O papel das mulheres em cenários tradicionalmente dominados por homens, como as forças armadas e forças auxiliares, tem evoluído significativamente. Entretanto, ainda se encontra extremos de resistência às mudanças.
Dentro desse tema chama a atenção uma interessante contraposição entre a vedação do Exército Brasileiro ao uso de mulheres em posições de combate, noticiada em vários jornais nos últimos dias, em contraposição à crescente presença feminina, pouco mencionada na mídia e em trabalhos acadêmicos no Brasil, em colocações “operativas” nos cartéis latino-americanos, destacando um paradoxo intrigante nessa dinâmica de gênero nesses dois ambientes, distintos, mas ao mesmo tempo similares no que diz respeito a sua ligação com armas, violência etc.
Dados da Infobae indicam que mulheres tem assumido posições operativas nos grupos criminosos da Colômbia e Equador. Na Colômbia, diz a plataforma, o número de mulheres privadas de liberdade cresceu significativamente, ultrapassando 400 por cento entre 1991 e 2021, chegando ao número de 6 mil detentas por crimes relacionados ao tráfico de entorpecentes e no Equador, sete de cada 10 mulheres presas enfrentam acusações pelo mesmo tipo de infração.
Yuri Patricia Sánchez, conhecida como La Diabla, presa em 2016, segundo o artigo na Dialogos, faz parte da lista de mulheres que chefiaram ações do narcotráfico na Colômbia. Ela é hoje acusada de desempenhar um papel de destaque nos assassinatos cometidos pelo Clã Úsuga contra membros das forças de segurança colombianas, bem como na obtenção do armamento utilizado, de acordo com o jornal argentino El Clarín e o Dailymail.

Nos cartéis latino-americanos as mulheres estão assumindo papéis cada vez mais proeminentes. De acordo com o relatório do Crisis Group, citado no artigo publicado pela revista militar Diálogo Américas, a inclusão não se limita a funções secundárias; mulheres estão participando ativamente em atividades violentas, incluindo tortura e assassinato, desafiando estereótipos de gênero antigos.
Elas estão subindo para posições de liderança, indicando uma transformação significativa na estrutura dessas organizações criminosas onde de forma natural e “meritocrática” as mulheres acabam ascendendo para posições mais relevantes.
“Como resultado, os traficantes de drogas percebem que as mulheres podem passar desapercebidas mais facilmente, pois são mais observadoras, mais pacientes e evitam a atenção da polícia e dos militares, como menciona Crisis Group. Esses cartéis exploram estereótipos de gênero que reduzem a suspeita de que as mulheres cometam crimes, em comparação com os homens…. Essa mudança no cenário criminal gera estruturas mais complexas e multifacetadas, ligadas a aspectos financeiros, operacionais e de lavagem de dinheiro. Nesse contexto, é fundamental analisar o papel das mulheres em todas as estruturas e operações da área criminal”, comentou Gálvez.”
A Vedação do Exército Brasileiro
O Exército Brasileiro sustenta uma política que exclui as mulheres de certas funções de combate por conta da fisiologia feminina. Esta decisão, apoiada em argumentos biológicos, reflete uma visão considerada bastante tradicional das capacidades femininas em contextos de guerra. A exclusão das mulheres de certos papéis no exército brasileiro levanta questões importantes sobre igualdade de gênero e eficácia militar e têm sido comparadas com a visão de outras Forças Armadas, incluindo as de países como os EUA.
“É necessário reconhecer que a fisiologia feminina, refletida na execução de tarefas específicas na zona de combate, pode comprometer o desempenho militar em operações de combate, dependendo do ambiente operacional”, disse o coronel Sandro Ernesto Gomes, chefe da assessoria jurídica do gabinete do comandante da Força, general Tomás Paiva, em texto publicado na Folha de São Paulo.
Habilidades em operações complexas
A vedação do Exército Brasileiro contrasta fortemente com a realidade nos cartéis latino-americanos. Enquanto as forças armadas brasileiras se apegam a uma visão conservadora das capacidades femininas, os cartéis estão capitalizando as habilidades únicas das mulheres, como sua capacidade de passar despercebidas e habilidades em operações complexas, incluindo a gestão de drones.
Desafio para a Segurança e Inteligência
A crescente participação feminina no crime organizado, segundo apontado na Revista Diálogo Américas, exige uma adaptação nas estratégias de investigação e inteligência. As forças de segurança, incluindo aquelas do Brasil, devem reconhecer e adaptar-se a este fenômeno emergente para combater eficazmente o crime organizado.
Conclusão
Essa comparação entre a vedação do Exército Brasileiro ao uso de mulheres em posições específicas e a ascensão das mulheres nos cartéis latino-americanos, um estudo ainda em fase inicial, ilustra um contraste marcante em como as capacidades femininas são percebidas e utilizadas em diferentes esferas. Enquanto o Exército Brasileiro, instituição estatal e considerada extremamente conservadora, mantém uma postura rígida e avessa à mudanças, os cartéis demonstram uma adaptação e aproveitamento das habilidades femininas para o crime.
O contraste destaca a necessidade de uma reavaliação contínua dos papéis de gênero em todas as esferas da sociedade, incluindo as Forças Armadas.
https://dialogo-americas.com/pt-br/articles/mulheres-assassinas-em-ascensao-nos-carteis-latino-americanos/
https://atarde.com.br/brasil/exercito-defende-veto-a-mulheres-e-alega-fisiologia-feminina-1256120
Revista Sociedade Militar