Longe de ser aquilo que poderia-se chamar de privilegiados, os militares são uma categoria gigantesca que normalmente permanece por anos seguidos sem a chamada reposição inflacionária. Desde o governo Dilma, a base da cadeia hierárquica — composta por tenentes, suboficiais, sargentos, cabos e soldados — enfrentam uma expressiva perda de poder aquisitivo devido à falta de reajustes salariais que acompanhem a inflação. O último aumento destinado a corrigir as perdas foi estabelecido pela Lei 13.321, de 27 de julho de 2016, que concedeu cerca de 27% de reajuste, que já não repôs o total corroido pela inflação dos anos anteriores e foi dividido em quatro parcelas.
As perdas desde 2016
De fevereiro de 2016 a dezembro de 2024, a inflação corroeu significativamente os salários dos militares. De acordo com cálculos realizados pela Revista Sociedade Militar, utilizando dados do próprio IBGE, uma reposição salarial justa para os militares e pensionistas das Forças Armadas deveria estar em torno de 54%. O peso da inflação é menos sentido por quem ocupa lugares na cúpula, como os oficiais generais de 2, 3 e 4 estrelas, que em 2019 foram contemplados com aumentos nos valores recebidos por cursos realizados e recebem indenizações por cargo de comando e funções comissionadas.
Segundo a tabela acima, um militar da base das Forças Armadas, na ativa ou na reserva, que recebia como valor líquido R$ 2 mil reais mensais em fevereiro de 2016, deveria estar recebendo em outubro de 2024 o valor de R$ 3.080,00. Para ilustrar as perdas dos militares pode-se usar o salário mínimo, que em 2016 era de R$ 880 e foi corrigido até janeiro de 2024 em cerca de 60%. Hoje o valor é de R$ 1.412,00.
A situação chegou ao ponto de a Força Aérea Brasileira ter publicado em sua revista oficial um artigo com o objetivo de orientar a tropa sobre como sobreviver com a inflação corroendo os salários. No texto a força sugere que os militares façam uma “analogia contábil”, se comportando como se fossem uma empresa. Segundo a orientação divulgada, o método vai “facilitar as finanças pessoais”.
Esperança de reajuste salarial
Nos últimos meses a categoria alimenta a esperança de que ocorra um reajuste de pelo menos 9% dividido em duas parcelas, o que não cobriria as perdas dos últimos anos. Entretanto, o governo não confirmou as informações que tem sido veiculadas pela imprensa e – ao contrário disso – apresentou um projeto que acaba aumentando o deficit salarial, com um aumento nos descontos para os fundos de saúde do Exército, Marinha e Força Aérea.
Militares de baixa patente tentam de alguma forma influenciar no debate se encontrando com parlamentares e dando entrevistas sobre o tema. Recentemente o deputado sargento Portugal recebeu membros da categoria e a esperança é que a bancada da segurança pública se oponha ao pacote apresentado por Hadaad nos pontos em que atinge as Forças Armadas.
Robson Augusto, Revista Sociedade Militar