Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.

Visita do presidente Lula à Rússia revela o que está em jogo: um dos projetos mais ambiciosos e sensíveis da Marinha do Brasil

Enquanto os EUA impõem limites, a Rússia oferece o que ninguém mais quer dividir: o segredo do reator nuclear que falta ao submarino brasileiro

por Flavia Marinho Publicado em 05/06/2025
Visita do presidente Lula à Rússia revela o que está em jogo: um dos projetos mais ambiciosos e sensíveis da Marinha do Brasil

Você pode até achar que a visita de Lula a Moscou foi só mais uma agenda diplomática. Mas por trás dos sorrisos e discursos, o que está em jogo é um dos projetos mais ambiciosos e sensíveis da Marinha do Brasil: o submarino nuclear brasileiro. E nesse jogo de bastidores, a Rússia pode ser a chave que falta para destravar uma tecnologia que o Brasil persegue há décadas e que nenhum país ocidental quis dividir.

Durante o tradicional desfile do Dia da Vitória em Moscou  que celebrou o fim da Segunda Guerra, Lula marcou presença ao lado de Vladimir Putin. Oficialmente, a ideia era reforçar laços diplomáticos. Mas nos bastidores, o foco era outro: tecnologia nuclear russa, especialmente a que pode ser usada para miniaturizar reatores e instalá-los em submarinos, algo essencial para o projeto do submarino nuclear da Marinha brasileira, o futuro Almirante Álvaro Alberto.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, deixou claro: a cooperação com a Rússia está no centro da nova política externa brasileira. E ao contrário do que o Itamaraty diz sobre “neutralidade”, os gestos falam mais alto. O Brasil se afasta do Ocidente e se aproxima da potência russa, inclusive no setor militar.

A tecnologia que ninguém quer compartilhar, mas que Moscou oferece

Esse interesse por miniaturização de reatores não é novo. Em 2022, Jair Bolsonaro também viajou a Moscou com o mesmo objetivo: buscar ajuda da Rússia no projeto do submarino nuclear, já que os Estados Unidos se recusaram a colaborar. Na época, Putin teria dito que só toparia ajudar se o Brasil se posicionasse como aliado estratégico da Rússia. Bolsonaro recuou. Lula parece disposto a avançar.

Agora, com ministros da Energia e da Ciência e Tecnologia na comitiva presidencial, Lula deixou claro o interesse brasileiro por parcerias no setor nuclear. E isso foi reforçado com a presença de Alexei Likhachev, CEO da Rosatom, a estatal russa de energia nuclear. Segundo ele, os dois países estão discutindo ativamente reatores compactos, tanto para uso terrestre quanto flutuante.

Pequenas usinas flutuantes ou submarinos?

A fala de Likhachev deixa pouca margem para dúvida. Ele afirmou:

“A parte brasileira demonstrou particular interesse, e isso foi expresso tanto pelo presidente Lula quanto por membros do governo, na questão das usinas nucleares de pequeno porte, tanto em terra quanto flutuantes”.

Na prática, isso quer dizer o seguinte: o Brasil quer a tecnologia dos reatores usados em submarinos. As usinas nucleares flutuantes são, essencialmente, o mesmo princípio: pequenos reatores adaptados para funcionar em estruturas móveis, como navios ou submarinos. A Rosatom, inclusive, já usa esses modelos no Ártico, como no caso do navio Akademik Lomonosov.

E o que o Brasil tem a oferecer em troca?

Segundo o próprio Likhachev, os cascos dessas usinas flutuantes poderiam ser construídos por empresas brasileiras. Isso abre espaço não só para transferência de tecnologia, mas também para que o setor industrial da Marinha do Brasil e da indústria naval participe ativamente do projeto.

Além disso, a Rússia tem interesse direto no agronegócio brasileiro. Como seu clima não permite uma produção agrícola em larga escala, Moscou depende de alimentos do Brasil para abastecer sua população. Isso faz do Brasil um parceiro estratégico não só em defesa, mas também em segurança alimentar.

A ameaça do Ocidente e os riscos dessa parceria

O problema é que essa aproximação não é vista com bons olhos por Washington. Os Estados Unidos e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) exigem que o submarino nuclear brasileiro seja monitorado e inspecionado. Se o Brasil avançar com a Rússia sem esse alinhamento, pode enfrentar retaliações comerciais, embargos e até pressões militares, como aconteceu com o Iraque nos anos 2000.

Em entrevista à Sputnik Brasil, a ministra Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, afirmou:

“É natural que a Rússia tenha um histórico de domínio em ciências e tecnologias na área da defesa. Até pela herança da Guerra Fria, os russos desenvolveram um domínio tecnológico elevado nessas áreas”.

Já o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, destacou que a parceria com a Rosatom pode impulsionar não só o setor nuclear, mas também a mineração de urânio no Brasil:

“Contamos com a experiência da Rosatom para uma cooperação positiva e equilibrada entre empresas brasileiras e russas. Nosso objetivo conjunto é gerar crescimento tecnológico robusto e seguro”.

Atualmente, o Brasil é o sétimo país com maior reserva de urânio no mundo, mesmo tendo apenas 26% do seu subsolo mapeado. Segundo Silveira, temos potencial para chegar ao terceiro lugar global.

A aposta estratégica: ousadia ou risco calculado?

Tudo indica que Lula está disposto a dar um passo que seus antecessores hesitaram: aproximar-se fortemente da Rússia para finalmente tornar real o sonho do submarino nuclear da Marinha do Brasil. Isso pode garantir ao país uma arma de dissuasão estratégica com capacidade de lançar mísseis de cruzeiro, o que mudaria o papel do Brasil no cenário geopolítico mundial.

Mas essa escolha não vem sem custo. Abandonar a neutralidade pode colocar o Brasil na linha de frente de uma disputa de gigantes, e a depender de como o jogo for jogado, o país pode sair como protagonista… ou como alvo.

E você, o que pensa sobre isso? Acha que o Brasil deveria mesmo se alinhar à Rússia para garantir o domínio sobre tecnologias nucleares de uso militar e civil? Ou os riscos são altos demais? Deixe sua opinião nos comentários e compartilhe este artigo com quem também se interessa por defesa, geopolítica e o futuro da Marinha do Brasil.

Flavia Marinho

Flavia Marinho

Flavia Marinho é Engenheira pós-graduada. Nos últimos anos, tem se dedicado a escrever artigos para sites de notícias nas áreas militar, segurança, indústria, petróleo e gás, energia, construção naval, geopolítica, empregos e cursos. Entre em contato com flaviacamil@gmail.com para sugestão de pauta ou proposta de publicidade no portal. Não enviar currículo!