Os cortes de gastos anunciados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Ministério da Defesa estão gerando forte reação entre os militares. O governo projeta economizar R$ 4 bilhões em dois anos com medidas que incluem mudanças significativas na Previdência das Forças Armadas, mas enfrentam forte resistência da categoria.
Sem um relator definido no Congresso para o projeto de lei, os militares já iniciaram um intenso lobby junto aos parlamentares, principalmente da oposição, para alterar os pontos mais polêmicos do texto. Entre as principais questões contestadas estão a imposição de uma idade mínima de 55 anos para aposentadoria e mudanças no cálculo do soldo.
A tensão aumentou após a divulgação de um vídeo da Marinha do Brasil que questiona a concessão de privilégios aos militares, gerando mal-estar no governo e fechando o canal de diálogo entre o Planalto e as Forças Armadas. Com o ministro da Defesa, José Múcio, aparentemente alheio à questão, a estratégia dos militares é buscar aliados entre parlamentares influentes.
Desconfiança e ressentimento em meio à crise política
Além das discussões técnicas, há um clima de desconfiança e ressentimento entre as Forças Armadas e o governo federal. Militares veem as medidas como parte de um suposto “revanchismo” do governo petista, especialmente em um momento em que a reputação das Forças está fragilizada por investigações relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Um oficial do Exército, em caráter reservado, relatou ao portal O Antagonista que a categoria sente que está sendo alvo de uma campanha de desmoralização. “Não há mais esperança de diálogo com o governo. Nossa única alternativa agora é buscar apoio na oposição”, afirmou.
Os cortes também provocam discussões sobre o impacto nas bases das Forças Armadas, com servidores questionando como as mudanças podem afetar o direito adquirido de se aposentar com o último salário integral. Segundo militares, a proposta de revisão desse benefício é encarada como uma afronta direta à categoria.
Mourão defende militares e critica gestão do governo
No Congresso Nacional, o senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) tem sido uma das vozes mais atuantes na defesa dos interesses militares. Em discurso no Senado, Mourão afirmou que os militares devem manter o direito ao soldo integral até a morte, já que ficam à disposição do país durante toda a carreira, mesmo na reserva.
Mourão também criticou a gestão do fundo de pensão das Forças Armadas, que é administrado pelo governo federal. “Nossas pensões não fazem parte do Orçamento. Se o governo administra mal o fundo, o problema não é nosso. Temos, sim, regras especiais para a inatividade e defenderemos sempre a integralidade e a paridade”, declarou o senador.
Outro ponto de atrito é a proposta de idade mínima para aposentadoria. Os militares afirmam que a medida pode criar um congestionamento nas fileiras, já que oficiais aptos para se aposentar seriam obrigados a permanecer em serviço até os 55 anos, dificultando a entrada de novos profissionais.
Impactos nas bases e possível revisão do texto no Congresso
Durante a transição do governo Lula, representantes das Forças Armadas alertaram integrantes do novo governo sobre os impactos negativos das medidas propostas. Militares reforçaram que mudanças no sistema de aposentadoria, especialmente a retirada de direitos adquiridos, seriam recebidas como um ataque à categoria.
Com parlamentares de oposição sendo os principais aliados das Forças Armadas, a expectativa é de que o texto do projeto de lei sofra ajustes significativos. Assessores militares em gabinetes estratégicos devem atuar para intensificar as articulações políticas contra os cortes anunciados por Haddad.
O cenário aponta para um debate acirrado no Congresso Nacional, com militares e parlamentares buscando um equilíbrio entre as necessidades fiscais do governo e a preservação dos direitos da categoria. O desfecho dessa disputa será determinante para o futuro das Forças Armadas no Brasil.