Este é um mundo de coincidências mesmo. Jair Bolsonaro vai inaugurar sua vida de ex-presidente – quem diria? – dando palestras. Não que nos interesse o que ele venha a dizer, mas é importante lembrar que a Justiça brasileira levou cinco anos para reconhecer a legalidade das palestras que Lula fez para as empreiteiras investigadas na Lava-Jato, operação que para muitos demonstra a prática descarada de “lawfare”, que é o uso estratégico do Direito para atingir adversários e oponentes políticos. Mas, as “coincidências” não param por aí.
Bolsonaro vai palestrar em um evento promovido por uma organização da extrema direita americana chamada Turning Point USA. Dirigida por Charlie Kirk, a TP-USA e a Turning Point Action – sendo a segunda um braço político da primeira – estão sendo investigadas por suspeitas de disseminação da teoria de que houve fraude nas eleições americanas e, em 6 de janeiro de 2021, terem apoiado a realização da invasão do Capitólio, em Washington.
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Clique aqui para entrarKirk teria insuflado os vândalos a invadirem o Congresso americano como tentativa de impedir a realização de sessão que confirmava a vitória de Biden. Kirk e sua organização podem também estar envolvidos com a teia de financiamento do ato.
Em depoimento ao comitê do Congresso americano que investigou o ataque golpista, Charlie Kirk invocou seu direito de permanecer calado e não respondeu aos legisladores nem mesmo sua idade. Os parlamentares finalizaram o trabalho de investigação e recomendaram à Justiça que Trump seja acusado por insurreição. As investigações conduzidas pela Justiça americana sobre o ataque ao Capitólio ainda estão em andamento.
O evento com Bolsonaro foi divulgado por Kirk em suas redes sociais e também por Carlos Bolsonaro. “O Brasil se tornou um campo de batalha fundamental no confronto global entre o poder do povo e a tirania de uma máquina globalista corrupta”, escreveu Kirk no Twitter, após anunciar o evento com o ex-presidente do Brasil.
Parece que o pesadelo político não vai terminar tão cedo. A direita radicalizada, na Europa, nos Estados Unidos e agora na América Latina está se robustecendo e reagrupando. Com fundo ideológico delirante e recauchutando o moralismo mais hipócrita do século quinze, os populistas da extrema direita, que almejam o poder político unicamente para destruir a política, ainda vão assombrar as democracias por muito tempo.
Apontado por detratores como fugitivo político, o ex-presidente brasileiro dá mostras de viver em um mundo paralelo, assim como seus mais ardorosos seguidores. Voltou a incentivar os apoiadores a questionar o resultado das urnas. Disse também que o governo Lula “não vai durar muito tempo”.
Talvez ele esteja em “modo negação”, fingindo que não tem uma espada sobre a cabeça. O fato é que, assim como seu colega Trump, Bolsonaro foi incluído na investigação que apura a invasão dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do STF, com depredação do patrimônio público, ocorrida no domingo, 8 de janeiro. A decisão do ministro Alexandre de Moraes foi proferida no Inquérito (INQ) 4921 e atende a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
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Fonte primária: site Brasil247 / Edição: JB Reis / Revista Sociedade Militar
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