O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está considerando editar um novo decreto para realizar uma operação de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) no Rio de Janeiro, durante a cúpula do G20 em novembro. Se Lula decretar nova GLO, o objetivo é que militares reforcem a segurança ao redor do local onde acontecerá a cúpula com chefes de Estado das nações mais ricas do mundo, como Estados Unidos e China.
A possibilidade de uma nova operação de GLO no Rio de Janeiro foi inicialmente noticiada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha de SP.
O Brasil passou a ocupar a presidência do G20 em 2024. Assim, a cúpula dos chefes de Estado do bloco ocorrerá nos dias 18 e 19 de novembro no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Líderes mundiais como Xi Jinping, Joe Biden e Emmanuel Macron estarão presentes.
LULA INDECISO QUANTO À GLO
Conforme fontes jornalísticas, um integrante do governo envolvido nas tratativas afirmou que a possibilidade de uma GLO está em discussão, mas ainda não há uma decisão final.
Se Lula decretar nova GLO, a operação deve ter alguns limites, e não haveria uma intervenção maior. No Palácio do Planalto, o tema está em estágio de “consulta informal” dentro do governo.
Já em junho deste ano, o governo Lula decidiu encerrar a operação de GLO em portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Os militares da Marinha e da Aeronáutica deixaram as funções desempenhadas nos últimos sete meses. A partir dali, a Polícia Federal e a Receita Federal retomaram o comando das ações de segurança pública e alfandegárias.
MILITARES NA FAVELA
As Forças Armadas atuavam desde novembro de 2023 nos portos do Rio de Janeiro, Itaguaí (RJ) e Santos (SP) e nos aeroportos de Guarulhos (SP) e Galeão (RJ). A missão foi combater a logística de facções criminosas no envio e recebimento de drogas.
Na época da assinatura do decreto, o cenário no Rio de Janeiro era de conflito. Milicianos e traficantes transformavam a zona oeste da cidade num campo de guerra.
A decretação da GLO ocorreu com Flávio Dino à frente do Ministério da Justiça. Ricardo Lewandowski o substituiu no início deste ano.
O presidente Lula foi convencido a decretar uma intervenção delimitada no ano passado. Isso aconteceu mesmo após declarar que não autorizaria operações de GLO em seu terceiro mandato. Lula afirmou que não queria militares na favela “brigando com bandido”.
O INIMIGO INTERNO
O anticomunismo entre os militares brasileiros é um fenômeno enraizado na história política do país, especialmente desde a ditadura militar, que começou em 1964.
Os militares, em sua grande parte, veem o comunismo como um inimigo ideológico, que busca desestabilizar as estruturas sociais e políticas estabelecidas.
Aliás, a Revolução de 1964, que depôs o presidente João Goulart, de acordo com os militares, foi uma ação necessária para combater a “ameaça comunista”.
Para o cientista político e professor da Unicamp André Kaysel, “uma das possíveis chaves de interpretação é que o anticomunismo fornece um ponto de unificação das direitas na sua heterogeneidade”.
Segundo Kaysel, se “observarmos todos os documentos e pronunciamentos do Instituto Sagres, o Projeto de Nação, as falas do [general Eduardo] Villas Bôas e dos militares, não só os da reserva, mas os da ativa e do governo”, há uma ideia chave.
E SE LULA DECRETAR NOVA GLO?
Essa ideia é a ideia do “inimigo interno, que é um elemento chave da Doutrina de Segurança Nacional muito associado ao anticomunismo”. Essa ideia “permeia esses discursos o tempo todo”.
Ainda, de acordo com Kaysel, para os militares, “o inimigo está dentro, o inimigo é a esquerda, o inimigo são os movimentos sociais, novos e velhos. O inimigo é a própria democracia.”
Porém, o que é mais desconcertante é que “comunista” tornou-se qualquer líder político que não se encaixe na visão de mundo apregoada pela maior parte dos militares – principalmente os de mais alta patente.
Se Lula decretar nova GLO (operação de Garantia da Lei e da Ordem), desta vez os militares não terão nenhum poder de intervenção. A operação será meramente de complementar as atividades de proteção e segurança dos dignitários internacionais que participarão do G20.
Em última instância, generais, almirantes e brigadeiros farão papel de guarda-costas de líderes (previamente rotulados de “comunistas”) como Xi Jinping, Joe Biden e Emmanuel Macron.