Portal Chinês dá como certa a rejeição do Brasil à Rota da Seda e abala planos de Xi Jinping
Em uma reviravolta que surpreende os planos da China, o Brasil escolheu não aderir formalmente à Nova Rota da Seda, também conhecida como Belt and Road Initiative (BRI), promovida por Pequim. A confirmação veio de Celso Amorim, assessor especial da presidência para assuntos internacionais, que afirmou que o país busca uma parceria mais flexível com investidores chineses sem a necessidade de firmar um tratado de adesão. O portal chinês South China Morning Post deu a notícia como certa, destacando que a decisão pegou o governo de Xi Jinping de surpresa, dado que a adesão do Brasil era esperada como um dos pontos principais da visita de Estado do presidente chinês ao país em novembro.
Busca por parcerias estratégicas
Segundo Amorim, o Brasil quer elevar a cooperação com a China sem comprometer-se rigidamente com o projeto BRI. “Não estamos entrando em um tratado”, afirmou ele, destacando que o Brasil não pretende transformar os projetos chineses de infraestrutura e comércio em uma espécie de “apólice de seguro”. A ideia, segundo o assessor, é aproveitar parte da estrutura da BRI para identificar sinergias entre as iniciativas de infraestrutura brasileiras e os fundos de investimento da China.
A decisão reflete a cautela do governo brasileiro, que vê nos investimentos chineses uma oportunidade, mas também quer evitar possíveis impactos negativos na indústria nacional. Especialistas como Giorgio Prodi, da Universidade de Ferrara, apontam que a experiência europeia, especialmente na Itália, mostra que a adesão à BRI pode beneficiar mais a China do que seus parceiros, com aumento das importações chinesas e exportações limitadas. Segundo relata o site A Referência, o professor sugere que a parceria com Pequim deve ser cuidadosamente avaliada, principalmente para proteger setores estratégicos brasileiros.
Rivalidade geopolítica e pressões dos EUA
O cenário da possível adesão do Brasil à Nova Rota da Seda ganhou atenção também nos Estados Unidos. Katherine Tai, representante comercial dos EUA, visitou recentemente São Paulo e destacou os “riscos” de uma aproximação maior com a China, incentivando o Brasil a avaliar sua estratégia econômica com “gestão de risco”. A fala incomodou Pequim, que a classificou como “irresponsável e desrespeitosa”, segundo o South China Morning Post, em resposta direta à posição norte-americana.
Riscos políticos e econômicos na Rota da Seda
Para analistas, os benefícios financeiros da BRI podem ser sedutores, mas trazem desafios importantes. Em maio de 2024, o Valor Econômico informou que Laura Richardson, general do Comando Sul dos EUA, apontou que, apesar das promessas iniciais de investimento rápido em infraestrutura, a BRI impõe condições restritivas que, a longo prazo, afetam a soberania dos países caso os empréstimos não sejam pagos.
A diretora Elaine Dezenski, do think tank Fundação para a Defesa das Democracias, compartilha da opinião de Richardson e aponta que as cláusulas da BRI podem se tornar pesadas, além de limitar a autonomia dos países participantes, conforme relata o site A Referência.
A postura cautelosa do Brasil, reforçada pela decisão anunciada por Amorim, indica que o governo busca alternativas para fortalecer o relacionamento com a China, mas sem um compromisso formal com o projeto da Nova Rota da Seda. O presidente chinês Xi Jinping estará no Rio de Janeiro em novembro para a cúpula do G20, mas, ao que tudo indica, o foco da reunião deverá ser ajustado diante da desistência brasileira.