Conforme noticiado pelo Estadão, o comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, enviou uma carta ao presidente do colegiado, o deputado federal Aliel Machado (PV-PR), explicando por que a Força Naval se opõe à inscrição de João Cândido Felisberto – conhecido como o “Almirante Negro” – no Livro dos Heróis da Pátria.
De acordo com o almirante Olsen, entre as reivindicações dos revoltosos estavam o aumento de salários, a exclusão de oficiais considerados indignos e o “regime de trabalho menos exigente”.
“Notável então, entender que, além do justo pleito pela revogação da prática repulsiva do açoite, buscavam, deliberadamente, vantagens corporativistas e ilegítimas.”
O almirante diz que “os castigos físicos levados a cabo nos navios, prática inaceitável, foram reconhecidos como equivocados e indignos e os insurgentes, inclusive, anistiados”.
Olsen prossegue: “porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado.”
Para ele, incluir o nome de João Cândido no Livro dos heróis da Pátria seria o mesmo que “transmitir à sociedade e, em particular, aos militares de hoje, a mensagem de que é lícito recorrer às armas que lhe foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe”.
Em resumo, para a Marinha – que fala pela boca do atual comandante – a atuação do “Almirante Negro” não foi patriótica nem heroica.
HEROÍSMO RELATIVO
O que o atual comandante da Marinha do Brasil se esqueceu de mencionar, para melhor contextualização do que vem a ser heroísmo, é o episódio quase idêntico também ocorrido no passado da Força naval.
Conforme publicado na Revista Sociedade Militar, o Ministério Público Federal enviou, no final de março, parecer complementar ao Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) defendendo a instauração de processo administrativo para reconhecer a condição de anistiado político de João Cândido Felisberto.
O requerimento cita as contribuições da pesquisadora Silvia Capanema, em livro sobre a vida de João Cândido, que relata episódios que ajudam a entender a perseguição ao marinheiro.
Essa autora cita, por exemplo, que Alexandrino de Alencar, oficial da Marinha que teria intermediado o ingresso de João Cândido na instituição, também participou de uma revolta, a chamada “Revolta da Armada” e foi anistiado por dois decretos, em 1894 e 1897.
Neste último, ele e outros 40 oficiais retomaram seus graus na Armada, com remunerações e promoções. Apesar de ter sido “rebelde”, tornou-se ministro da Marinha em quatro ocasiões, entre 1906 e 1922.
Texto de JB Reis