Durante a audiência pública ocorrida na Câmara dos Deputados o Ministro da Defesa e os comandantes da Marinha do Brasil do Exército Brasileiro e da Força Aérea foram praticamente sabatinados por parlamentares de direita como Eduardo Bolsonaro.
Alguns assuntos do passado recente acabaram voltando à tona, como o caso dos navios iranianos que atracaram em portos nacionais mesmo após parlamentares e diplomatas norte-americanos dirigirem críticas ao Ministério da defesa brasileiro.

O comportamento dos chefes militares diante das colocações dos deputados e as suas declarações são importantes dados para quem quer prever os caminhos que serão percorridos pelas Forças Armadas brasileiras no futuro.
Há quem diga que os militares brasileiros podem se tornar semelhantes àqueles que hoje governam a Venezuela apoiados pelo presidente Nicolás Maduro. Outra corrente de pensamento, que destaca que os militares têm uma espécie de política de relações exteriores independente – que não segue a linha assumida pelo governo Lula – defende que os militares do Brasil, pelo menos nas próximas décadas, permanecerão tendo como seus principais aliados os norte-americanos, que rotineiramente recebem brasileiros em seu país para a realização de cursos de aperfeiçoamento em doutrinas militares.
Questionamentos importantes e respostas que dizem muito
A velha escola da esquerda e a possível contaminação das Forças Armadas foi um dos temas citados pelo deputado federal Flávio Bolsonaro ao questionar o Ministro da Defesa
” nada me tira da cabeça que a Esquerda odeia os militares, tanto é que eles veneram o sistema da Venezuela, em que existem algumas centenas de generais, todos indicados por Maduro, e nunca houve qualquer tipo de crítica por parte da Esquerda quanto a essa quebra da hierarquia… O quanto a ideologia da Esquerda, desse pessoal old school de esquerda, contamina as Forças Armadas? Porque receberam o navio iraniano, sancionado por um dos nossos principais parceiros comerciais, os Estados Unidos. Eu não acho que seja uma atitude que siga alguma técnica.”
Ao responder Eduardo Bolsonaro, o Ministro da Defesa José Mucio Monteiro disse que receber os militares iranianos do Brasil foi uma questão de diplomacia
“Nós nos acudimos da diplomacia brasileira para saber se os receberíamos nos portos ou não. A decisão do Chile foi política, mas político-partidária. A nossa foi uma política da diplomacia brasileira, que mantém relações com o Irã. O nosso chanceler disse que era para receber, e foi assim que nós fizemos e não tivemos o menor problema. Foram abastecidos, foram embora, sem criar nenhum dano, nenhuma sequela a nós. Foi isso que aconteceu. O resto são as questões políticas com que os senhores vão nos ajudar.”
O Comandante da Marinha, almirante Olsen, também tocou no assunto e ao complementar a resposta dada pelo Ministro da Defesa o oficial disse que o Brasil não aceita sanções unilaterais.
“Complementando a resposta do Ministro da Defesa especificamente em relação aos navios iranianos, o que foi requerido à Marinha foi tão somente apoio logístico para a atracação dos navios, facilidades portuárias e reabastecimento. E não nos foi evidenciado nenhum ilícito na atracação dos navios. Naturalmente, o Ministério das Relações Exteriores foi parte do processo, e o Ministério das Relações Exteriores disse que se trata de um país com o qual o Brasil mantém relações diplomáticas estáveis há 120 anos. Então, não caberia qualquer tipo de tratamento diferente de outro, ainda que não tenham sido apresentadas as evidências necessárias a uma ação como essa. E, de mais a mais, o Brasil não reconhece sanções unilaterais.”
O almirante Olsen foi mais longe e deixou claro que o Brasil vai exercer a sua soberania e não vai se submeter a qualquer tipo de imposição advinda de outros países, sejam eles parceiros comerciais ou não.
“…é uma questão de exercício efetivo da soberania. O País, como um país soberano — e entendo que foi esse o recado que o Ministro passou —, tem pleno exercício. O navio veio, atracou pelo período determinado, reabasteceu e seguiu viagem. Então, não houve envolvimento de outra natureza, mas apenas isso. É o exercício da soberania. O Brasil não pode se sujeitar, desde que não sejam apresentadas provas — e não foram apresentadas provas — de que o navio tinha armamento ou, enfim, tenha agredido qualquer norma internacional.”