O Exército lançou na última sexta-feira, 18 de agosto, uma campanha ambiental nacional de plantio de árvores. Segundo a propaganda feita no site institucional, as ações reforçariam “o histórico compromisso da Força com o meio ambiente“
Conduzida em todas as organizações militares da instituição, a ação “Uma árvore para cada soldado” visa ao plantio de uma espécie vegetal para cada um dos 213 mil militares que integram o Exército em todas as regiões do país, o que contribuiria para a recuperação da vegetação nativa em todos os biomas brasileiros.
Em Brasília, uma cerimônia conduzida pelo Comando Militar do Planalto foi realizada nas proximidades do Quartel-General do Exército e abriu de forma simbólica a campanha nacional. A ocasião incluiu a plantação de 500 mudas de doze diferentes espécies típicas do bioma Cerrado. A plantação foi efetuada por militares.
Chefe do Departamento de Engenharia e Construção, o general David ressaltou a importância da campanha nacional. “O Exército tem essa ligação com o meio ambiente expressa nos brados, como os de Selva, de Pantanal, de Caatinga. Estamos fortemente ligados com o ambiente”.
“O Exército é um exemplo. Nossos campos de instrução e nossas organizações militares preservam o meio ambiente, conciliando com o treinamento militar. Hoje, temos aqui 500 militares que estão plantando exemplares do nosso ambiente, da nossa flora, em uma área que era antes de aterro. Estamos recuperando uma área que não teria uma nova flora”.
A contraparte dessa iniciativa, a princípio louvável do Exército Brasileiro, está em gestação nas engrenagens do Poder Público, e se chamará Escola de Sargentos do Exército e deve ser materializada em Recife. De acordo com dados do Banco de Projetos para Emendas Parlamentares da Força terrestre, e disponibilizado na Câmara dos Deputados, o valor estimado para implantação e construção da nova ESA é de mais de 3 bilhões de reais.
A Revista Sociedade Militar já publicou matéria sobre esse tema com opiniões esclarecedoras do físico e professor aposentado Heitor Scalambrini Costa. Segundo o professor, o transplante da nova ESA para a mata atlântica nordestina é mais complexo do que o Exército quer fazer parecer e pode trazer consequências sérias para o meio ambiente da região.
A ONG Marco Zero, sediada em Recife, noticiou que se saírem do papel, duas obras previstas para os próximos anos na Região Metropolitana do Recife irão desmatar mais de 336 mil árvores em área de mata atlântica, um dos biomas mais ameaçados do planeta e do qual, no Estado, só restam 15% da cobertura original.
Essa foi uma das conclusões do estudo realizado pelas universidades Federal de Pernambuco (UFPE), Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Federal de Alagoas (Ufal) e o Fórum Socioambiental de Aldeia, organização que reúne moradores e amigos da APA, cujo território se espalha por oito municípios (Abreu e Lima, Araçoiaba, Camaragibe, Igarassu, Paudalho, Paulista, Recife e São Lourenço da Mata)
Um das obras é o Arco Metropolitano, antigo projeto pensado, desde a metade dos anos 2000, como alternativa à saturada BR-101 e com objetivo de ligar a zona da mata norte ao litoral sul. Uma das grandes beneficiadas é a empresa Jeep e seu polo automotivo, já que a via “contribuirá para o aumento da eficiência logística”.
A outra grande instituição que sairia beneficiada com a derrubada de centenas de milhares de árvores da Área de Proteção Ambiental (APA) Aldeia-Beberibe é o Exército Brasileiro e sua nova Escola de Sargentos.
Texto de JB Reis – Revista Sociedade Militar