Em tempos de conflito e instabilidade, a criação de corredores humanitários torna-se uma ferramenta vital para aliviar o sofrimento humano. Contudo, na complexa geopolítica do Oriente Médio, o estabelecimento de um corredor humanitário na fronteira sul da Faixa de Gaza apresenta desafios significativos.
Uma das principais preocupações é o medo de infiltração de membros do Hamas entre os refugiados palestinos. Existe uma afinidade ideológica entre o Hamas e a Irmandade Muçulmana, o que agrava as preocupações sobre uma potencial aliança entre eles. Se os membros do Hamas se unissem à Irmandade Muçulmana do Egito, isso não só fortaleceria a oposição ao atual governo egípcio, mas também poderia representar uma ameaça para Israel. Vale lembrar que o Egito mantém alianças cruciais com países ocidentais, cujo apoio é fundamental para sua estabilidade.
No que diz respeito à segurança na Península do Sinai, a Multinational Force and Observers (MFO) foi estabelecida após o tratado de paz entre Egito e Israel no início dos anos 80 para assegurar o que foi acordado no tratado. Composta por militares de mais de 10 nacionalidades diferentes, essa força multinacional desempenha um papel crucial na manutenção da paz na região.
Somente os Estados Unidos, que desempenham um papel destacado na MFO, já empregaram mais de 35.000 militares de sua Guarda Nacional na missão do Sinai, conhecida como Task Force Sinai, desde 2003. Diante dessa complexa configuração, a criação de um corredor humanitário traz à tona preocupações sérias sobre a segurança destas forças internacionais. Além disso, é impossível não olhar para exemplos históricos que reforçam a cautela. Em 2016, a Jordânia fechou suas fronteiras para refugiados sírios após um ataque suicida que vitimou guardas jordanianos.
A administração e distribuição da ajuda humanitária é outro ponto de atenção. Um corredor humanitário envolve mais do que apenas abrir portas; é crucial garantir que a ajuda alcance quem precisa. Com o Hamas potencialmente encarregado da administração da ajuda, surge o questionamento: como assegurar que apenas suprimentos essenciais sejam transportados? A possibilidade de contrabando de armas sob o pretexto de assistência humanitária é uma preocupação válida.
Em conclusão, a urgente necessidade humanitária em Gaza está enraizada em uma rede de desafios geopolíticos e de segurança. Ao buscar soluções, a comunidade internacional precisa ponderar cuidadosamente essas complexidades para oferecer uma resposta eficaz e segura.
(*) A. Caiado
O autor é Brasileiro e serve nos Exército dos EUA, participu de várias missões no Oriente Médio
Revista Sociedade Militar