Uma investigação da Polícia Federal revelou que um amigo e colega de turma do general Eduardo Villas Bôas, o general Luiz Roberto Peret, teria atuado como intermediário para a empresa Verint Systems negociar com o Exército a venda de sistemas de inteligência, incluindo o software First Mile, sob investigação por uso de espionagem pela Agência Brasileira de Inteligência durante o governo Bolsonaro. O contrato milionário, no valor de US$ 10,8 milhões, foi fechado sem licitação durante a gestão de Villas Bôas.
Segundo investigação, o software, chamado First Mile, foi usado pela Abin para monitorar opositores do governo Bolsonaro, juízes, políticos e jornalistas entre 2019 e 2021, durante a gestão do hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
O general Luiz Roberto Peret, que foi contratado pela empresa Verint Systems, fabricante do First Mile, teria atuado como intermediário da venda ao Exército. O contrato, no valor de US$ 10,8 milhões (R$ 52,7 milhões na cotação atual), foi fechado em outubro de 2018, durante a intervenção federal no Rio de Janeiro. O contrato, aliás, é apontado como um caso de desvio de finalidade.
O filho do general Santos Cruz (ex-ministro da Secretaria de Governo durane o governo Bolsonaro), Caio Santos Cruz, disse à PF que o general Peret atuou como “assessor técnico” da Verint Systems na negociação com o Exército. “Ele é um general de confiança do general Villas Bôas”, disse Caio Santos Cruz.
Caio Santos Cruz afirmou ainda que o software foi adquirido pelo Exército brasileiro a fim de atender as necessidades de segurança dos grandes eventos, especialmente Olimpíadas. “Que o Exército brasileiro aproveitou para renovar o produto por conta do Plano Rio”, disse Caio Santos Cruz.
O contrato, a propósito, foi fechado sem licitação, o que é permitido pela lei em casos de emergência ou de necessidade urgente. No entanto, a área técnica do TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu que o contrato pode configurar “desvio de finalidade”, pois teria sido contratado o desenvolvimento de sistema para a União, que, a seu critério, poderá ou não compartilhar as informações com o Rio de Janeiro.
A Polícia Federal investiga a compra do First Mile pelo Exército. A Abin também é investigada por uso indevido do software.
Fonte: Folha de São Paulo