Um exército cansado para uma guerra que não acaba
Depois de mais de dois anos de guerra, já não há muito espaço para ilusões sobre o que está acontecendo na Ucrânia. Os números falam por si só. Embora nenhum deles seja totalmente confiável, todos apontam para uma realidade desgastante. A máquina de guerra da Rússia ainda está funcionando, mas a um custo crescente, tanto humano quanto político, ao mesmo tempo que a Ucrânia segue segurando a linha de frente.
De acordo com relatos recentes, há cerca de 660 mil soldados russos atualmente envolvidos em combates diretos contra as forças ucranianas. Isso é verdade tanto dentro do território da Ucrânia quanto em regiões da própria Rússia que hoje são, na prática, zonas de guerra. Sim, a Ucrânia ocupa parte das regiões de Belgorod e Kursk, fronteiras antes intocáveis da Federação Russa. Isso por si só já seria uma manchete escandalosa — mas que passou quase despercebida em muitos círculos internacionais.
Mais de 1,5 milhões de soldados da Rússia na Ucrânia, e mais por vir
O número total de soldados do exército russo é estimado oficialmente em 1,5 milhão. Mas na prática, segundo analistas independentes, o número real pode ser bem menor. Muitos soldados experientes já foram mortos ou incapacitados. O que sobra agora é um caldeirão de recrutas forçados, voluntários desinformados e uma burocracia militar que ainda tenta manter as aparências.
O esforço para manter esse efetivo em campo é brutal. De acordo com especialistas, a Rússia precisa recrutar cerca de 35 mil soldados por mês apenas para tapar os buracos deixados pelas baixas na Ucrânia. É um número difícil de alcançar, mesmo em um país com tradição de mobilizações massivas. A solução encontrada foi pressionar jovens entre 18 e 30 anos a assinar contratos “voluntários” de seis meses. De acordo com fontes anônimas, o que o Exército Russo diz a eles é que, ao assinarem, servirão longe do front. Mas na prática, muitos vão parar no Donbass e em outras linhas de frente em poucas semanas.

A mais recente campanha de recrutamento, em abril, convocou 160 mil homens para um ano obrigatório. As autoridades do Kremlin oferecem aos recrutas a “chance” de trocar esse serviço por um contrato de seis meses. No entanto, ainda de acordo com fontes, quem não assina o contrato vai para o front sem salário.
Um exército profissional em frangalhos
O que antes era um exército profissional virou uma massa disforme. Até mesmo tropas das forças nucleares estratégicas — aquelas que deveriam estar resguardadas para um eventual Armagedom — estão sendo usadas em combates de infantaria. A Marinha, que deveria estar no Mar Negro, já mandou fuzileiros para ajudar no chão.
De acordo com especialistas, o número de soldados ucranianos é estimado entre 880 mil e 1 milhão. Mas Kiev joga com outra lógica: manter seus números em segredo e minimizar sua força aparente para garantir ajuda externa contínua. Ao mesmo, os ucranianos querem ganhar tempo para fazer Moscou acreditar que o colapso está próximo — quando, na verdade, é o contrário.
A guerra caminha para um impasse. Um impasse perigoso, porque, ao contrário do que se acredita, ele favorece quem está se defendendo. E os ucranianos sabem disso. A Ucrânia está cavando trincheiras e reconstituindo brigadas para segurar o avanço da Rússia. Especialistas alertam de que há sinais de que uma nova ofensiva ucraniana pode estar a caminho. Várias divisões ucranianas desapareceram do radar, o que indica que podem estar fora da linha de frente, sendo reabastecidas, treinadas, talvez redesenhando o tabuleiro.
Mas por enquanto, está tudo silencioso. E esse silêncio, na guerra, costuma ser o som que vem antes da tempestade.