Um estudo da USP (Universidade de São Paulo) concluiu que não há evidência de que escolas cívico-militares gerem melhores resultados para o processo educacional e disciplinar dos alunos.
Catarina Segatto, professora do Departamento de Ciências Políticas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e pesquisadora, concedeu entrevista ao jornal USP no último dia 3 de novembro para falar sobre o trabalho.
Para embasar o estudo, a professora analisou toda a agenda educacional do governo Bolsonaro, importante propagador do modelo.
De acordo com Catarina, uma das principais constatações da pesquisa foi o enfraquecimento da coordenação nacional nas políticas educacionais. Esse processo teria sido significativamente reduzido durante o mandato do ex-presidente, refletindo na educação e em áreas como a saúde.
Segundo a especialista, a pesquisa revelou uma retirada notável de discussões sobre inclusão e diversidade da agenda educacional, como os direitos de grupos indígenas, quilombolas, pessoas negras e pardas, assim como questões relacionadas a gênero e direitos sexuais e reprodutivos.
Sobre as escolas cívico-militares, especificamente, a professora apontou que fatores como a seleção socioeconômica dos alunos e a trajetória escolar anterior podem ter um impacto mais significativo nos resultados educacionais do que a própria gestão militar.
Segundo Catarina, é importante que haja articulação entre a gestão escolar e os objetivos pedagógicos, já que a integração eficaz desses fatores é fundamental para alcançar melhores resultados de aprendizagem.
Ela afirma ainda que evidências acumuladas ao longo de décadas de pesquisa educacional sugerem que a combinação de uma gestão escolar eficaz com uma abordagem pedagógica bem planejada é mais produtiva do que mudanças radicais no modelo de administração.
Recentemente, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes deu um prazo de 5 dias para a PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentar parecer em ação contra o governo de São Paulo por suposta inconstitucionalidade da lei que instituiu o programa de escolas cívico-militares. O prazo vence no dia 7 de setembro.