Militares + política = tensão constante!
Quem lembra? Punição contra MANIFESTAÇÃO pública de militares culminou com a deposição do gabinete imperial e PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA.
Jornais hoje publicaram notas informando que Pazuello alega ter a honra pessoal ferida ante a ameaça de punição.
“I – honra pessoal: sentimento de dignidade própria, como o apreço e o respeito de que é objeto ou se torna merecedor o militar, perante seus superiores, pares e subordinados”
Obviamente é impossível narrar em uma só lauda toda a crise que levou o Exército Brasileiro, por meio de Deodoro, a protagonizar um dos eventos mais importantes de nossa história. Mas, em algumas poucas linhas é possível fazer o leitor perceber que palavras proferidas em público e punições que ferem a honra pessoal de militares de alto status podem ter consequências importantes.
No início de 1879, membros da Marinha e da Guerra apresentaram projeto para reduzir o contingente militar no intuito de poupar o orçamento do império. O exército não foi a favor e o cenário se tornou tenso, muita gente reclamou muito.
Logo surgiu um regulamento que proibia aos militares se expressarem por meio da imprensa.
Poucos anos depois um aumento no desconto para a pensão militar redundou em uma série de reclamações por parte de militares das Forças Armadas em geral. Militares da Escola Militar do Rio de Janeiro, comandados pelo tenente-coronel Sena Madureira, criticaram publicamente o Ministério da Guerra por conta da perspectiva de prejuízo financeiro. O governo recuou, mas impôs novamente aos militares o silêncio, proibindo todos, de qualquer patente, de dar declarações por meio da imprensa.
As declarações de militares sempre tiveram a propriedade de despertar paixões, ódios e crises no país.
Em resposta à imposição, às normas que impediam militares de se manifestar, o tenente coronel, Sena Madureira, amigo pessoal do Imperador, publicou texto no qual homenageava um jangadeiro cearense que se recusou a transportar escravos para um navio negreiro.
Como hoje é a questão PANDEMIA, naquela época a ESCRAVIDÃO era o grande fato social por trás de quase todas as disputas políticas.
Na verdade, ao elogiar o jangadeiro, o sarcástico oficial estava criticando o sistema escravocrata sustentado pelo Império.
O tenente-coronel foi punido, mas algum tempo depois foi homenageado pelo próprio Marechal Deodoro. E Deodoro foi punido por se negar a sancionar o tenente-coronel e, ao invés disso, homenageá-lo.
O general disse que não puniria um militar por se manifestar pela imprensa já que os parlamentares tinham imunidades que “tudo permitiriam”.
Deodoro e outros oficiais generais assinam um documento chamado de Manifesto dos Generais, redigido por Ruy Barbosa, onde se pedia o cancelamento das punições de Sena Madureira.
As punições foram canceladas.
Júlio de Castilhos, em A Federacão, diz que o recuo e a atitude conciliatória do Governo em relação aos militares tem por objetivo “encobrir uma pérfida vingança no futuro, já que o Gabinete Cotegipe permanece no poder.”.
A nota deixa a oficialidade alarmada, queriam apenas fazer com que se calassem, em breve os ataques retornariam.
Em 1889 oficiais firmam pactos para apoiar Benjamin Constant, com o objetivo de lutar contra o “espezinhamento e aniquilamento do Exército”.
A partir desses episódios a crise militar, ou questão militar, foi se agravando e tudo culminou com a deposição, por Deodoro, amparado pelo Exército Brasileiro, em 15 de novembro de 1889 de todo o Gabinete Ouro Preto.
No mesmo dia o Brasil se transformou em uma república.
Robson Augusto / Militar R1, jornalista, cientista social.