“Somos de centro-direita”. General Braga Neto aos poucos determina o afastamento do Governo Bolsonaro dos extremos do espectro político
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Era na verdade pouco crível quem há algum tempo dissesse que Jair Bolsonaro se deixaria nas mãos dos generais. Logo ele! Que teve embates sérios com a cúpula do Exército nos anos 80! Todavia, ao longo das últimas semanas a coisa tem mudado de forma rápida e radical. Declarações sobre a pandemia, demissões de ministros e a queda de Moro acabaram apimentando o clima entre Governo, parlamento e imprensa em geral. Ninguém nega que o clima pró-impeachment e a rejeição ao governo realmente aumentaram bastante, por isso foi necessário uma guinada radical.
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O tom apaziguador da última reunião com os governadores é um grande sinal de que Braga Neto de fato hoje e quem dá as cartas no governo. Os acordos antes impossíveis com o Centrão, rechaçados durante toda a campanha, o chamado loteamento dos cargos, só são possíveis porque o “gerente” agora é outro.
Os generais palacianos, aqueles que ocupam cargos em ministérios sediados no Palácio do Planalto, aparentemente se uniram e convenceram Jair Bolsonaro a descansar em seus braços no que diz respeito a relacionamento com outros políticos. Nesse quesito Bolsonaro é visto como deficiente e na visão dos generais deve aos poucos passar a atuar somente como uma espécie de líder figurativo.
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Braga Neto é conhecido como um grande pacificador, mediador de conflitos. O oficial se destacou bastante na intervenção realizada no Rio de Janeiro, foi bem recebido pela cúpula da polícia militar carioca e escapou ileso daquele “abacaxi” dentro do estado considerado como um dos mais complicados do país. Sem sequer uma mancha, sem sequer uma declaração mal interpretada em seu “mandato” a frente da segurança pública carioca, o general da intervenção agora tende a se destacar como o grande articulador político desse governo, suplantando o general Ramos, inicialmente designado para cuidar dessa parte.
“Caro, a frase foi mais ou menos assim, nada literal tá? … ‘deixa a gente cuidar disso presidente, descanse naquilo que o senhor é mais necessário, cuidar do nosso povo”, eu traduzo como ‘deixa com a gente que você não cai”, mas cada um pense o que quiser, observe o andamento das coisas… ”, diz um militar hoje na reserva, mas com bons contatos em Brasília.
Em reunião virtual com parlamentares nessa sexta-feira o general Braga Netto disse: “O governo é democrático, é um governo de centro-direita. Isso é teoria conspiratória que não existe (…). Não tem nada de golpe de Estado.”
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A postura declarada por Braga Netto há algum tempo era inadmissível para Carlos Bolsonaro, como pode-se ver no seu post abaixo.
Ainda nessa terça-feira diversos partidos que se auto-proclamam como de centro declararam que devem se unir para pedir o impeachment de Bolsonaro. A nota, publicada em alguns jornais foi: “Os partidos PDT, PSB, REDE e PV realizaram, nesta terça-feira, o ato Janelas pela Democracia: #ImpeachmentJá… um dos primeiros a falar, durante a apresentação do movimento, o presidente do PDT, Carlos Lupi… ”.
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Sobre o viés político dos partidos a revista Isto É diz: “Dez partidos se declaram puramente como de centro: PMB, MDB, PL, PSD, PTC, DC, PROS, Avante, Patriota e Podemos. De centro-direita são PTB, Progressistas, PSC, PRTB e Republicanos. Já PDT, PSB, Cidadania, PV e PMN se encontram na centro-esquerda, segundo eles mesmos.“
Empurrar o governo mais para o centro
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O recado de Braga Netto não foi sem motivo, o plano é mesmo empurrar Bolsonaro mais para o centro, reforçar o discurso apaziguador e afastar o governo cada vez mais da chamada ALA OLAVISTA, considerada por muitos como de extrema-direita e que já empreendeu batalhas contra o general Santos Cruz, Maynard Santa Rosa e vários civis considerados mais moderados que participaram em algum momento do governo Bolsonaro, mas que acabaram caindo.
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Obrigações dos outros
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Em suas redes sociais Olavo de Carvalho disparou alguns comentários criticando as recentes consequências da pacificação implementada pelos militares: “Como foi possível o presidente aceitar uma reunião gentil com governadores que ele deveria botar na cadeia?“, disse, em 21 de maio. A postagem foi curtida rapidamente por cerca de 25 mil seguidores.
Em outra postagem ele menciona o Exército: “O Exército não restabelece a ordem ameaçada por governadores e juízes ditadores, mas, em compensação, vai ocupando tudo quanto é cargo público. Vive cumprindo as obrigações dos outros para não ter de cumprir as suas próprias. E ainda se gaba do que faz.“
Resta saber por quanto tempo o presidente resistirá às reclamações da Ala Olavista, que até o momento foi a mais influente no seu governo e até quando deixara Braga Netto e companhia dar as cartas no Palácio do Planalto.
Artigo de opinião: Robson Augusto é jornalista, militar R1. Revista Sociedade Militar