A China, que é o quarto maior exportador de armas, atrás dos Estados Unidos, Rússia e França, tem exportado armas para mais de 40 países. Segundo artigo publicado no site oficial do Comando Sul dos Estados Unidos, a Revista Diálogo Américas, a qualidade e o desempenho desses equipamentos são problemáticos. O texto se baseia em um relatório da RAND Corporation. A falta de padrões de certificação e problemas técnicos significativos colocam os países compradores em uma situação precária e acabam colocando os combatentes, que manipulam as armas, em situação de risco.
Os casos incluem a Nigéria, Mianmar, Paquistão e Bangladesh, todos enfrentando problemas com equipamentos militares chineses. Alega-se também que a China está vendendo tecnologia atrasada e copiada do Ocidente. No entanto, muitos países ainda optam pela China devido ao baixo custo e condições de financiamento favoráveis.
Veja o artigo publicado em Diálogo Américas em inglês, portugues e espanhol
AGOSTO 01, 2023
Nos últimos anos, a China tem comercializado e exportado armas para mais de 40 países em todo o mundo. No entanto, surge um problema crescente em relação à qualidade, à segurança e ao desempenho desses equipamentos, afirmou em um relatório de junho a organização global de investigação RAND Corporation.
“Muitos países que compram equipamentos militares chineses pela primeira vez estão descobrindo que os padrões de certificação são mais baixos do que no ocidente, onde há padrões de excelência compartilhados pelos países da OTAN, que endossam a certificação de tecnologias”, disse à Diálogo Andrei Serbin, especialista em inteligência geopolítica e diretor do think tank argentino CRIES, em 11 de julho. “A China não tem um sistema que chegue nem perto disso.”
Apesar das promessas iniciais, os equipamentos militares chineses não passam nos testes após a entrega. Isso deixa os países compradores em uma posição precária, sem o nível de segurança esperado e com esgotamento em seus orçamentos militares, afirmou.
A falta de compatibilidade tecnológica com os equipamentos militares chineses tem um custo alto. Os países receptores não têm pessoal capacitado para solucionar problemas e enfrentam dificuldades para obter peças de reposição. As exportações militares chinesas vão principalmente para países em desenvolvimento na Ásia, África e América do Sul.
Equipamentos defeituosos
Em casos específicos, o Exército da Nigéria teve vários problemas técnicos com as aeronaves F-7 fabricadas na China e entregues a partir de 2009. Quase todas as aeronaves foram perdidas em acidentes e, em 2020, das nove restantes, sete tiveram que ser devolvidas à China para manutenção e reparos extensivos, disse RAND.
A maior parte dos caças chineses JF-17 adquiridos em 2022 por Mianmar foi colocada em terra, devido a falhas técnicas graves, incluindo rachaduras estruturais. Essas aeronaves foram consideradas inadequadas para uso pelo Exército de Mianmar, informou a plataforma The Irrawaddy de Mianmar.
Em 2022, o Paquistão, o maior importador de equipamentos militares chineses, expressou seu descontentamento com as fragatas chinesas F-22P que adquiriu. De acordo com o Centro de Estudos de Geopolítica e Relações Internacionais, com sede na Itália, foram descobertas falhas no dispositivo de imagens, no sistema de sensor infravermelho e nos radares dos navios.
A Força Aérea de Bangladesh relatou problemas com o disparo de munições carregadas em sua aeronave K-8W de fabricação chinesa, logo após sua entrega em 2020. Os pedidos repetidos de assistência a Pequim não foram atendidos, observou Eureporter, em março de 2021.
A China demonstra pouco compromisso com a manutenção e o reparo dos equipamentos que vende, forçando alguns países a buscar ajuda de terceiros. Por exemplo, Myanmar se uniu com técnicos paquistaneses para solucionar problemas técnicos do JF-17, que era de responsabilidade da China. Esses atrasos afetam a modernização militar dos países compradores, indicou RAND.
Tecnologia atrasada
“Tudo o que os chineses vendem é tecnologia atrasada que eles copiaram do ocidente”, disse à Diálogo Carlos Sánchez Berzaín, diretor do Instituto Interamericano para a Democracia, com sede em Miami, em 9 de julho. “Não veremos uma iniciativa chinesa no desenvolvimento tecnológico.”
“Pequim não tem seu próprio desenvolvimento tecnológico, porque isso custa muito dinheiro”, disse Sánchez Berzaín. Quando uma nova tecnologia é lançada nos EUA, a China opera rapidamente a retro engenharia e, em poucos meses, estão apresentando sua cópia pirata.
Para muitos países, a opção chinesa é vantajosa por vários motivos, disse Serbin. “Em primeiro lugar, ela não impõe restrições técnicas ou tecnológicas à introdução de novas ciências aplicadas em diferentes regiões, o que dá mais flexibilidade aos países interessados.” Ela oferece produtos de péssima qualidade, mas a preços baixos.
Além disso, a China oferece condições de financiamento favoráveis, o que representa uma vantagem significativa para países que enfrentam crises econômicas e sociais crônicas. “Esse financiamento não é apenas uma decisão econômica, mas também política por parte do governo chinês”, explicou Serbin.
Na América do Sul, o Ministério da Defesa da Argentina está em fase de avaliação para a possível aquisição de 12 caças JF-17 Thunder da China, para substituir os caças Mirage da Força Aérea Argentina, que foram desativados em 2016, informou o jornal argentino La Nación, em 31 de maio.
“A China não considerou os JF-17 em seu arsenal, o que indica que há algo errado com o sistema. Inicialmente, usava um motor russo, mas agora deveria usar um chinês. A China está atrasada em relação aos motores de alto desempenho, portanto, pode haver questionamentos sobre sua tecnologia”, explicou Serbin.
Os aviônicos do JF-17 também “exibem consistentemente um desempenho inferior e têm enfrentado vários problemas operacionais”, informou o Taiwan Times.
Tudo isso “torna particularmente difícil avaliar os equipamentos chineses e a capacidade de garantir a qualidade dos materiais que eles compram”, concluiu Serbin. “Esse problema não deve ser subestimado, pois é fundamental para que um país possa avaliar se o equipamento que está comprando realmente cumpre os requisitos de segurança e eficiência necessários.”
POR JULIETA PELCASTRE/DIÁLOGO – Revista Sociedade Militar