Uma análise de sentimentos aplicada a mais de 400 comentários no Instagram revelou um índice massivo de reprovação popular (85,2%) à atuação do Exército Brasileiro em cerimônias equestres nas quais soldados do Efetivo Variável, aqueles que se alistam cumprindo a lei que obriga todos os brasileiros do sexo masculino a se alistarem nas Forças Armadas, aparecem segurando barras de salto para oficiais montados a cavalo.
A atividade, registrada durante a tradicional Formatura das Esporas Douradas na Escola de Equitação do Exército (EsEqEx), sibordinada à 1ª Região Militar, gerou forte repercussão e foi vista como uma prática humilhante, arriscada e incompatível com os valores esperados de uma instituição militar moderna.
A Revista Sociedade Militar publicou a denúncia no último dia 14 de maio, reunindo imagens amplamente compartilhadas nas redes sociais. Uma das primeiras fotos a circular, publicada por um advogado, mostra dois soldados em posições fixas ao lado de uma barreira, segurando barras utilizadas na atividade equestre enquanto um oficial realiza um salto montado. A reação do público não demorou: milhares de comentários se espalharam pelas redes, expressando forte indignação.
Reações nas redes: sociedade vê a prática como forma de humilhação institucional
A análise de sentimentos, realizada com base em 412 comentários únicos no Instagram, identificou a seguinte distribuição de reações:
85,2% dos comentários expressam sentimentos negativos, com duras críticas ao Exército
9,5% são neutros, com observações informativas ou relatos históricos
Apenas 5,3% mostraram apoio ou justificativas, geralmente com base em tradição militar
Entre os comentários críticos, os temas mais recorrentes foram: desumanização dos soldados, uso inadequado do efetivo, elitismo hierárquico e afastamento dos valores institucionais. A imagem de soldados como “estruturas humanas” para salto de cavalos foi vista como símbolo de desprezo institucional pelas praças e militares de base.

Especialistas apontam riscos e irregularidades em usar soldados como pilastras humanas
A matéria original publicada pela Revista Sociedade Militar em artigo sobre soldados como pilastras humanas, ouviu especialistas que classificaram a prática como irregular e potencialmente perigosa. Cavalos utilizados em equitação militar podem pesar em torno de 500 kg, e um simples toque nas barras pode gerar acidentes graves. O regulamento da Confederação Brasileira de Hipismo, citado na matéria, proíbe expressamente que pessoas segurem partes de obstáculos durante saltos:
“Nenhuma parte do obstáculo pode jamais ser segurada por qualquer pessoa.”
Essa regra obviamente visa proteger não apenas os animais e cavaleiros, mas também qualquer pessoa presente na área da apresentação, reforçando que a prática, embora vista por alguns como simbólica ou tradicional, fere diretrizes básicas de segurança.
Comentários emblemáticos: indignação e denúncias
Entre os mais de 400 comentários analisados, muitos com centenas de curtidas em apoio, destacam-se manifestações que exemplificam o sentimento predominante:
“Absurdo! Século XXI e PRAÇAS das FORÇAS ARMADAS sendo submetidos a tratamento de serviçais para não dizer escravos das Classes dos Oficiais.” – Comentário com 52 curtidas
“Recruta é mão de obra barata pro exército, só isso. O treinamento militar é bem raso. Os mesmos servem pra três coisas: Tirar guarda, fazer manutenções na infraestrutura do quartel (faxina, pintura, cozinhar) e servir superior, só.” – Comentário com 123 curtidas
“Essas imagens passam a impressão de que o efetivo variável serve como meros serviçais à mercê de humilhações desnecessárias, com o objetivo de atender vontades estúpidas e mesquinhas de oficiais arrogantes e prepotentes acomodados.” – Comentário com 15 curtidas
Além desses, muitos outros relatos reforçam a visão de que tais práticas seriam comuns, embora não amplamente expostas à sociedade civil. Foram recorrentes ainda menções a casos de uso de soldados como garçons, ajudantes domésticos, ou em tarefas não militares ligadas a eventos privados de oficiais.

Justificativas isoladas de militares: tradição e voluntariado
Uma minoria dos comentários — aproximadamente 5% — tentou justificar a prática. Entre os argumentos estavam a tradição das cerimônias de cavalaria, o voluntariado dos soldados e a necessidade de treinamento sincronizado:
“É uma apresentação na qual os obstáculos são dinâmicos e por isso precisam de pessoas segurando para movimentá-los e mudá-los rapidamente. Muito normal e exige muito treinamento da equipe.”
No entanto, essas explicações foram amplamente contestadas nos próprios comentários, inclusive por ex-militares que afirmaram que tais atividades não são voluntárias e não promovem qualquer formação técnica ou tática.
Outros questionaram a utilidade do serviço militar obrigatório diante de um modelo que, segundo os comentaristas, não prepara os soldados para combate real e os trata como mão de obra de apoio.
As “pilastras humanas”
A repercussão das imagens envolvendo soldados utilizados como “pilastras humanas” para salto de cavalos evidencia que, cada vez mais, a sociedade civil acompanha de perto e avalia criticamente as práticas simbólicas e operacionais das Forças Armadas. A análise de sentimentos mostrou que o episódio não passou despercebido — foi entendido, em sua maioria, como humilhação institucional e desvio de função.

A ausência de uma resposta oficial até o momento e a força dos depoimentos nas redes sociais sugerem que a confiança da população na instituição está em xeque, e que práticas até então rotineiras agora estão sendo submetidas a um novo grau de escrutínio público.