segurança” ao povo venezuelano.
O anúncio surpreendeu muitos, embora essa não seja a primeira vez que o chavismo adiante o Natal. Nos anos de 2019, 2020 e 2021, se adotaram medidas semelhantes, sempre sob a justificativa de promover um clima de união e tranquilidade em tempos de crise. No entanto, o adiantamento da data natalina recebe críticas de ser apenas uma manobra política para desviar a atenção de questões internas mais graves, como a economia em colapso e a constante repressão à oposição.
Controvérsia eleitoral e tensão política
O anúncio de Maduro aconteceu apenas algumas horas após o sistema judiciário venezuelano emitir um mandado de prisão contra Edmundo González Urrutia. Trata-se do candidato da oposição que, de acordo registros eleitorais, teria vencido as eleições presidenciais de 28 de julho com ampla margem de votos. Apesar dos dados publicados pela oposição, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo regime chavista, declarou Maduro como vencedor, em um processo eleitoral amplamente contestado.
A antecipação do Natal, nesse contexto, recebeu dos críticos a opinião de ser uma maneira de desviar a atenção das tensões políticas crescentes no país. Ao criar um clima festivo prematuro, o regime busca mascarar a realidade vivida por milhões de venezuelanos, que sofrem com a crise humanitária, a falta de alimentos e medicamentos, e a repressão política.
A resposta da Igreja Católica
A Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) não demorou a se manifestar. De acordo com um comunicado divulgado em 3 de setembro, a Igreja criticou a decisão de Maduro de adiantar a celebração natalina. Segundo o episcopado, o Natal “não deve ser utilizado para propaganda ou fins políticos particulares”.
O CEV ressaltou que o Natal é sobretudo uma celebração sagrada que simboliza o nascimento de Jesus Cristo e que sua celebração deve seguir orientações da autoridade eclesiástica. Além disso, a CEV ressaltou que é necessário garantir que se preserve o verdadeiro espírito da data. De acordo com a Igreja, “o Natal é um tempo de reflexão, de paz e de amor, e deve ser respeitado como tal”.

A crítica da Igreja Católica reflete o sentimento de muitos venezuelanos que veem a medida como uma tentativa de manipulação política. Em um país devastado pela crise econômica e social, o governo de Maduro parece buscar na antecipação das festas um meio de ganhar apoio popular e desviar as atenções das denúncias eleitorais que ameaçam sua legitimidade no poder.