Essa semana o país relembra os 60 anos do início do governo militar. Clubes militares realizam eventos discretos, a última nota oficial do Clube Militar saiu um tanto quanto amenizada, mesclada com menções à segunda guerra mundial e até uma nota apócrifa, batizada como “ordem da noite” circula em redes sociais de militares das Forças Armadas. Entretanto, para desgosto e desalento de políticos e militantes mais radicais, o atual presidente – Luis Inácio Lula – parece não ter o desejo de acirrar os ânimos.
O discurso de Lula realizado no Complexo Naval da Marinha em Itaguaí, logo após o batismo feito pela primeira dama, foi permeado por frases que agradam as cúpulas das três Forças Armadas. O presidente se dispôs ainda a uma homenagem particular para Alfredo Karan, último Ministro da Marinha do Brasil no governo militar, o que agradou bastante os oficiais generais presentes. O almirante teve lugar especial na cerimônia e não se sentou no auditório junto dos outros almirantes de esquadra da reserva, como Leal Ferreira e outros.

O almirante Karam nasceu em 28 de março de 1925 e completa – portanto – 99 anos de idade nessa quinta – feira, 28 de março de 2024. O oficial é conhecido pela franqueza, como quando em1984 cobrou um jornalista do JB sobre menções à Marinha do Brasil: “Por que é que vocês só destacam os feitos do Exército na 2ª Guerra, na Marinha também morreu gente…”. O militar foi um dos primeiros a defender a aquisição de um submarino nuclear pelo Brasil.
O ministro que antecedeu Alfredo Karam na Marinha foi Maximiliano da Fonseca, que acabou exonerado pelo presidente João Batista Figueiredo, por ser considerado muito tolerante em relação às manifestações por eleições diretas, que ocorriam na época.
“Enquanto não houver bagunça ou baderna, está bem que o povo se manifeste”, foi a frase dita por Maximiano da Fonseca que gerou a manchete no Jornal do Brasil de 17 de março de 1984: “Maximiano diz que os militares não se opõem aos comícios”. Alfredo Karam, mais alinhado e menos político, o substituiu após alguns dias.
Uma nota sobre o almiranre Karam, no Jornal do Brasil de 20 de março de 1984, diz muito sobre seu perfil: “… um repórter ainda tentou uma declaração sobre eleições diretas. Karan empertigou-se e respondeu com solenidade, ‘Eu não respondo a essas perguntas, cavalheiro. Prefiro aguardar as orientações do meu chefe’. Quando outro jornalista perguntou por seu candidato favorito à sucessão do Presidente Figueiredo, o novo Ministro foi rápido, ‘Meu candidato será o que o PDS indicar, seguindo as ordens do Presidente’.”
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Robson Augusto – Revista Sociedade Militar