O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, revelou detalhes sobre a demissão do ex-comandante do Exército, general Júlio Cesar Arruda, em entrevista ao jornal O Globo, no segundo dia da série de entrevistas sobre os eventos ocorridos no 8 de janeiro.
De acordo com o ministro, não era apenas a marcha dos manifestantes rumo à Praça dos Três Poderes que causava preocupação.
Um outro fator contribuiu para a tensão: surgiram notícias de que o tenente-coronel Mauro Cid, anteriormente preso por atos de insubordinação durante o governo de Jair Bolsonaro, estava em processo de reintegração ao Exército.
José Múcio Monteiro explicou que, inicialmente, o clima de confiança no governo foi abalado após a posse do presidente em 1º de janeiro. O comandante do Exército na época expressou o desejo de sair no dia 20 de dezembro, mas antecipou sua partida para 30, atendendo a um pedido do ministro da Defesa.
No entanto, no dia 20 de janeiro, já com o General Júlio Cesar Arruda no comando da força, surgiram notícias sobre o retorno do tenente-coronel Mauro Cid, gerando tensões devido a uma promoção planejada para ele em uma base importante do Exército. Diante desse cenário, Múcio Monteiro telefonou para o General solicitando sua presença no Ministério da Defesa. Na conversa, o ministro explicou a necessidade de substituir o comandante para reconstruir o clima de confiança.
No sábado, 21, o presidente me ligou às 6h30, contrariado. Desliguei o telefone e disse para minha mulher: “Isso tem que ser resolvido hoje”. Liguei para o comandante do Exército e pedi que fosse ao Ministério da Defesa. Então, falei que eu preciso do lugar dele. Ele respondeu: “O senhor está lembrando que me nomeou há 20 dias?” Eu disse: “Estou, mas a gente precisa recomeçar a construir o clima de confiança, o que passa por colocar uma pessoa no seu lugar”, disse o ministro.
A demissão do general Arruda foi considerada um duro golpe para os militares, que já estavam sob pressão após os ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro.