A reviravolta midiática da Marinha: após vídeo desastroso em 2024, força tenta se reconectar com o público, começando pelos mais jovens
A Marinha do Brasil tenta virar a página e reconquistar a confiança da sociedade civil após o lançamento de um vídeo institucional, em dezembro de 2024, que provocou forte rejeição pública. Com 78% de comentários negativos nas redes sociais, a peça — criticada por promover um antagonismo entre militares e civis — teve efeito contrário ao esperado, aprofundando a percepção de desconexão entre a Força Naval e a população brasileira, sendo criticadas por políticos e até pelos próprios militares. Agora, com uma campanha renovada e linguagem voltada ao público jovem, a Marinha busca retomar o protagonismo comunicacional e reforçar sua presença junto à sociedade.
Comunicação com novíssima abordagem
Sob o slogan “Sai da tela e bora pro mar”, a nova campanha do Dia da Marinha de 2025 marca uma mudança significativa de abordagem utilizada pelo setor de comunicação social da força naval. Inspirada no universo gamer, a peça aposta na estética dos videogames, efeitos digitais e uma narrativa que convida os jovens a deixarem o mundo virtual para experimentar a vida a bordo dos navios da armada brasileira.
É a primeira vez que a Marinha do Brasil emprega recursos de inteligência artificial na produção publicitária, mesclando cenas reais com gráficos simulados em primeira pessoa, representando operações navais e ações de busca e salvamento.
Segundo o Centro de Comunicação Social da Marinha — que passará a ser denominado Centro de Comunicação Estratégica da Marinha (CCEM) a partir de 11 de junho — a nova campanha foi inspirada em modelos internacionais de divulgação das Forças Armadas, que usam jogos digitais como ferramentas de recrutamento.
Restauração de imagem após campanha mal recebida
A nova abordagem surge em meio a um esforço institucional para restaurar a imagem da Força, abalada pelo polêmico vídeo divulgado no final de 2024. A peça anterior, marcada pela frase “Privilégios? Vem para a Marinha”, foi duramente criticada por usuários e especialistas, acusada de reforçar estereótipos e negligenciar o contexto socioeconômico vivido pela maioria dos brasileiros.
Uma análise feita pela Revista Sociedade Militar mostrou que 78% dos comentários no vídeo, postado no YouTube da Marinha e agora offline, tiveram tom negativo. A principal crítica era a tentativa de justificar supostos privilégios militares contrastando-os com o cotidiano civil, o que foi visto por muitos como insensível, elitista e inoportuno diante das tensões sociais e econômicas do país.
A historiadora Carla Teixeira, ouvida na ocasião pelo portal UOL, destacou que a campanha refletia um “deslocamento histórico e social” das Forças Armadas em relação às demandas contemporâneas da sociedade civil.
Linguagem atualizada e foco centrado na juventude
A nova campanha busca se distanciar desse episódio e retomar o diálogo com a população, especialmente com os jovens. Conforme pesquisa da PGB (Pesquisa Game Brasil), 73,9% da população brasileira se identifica como gamer — público-alvo da nova estratégia de comunicação.
Além dos vídeos e peças gráficas, a Marinha reforça sua presença nas rádios com a expansão da Rádio Marinha FM, que passa a operar também em Brasília a partir de 8 de junho. Os conteúdos radiofônicos seguem a mesma linha temática e visual da campanha, com linguagem e efeitos sonoros inspirados nos jogos eletrônicos.
O aprendizado e a reconciliação institucional
O reposicionamento da comunicação institucional se distancia da narrativa de confronto. Ao abandonar o tom provocativo e adotar uma linguagem de aproximação, a Força Naval sinaliza aprendizado com o revés anterior e o pito que levou da sociedade, apostando agora em uma postura mais alinhada às expectativas da população.