A Marinha do Brasil estuda a substituição de seus atuais blindados SK-105 Kürassier, conhecidos entre os militares como “fumacê austríaco”. Fabricados entre as décadas de 1960 e 1980 na Áustria, esses tanques leves foram adquiridos pelo Brasil no final dos anos 1990 com o objetivo de reforçar a capacidade operacional dos Fuzileiros Navais. Hoje, no entanto, esses veículos se encontram tecnicamente defasados, apresentando sinais claros de desgaste e comprometendo a prontidão militar das Forças Armadas.
Com blindagem leve e um canhão de 105 mm, os SK-105 foram projetados para oferecer mobilidade em terrenos difíceis, ao mesmo tempo em que garantiam suporte de fogo em missões de escolta e combate. No entanto, a ausência de modernizações nos últimos anos fez com que esses tanques passassem a apresentar problemas sérios de desempenho. Durante eventos públicos, como o desfile da Marinha em Brasília realizado antes da Operação Formosa de 2021, os blindados soltaram densa fumaça preta, um sinal visível do estado crítico de seus motores a diesel. A imagem chamou atenção da opinião pública e expôs o envelhecimento da frota.
Além disso, o número de veículos operacionais é limitado. De acordo com fontes internas da própria Marinha, poucos SK-105 estão atualmente em condições de rodar. O número de blindados que ainda consegue realizar disparos com seu armamento principal é ainda menor. Essas limitações tornam os blindados austríacos uma preocupação crescente dentro do Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra.
Obsolescência, falta de peças e limitações de combate colocam em risco a capacidade operacional
Ao longo dos anos, a manutenção dos tanques SK-105 tornou-se cada vez mais difícil. A escassez de peças de reposição, aliada à falta de suporte técnico internacional, dificulta a realização de reparos. Por serem veículos com projeto datado dos anos 60 e 70, a logística de manutenção tornou-se um verdadeiro desafio para os técnicos da Marinha do Brasil.
Adicionalmente, esses blindados enfrentam restrições quanto ao seu emprego em cenários de combate moderno. Em tempos de conflitos assimétricos, como os que ocorrem no Oriente Médio ou na Europa Oriental, tanques leves e com blindagem deficiente se tornam alvos fáceis para armamentos antitanque portáteis ou drones armados. Isso acentua ainda mais a urgência da substituição por modelos com proteção balística superior, eletrônica embarcada atualizada e melhor desempenho tático.
Em declarações públicas, o vice-almirante Carlos Chagas, oficial da Marinha do Brasil, confirmou que os blindados austríacos estão “no fim de sua vida útil”. Segundo ele, a instituição já reconhece a necessidade de substituição desses equipamentos. Entretanto, o processo depende de liberação orçamentária e da definição de prioridades por parte do alto comando e do governo federal.
É importante destacar que a substituição dos SK-105 não se trata apenas de uma atualização tecnológica. Trata-se de uma exigência estratégica, que impacta diretamente a capacidade de projeção de força da Marinha do Brasil, especialmente em operações terrestres de apoio aos Fuzileiros Navais em áreas costeiras ou missões no exterior.
Substituição depende de orçamento e possíveis parcerias com a Base Industrial de Defesa
Apesar do reconhecimento da necessidade urgente de substituição dos tanques SK-105 Kürassier, a Marinha do Brasil ainda não anunciou oficialmente qual será o novo modelo adotado. Segundo o vice-almirante Carlos Chagas, a escolha depende diretamente da disponibilidade orçamentária e de diretrizes estratégicas a serem definidas pelo Ministério da Defesa.
Há duas possibilidades em estudo: a aquisição de veículos blindados novos de fornecedores internacionais ou a incorporação de modelos usados, com custo reduzido, provenientes de países aliados. Outra alternativa em análise é o desenvolvimento de uma solução nacional em parceria com empresas da Base Industrial de Defesa (BID), o que traria ganhos em autonomia, transferência de tecnologia e suporte logístico de longo prazo.
Parcerias com empresas brasileiras especializadas em defesa terrestre podem viabilizar uma solução adaptada à realidade operacional dos Fuzileiros Navais. Entre os critérios analisados estão a capacidade de mobilidade em terrenos alagadiços, blindagem reforçada contra minas e artefatos explosivos improvisados (IEDs), além de sistemas modernos de comunicação e controle de tiro. O objetivo é garantir que a nova frota de tanques da Marinha atenda aos padrões exigidos em operações de alta intensidade, seja em território nacional ou em missões internacionais sob comando da ONU.
Ao mesmo tempo, a possível substituição representa uma oportunidade estratégica para o fortalecimento da indústria nacional. Ao priorizar fabricantes brasileiros, o governo pode impulsionar a geração de empregos qualificados, incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias e reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros em um setor sensível como o da defesa.
Modernização da frota blindada da Marinha do Brasil é essencial para missões e projeção de poder no Atlântico Sul
A substituição dos blindados SK-105 Kürassier vai além de uma atualização mecânica. Ela representa um passo fundamental na modernização das capacidades expedicionárias dos Fuzileiros Navais, uma das principais forças de resposta rápida das Forças Armadas brasileiras. Com papel decisivo em ações humanitárias, defesa da soberania e combate ao crime transnacional, os Fuzileiros dependem de meios blindados confiáveis para operar em áreas hostis.
O estado precário dos atuais tanques coloca em risco a efetividade de missões em regiões costeiras, onde o transporte anfíbio exige veículos leves, porém resistentes e tecnologicamente atualizados. Além disso, a crescente instabilidade geopolítica em diferentes regiões do mundo exige que o Brasil esteja preparado para atuar de forma eficaz em cenários de conflito ou apoio multinacional, especialmente em áreas estratégicas como o Atlântico Sul.
Nesse contexto, investir na substituição dos SK-105 reforça a presença do Brasil como potência regional, amplia sua capacidade de dissuasão e garante condições operacionais mínimas para enfrentar ameaças convencionais e não convencionais. É também um passo importante para preservar a vida dos militares que atuam na linha de frente, oferecendo a eles equipamentos condizentes com os desafios do século XXI.