Novos documentos confidenciais dos Arquivos JFK, recentemente desclassificados por ordem do presidente Donald Trump, revelam detalhes sobre a captura de um brasileiro treinado em Cuba que transportava uma mala cheia de munições destinada a campos de guerrilha no território nacional. O documento, parte das “Draft Briefing Notes” de 18 de fevereiro de 1963, expõe a complexa rede de financiamento cubano para operações subversivas em toda a América Latina, incluindo o Brasil.
Arsenal interceptado a caminho de campos guerrilheiros
“Apenas no mês passado, um dos primeiros brasileiros a receber treinamento de guerra de guerrilha em 1961 foi detido com uma mala cheia de munição que estava carregando para alguns daqueles mesmos campos de treinamento de guerrilha expostos quando o avião Varig caiu no Peru”, revela o documento classificado como “SECRET”.
A interceptação deste brasileiro armado ocorreu pouco mais de um ano antes do golpe militar de 1964, evidenciando as preocupações com a influência cubana no Brasil que posteriormente seriam usadas para justificar a deposição do presidente João Goulart.

Conexão triangular: Brasil, Cuba e China comunista
Em uma revelação surpreendente, o documento indica que o dinheiro para financiar operações subversivas no Brasil poderia ter origem além de Cuba: “Curiosamente, os brasileiros acreditam que o dinheiro que Cuba havia fornecido para os campos na verdade veio da China comunista”.
Esta informação sugere uma complexa rede de financiamento internacional para atividades revolucionárias no Brasil, com Cuba possivelmente atuando como intermediária para recursos provenientes da China comunista de Mao Tsé-Tung.
Advogada carioca como intermediária
O memorando também revela o papel de intermediários brasileiros: “O homem com a mala cheia de munição disse que uma mulher advogada no Rio lhe havia dado o dinheiro para comprar uma grande quantidade de munição para um novo campo de guerrilha”.
“Sabemos que esta mulher é uma intermediária nas comunicações entre as Ligas Camponesas pró-comunistas, que administraram os campos, e a embaixada cubana”, acrescenta o documento, expondo a estrutura organizacional que conectava grupos brasileiros à influência cubana.
Financiamento através de diplomatas e malas de dinheiro
Os documentos descrevem o método principal de financiamento: “O financiamento cubano de operações subversivas na América Latina é fácil de verificar e difícil de documentar. Nossas evidências mostram que geralmente é realizado por mensageiros transportando dinheiro em espécie”.
Em outros países da região, “diplomatas cubanos pagaram pela impressão de propaganda de grupos de fachada”, segundo o documento, que detalha como “transferências bancárias envolvidas” eram utilizadas para que “o dinheiro cubano eventualmente chegasse a grupos de fachada latino-americanos para pagar por atividades políticas e de propaganda”.
Guerrilhas e assaltos a bancos como autofinanciamento
O relatório também menciona como grupos revolucionários praticavam assaltos a bancos para se autofinanciar: “O princípio de que os guerrilheiros devem ser autossustentáveis obviamente foi aplicado às finanças também. Os comunistas organizaram ondas de assaltos a bancos na Venezuela, Peru e Argentina”.
Detalhes específicos incluem um assalto espetacular “em um subúrbio de Lima no ano passado que rendeu quase $100.000”, e operações semelhantes na Venezuela e Argentina, demonstrando um padrão regional de financiamento através de ações armadas.
Impacto histórico das revelações
A liberação destes documentos ocorre em um momento crítico para a reavaliação histórica do período que antecedeu o regime militar brasileiro. As informações agora disponíveis podem alterar significativamente a compreensão das motivações e circunstâncias que levaram ao golpe de 1964.
O documento, parte da Coleção de Registros do Assassinato do Presidente John F. Kennedy, está agora disponível para pesquisadores e historiadores nos Arquivos Nacionais dos EUA, conforme determinado pela Ordem Executiva presidencial de 17 de março de 2025.