A situação política e militar de Israel tem se tornado cada vez mais complexa e polarizada. O que parecia ser um apoio quase incondicional à guerra contra o Hamas, desencadeada após o ataque de 7 de outubro, se transformou em um campo de fortes divisões internas.
Militares de diferentes frentes e setores da sociedade israelense começaram a expressar publicamente sua oposição à continuidade dos combates, exigindo uma solução negociada e o fim do conflito.
Conforme noticiado pelo jornal ”CNN Brasil”, em abril de 2025, uma série de cartas abertas assinadas por militares de alta patente, incluindo ex-chefes do Mossad e do Shin Bet, expuseram a crise política e de segurança que Israel enfrenta.
Essas cartas denunciam o uso político da guerra, afirmando que a luta em Gaza já não atende aos objetivos de segurança do país, mas sim a interesses pessoais e políticos.
A pressão interna está se tornando cada vez mais forte, e a reação do governo, liderado pelo premiê Benjamin Netanyahu, tem sido de repressão e ataques àqueles que se manifestam contra a guerra.
O movimento crescente de opositores à guerra
Um grupo significativo de reservistas israelenses, composto por 970 membros da Força Aérea e veteranos de diversas unidades de elite, divulgou uma carta aberta que se espalhou rapidamente pelo país.
A carta criticava duramente a prolongação da guerra em Gaza e apelava pelo fim das hostilidades.
“Continuar a guerra não serve a nenhum dos seus objetivos declarados”, dizia o texto, que também ressaltava: “A santidade da vida é mais sagrada que o deus da vingança.”
Este protesto não foi isolado.
Outras frentes militares seguiram o exemplo, com cartas semelhantes circulando entre membros da Marinha, do Corpo Blindado, da unidade de inteligência cibernética 8200 e das Forças Especiais.
Ao todo, mais de 3.000 militares, ex-militares e veteranos de diversas áreas assinaram os manifestos, incluindo 250 veteranos do Mossad e ex-diretores da agência de inteligência.
Todos esses grupos pedem o fim da guerra, a devolução dos reféns e uma negociação com o Hamas que priorize a vida dos civis.
Esses protestos também receberam o apoio de diversas figuras do setor de alta tecnologia israelense, além de ativistas e grupos de defesa dos direitos humanos, que se uniram à mobilização em busca de um cessar-fogo imediato.
As críticas à guerra não são apenas militares, mas também sociais, com o foco nas políticas de segurança e nas decisões tomadas pelo governo.
Resposta do governo: repressão e ataques políticos
A reação do governo de Benjamin Netanyahu foi rápida e severa.
O primeiro-ministro de Israel chamou os signatários das cartas de “um grupo anarquista, barulhento e desconectado de aposentados”.
Ele acusou-os de estarem sendo financiados por organizações estrangeiras com o objetivo de derrubar seu governo de direita.
Netanyahu e seus aliados políticos se apegaram à retórica da defesa nacional, tentando descreditar os militares dissidentes como traidores da pátria.
O governo também ordenou represálias diretas contra os reservistas que assinaram as cartas.
O ministro da Defesa, Israel Katz, e o comandante da Força Aérea, Tomer Bar, tomaram medidas para demitir os militares que se manifestaram, fazendo com que pelo menos 25 recuassem e retirassem suas assinaturas.
A justificativa oficial era que essas cartas minavam a coesão das forças armadas e poderiam comprometer a eficácia da operação militar em curso.
Entretanto, a repressão não conseguiu abafar o movimento.
Ao contrário, as cartas de protesto seguiram sendo publicadas e o apoio à causa foi crescendo dentro e fora das forças armadas.
O Shin Bet, o serviço de segurança interna, também se envolveu, com centenas de veteranos assinando uma nota de apoio à mobilização militar, exigindo uma investigação sobre os acontecimentos do 7 de outubro e clamando pela devolução dos reféns.
Esse apoio contínuo ao movimento e à causa pela paz deixou claro que a resistência à guerra em Gaza é maior do que o governo gostaria de admitir.